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Em cenário atual, risco de crédito mais caro cresce

Em cenário atual, risco de crédito mais caro cresce

Em sintonia com a manutenção da Selic em seu nível mais baixo, os juros dos financiamentos bancários emendaram a oitava retração seguida, em novembro. A retração se deu em todas as linhas de crédito, tanto para pessoas físicas, quanto jurídicas, conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). O recuo ocorreu em paralelo com a queda na taxa de inadimplência nos bancos e em trajetória contrária à ascensão no volume de empréstimos no Amazonas, segundo o Banco Central. 

Assim como nos meses anteriores, a Anefac, reforça que as condições econômicas para a manutenção do custo do dinheiro em patamares cadentes na ponta do consumo estão se deteriorando e já devem sofrer refluxo no começo de 2021. O galope do endividamento público e as dúvidas sobre a capacidade de a economia andar com as próprias pernas sem políticas anticíclicas contribuem para as incertezas, assim como a piora dos números da pandemia. 

A conclusão da entidade é que a aversão dos bancos ao risco tende a subir e suas restrições ficarem mais rígidas. Economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio concordam que os efeitos do repique inflacionário devem influenciar um novo reajuste da Selic nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) do primeiro trimestre de 2021, mas ressalvam que seus efeitos devem demorar a chegar no mercado.  

As estatísticas da Anefac informam que os juros para pessoas físicas retrocederam 0,54%, de 5,54% (outubro) para 5,51% (novembro) ao mês – o menor valor desde julho de 2013. O decréscimo para as pessoas jurídicas foi bem maior e chegou a 1,05%, reposicionando o custo do empréstimo de 2,86% para 2,83% mensais – o patamar mais baixo da série histórica. As respectivas taxas anuais ficaram em 90,34% e 39,78%. 

Por enquanto, o saldo das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional no Amazonas) é crescente, segundo o Banco Central. Para pessoas físicas, novembro (R$ 19,742 bilhões) foi 2,38% melhor do que outubro (R$ 19,283 bilhões) e 12,25% superior ao dado de 12 meses antes (R$ 17,587 bilhões). Para as jurídicas, o volume (R$ 15,154 bilhões) cresceu 3,45% sobre o mês anterior (R$ 14,649 bilhões) e subiu 33,50% em relação a novembro de 2019 (R$ 11,351 bilhões).

A mesma base de dados do BC indica que a inadimplência nas operações de crédito no SFN ainda é descendente no Amazonas. A taxa das pessoas físicas apresentou seu sexto recuo mensal seguido, entre outubro (3,40%) e novembro (3,36%) e também ficou abaixo da marca do mesmo mês de 2019 (3,76%). No caso das pessoas jurídicas, passou de 0,98% para 0,89% – após o repique de outubro – e corresponde a menos da metade do nível de 12 meses atrás (2,50%). 

Compulsórios e inadimplência

Diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reafirmou, no texto distribuído pela assessoria de imprensa da entidade, que a rebaixa nos juros se deve aos seguidos cortes da Selic, redução dos depósitos compulsórios, operações de crédito com juros baixos e aportes do governo para pagamento das folhas das empresas pequenas e médias. A lista inclui também a renegociação de dívidas com remunerações menores e o cuidado dos bancos em não agravar ainda mais o quadro de inadimplência e solvência dos tomadores.

Oliveira, que também é o responsável pela sondagem, reforça que o horizonte para juros baixos continua fechando, em decorrência da piora do cenário econômico, com maior risco de crédito e da elevação da inadimplência. A tendência, segundo o dirigente, ainda é de repique. “Mas algumas ações do BC podem amenizar estas altas, como redução de impostos, compulsórios e reduções da Selic e por aí vai”, encurtou. Em sua reunião mais recente, o Copom manteve novamente a Selic em 2% ao ano – o nível mais baixo até hoje –, mas não sinalizou haver espaços para mais cortes.

Vacina e normalização

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas), Marcus Evangelista, lembra que as linhas emergenciais fizeram a diferença em 2020 para pessoas físicas e jurídicas, ajudando a afastar o fantasma de uma depressão, no curto prazo. “Além de potencializar o poder de compra da população, o auxilio emergencial facilitou o pagamento das dívidas. Na parte empresarial, tivemos vários bilhões contratados através das linhas federais de crédito, com destaque para o Pronampe, com taxas muito abaixo das praticadas no mercado e carências longas”, listou. 

O economista pondera que, apesar da quantidade de recursos injetados, o ano está acabando com “milhares de empresas” que não tiveram acesso à esse crédito, pelo fato de se encontrarem com restrições no Serasa e SPC. Mesmo assim, avalia que a taxa básica de juros não deve sofrer movimento significativo tão cedo, contribuindo para que 2021 seja um ano aquecido em torno de operações financeiras e da economia em geral. 

“Apesar da pandemia, alguns setores, como o de alimentação, tiveram aquecimento e bateram recordes de vendas. Como tivemos um acréscimo na demanda, faltaram insumos e vieram os aumentos, pois a oferta foi menor. Com o advento da vacina, teremos uma tendência de normalização da economia, com uma recuperação no médio prazo e maior volume de contratações no novo ano. A Selic deve se manter estável ou com leve elevação, mas sem grande impacto nas taxas de juros praticadas”, concluiu.

“Efeitos de mercado”

Já o presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Junior, lembra que há projeções de alta dos juros já para o começo de 2021, para tentar domar a inflação decorrente da apreciação do câmbio. O economista concorda, no entanto, que os efeitos de uma eventual mudança de rota devem demorar para serem repassados ao tomador de empréstimos, dado o impacto do aumento de oferta pelas fintechs no mercado e à própria dinâmica da crise da covid-19. 

“Somente vendo esse comportamento da alta dos juros e da inflação, que deve chegar ao teto da meta, ou passar. Mas, tudo vai depender dos efeitos de mercado. Provavelmente, o fato de o mercado não estar totalmente aquecido, e o próprio fato da concorrência – que é um dos preceitos do ministro Paulo Guedes – devem fazer demorar o repasse dos juros para as concessões de crédito. tudo vai depender do comportamento do próprio”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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