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Ela luta a luta delas

Estava em dúvida sobre o que escrever já que estamos na semana do dia da mulher. E apesar de parecer que muito pode ser falado, este espaço não é o suficiente para enumerar todos os pontos que precisamos evoluir para criar uma sociedade realmente justa e igualitária.

Se for parar para pensar, coisas pequenas me chocam em pleno século 21, como ir a uma loja no shopping ou ao supermercado e encontrar “promoções” de eletrodomésticos, panelas e utensílios que colocam a mulher no mesmo papel que ela era obrigada a representar em um passado não tão distante. Aquele pensamento machista de que sua única função é manter a casa limpa e a comida na mesa para quando o “maridão” chegar em casa se sentir mimado, é depreciativo e revoltante. Este quadro é apenas uma fração do problema, em proporções maiores isso diz muito sobre a nossa sociedade e o porque de ser tão pouco o espaço conquistado pelas mulheres.

Quase metade dos lares brasileiros são sustentado por mulheres.

Em matéria publicada no jornal Estado de Minas, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, principalmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. “As mulheres ocupam um espaço cada vez maior do mercado de trabalho e vêm alcançando maiores remunerações, apesar de a desigualdade salarial entre gêneros ainda persistir. Por isso, contribuem cada vez mais com a renda das famílias”, explicou a pesquisadora do Ipea, Luana Simões. Há alguns anos atrás, a maior parte das mulheres que eram chefes de domicílio estavam nessa posição basicamente porque haviam se separado do marido e, por isso, foram forçadas a assumir o comando da casa. Hoje, quase metade dessas mulheres é chefe de família mesmo vivendo com o companheiro, afirmou Luana.

E falando sobre isso eu gostaria de trazer mais alguns dados:

  • As empresas abertas por necessidade de uma nova renda é maior entre as mulheres do que entre os homens: 44% contra 32%;
  • A idade média das mulheres que são donas do próprio negócio é inferior à idade dos homens: 43,8 anos contra 45,3 anos;
  • As mulheres empreendedoras possuem escolaridade 16% superior à escolaridade dos empreendedores homens;
  • Os rendimentos das mulheres empreendedoras são 22% inferiores ao dos homens donos de negócio;
  • 25% das mulheres empreendedoras exercem suas atividades econômicas no próprio domicílio;
  • 86,5% dos empreendimentos conduzidas por mulheres apresentam porte menor, com nenhum funcionário contratado;
  • As empreendedoras pedem empréstimo nos bancos com menor frequência do que os homens empreendedores;
  • O valor médio tomado nos empréstimos por elas é inferior ao valor médio tomado por eles: R$ 67.492,00 contra R$ 80.563,00;
  • As taxas de juros cobradas das mulheres são superiores às taxas de juros cobradas dos homens: 34,6% contra 31,1%;
  • Já a taxa de inadimplência entre as mulheres empreendedoras é inferior à taxa dos homens: 3,7% contra 4,2%;

Não tem como analisar essas informações e não sentir no coração a diferença. E com dados como esses, ainda somos surpreendidas com um estudo realizado pelo Sebrae, que diz que o rendimento médio de mulheres empreendedoras é superado em todos os níveis de escolaridade pelo dos homens, e ainda assim, elas recebem menos. Enquanto homens recebem média de R$ 5.228,00, as mulheres ganham R$ 3.840,00, mostrando uma superioridade de 36% para o sexo masculino no ensino superior. No ensino médio, a diferença é a maior dentre todas as faixas, com 53%, onde eles recebem cerca de R$ 2.421,00 e elas R$ 1586,00. Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, as questões culturais são encaradas como um dos principais desafios para mulheres no ambiente dos negócios.

“Quando homens e mulheres superarem as crenças limitantes e os estereótipos culturais, equiparando responsabilidades em casa e na empresa, as empreendedoras terão mais chances de prosperar não só nas empresas, mas em suas vidas em sociedade”, destacou.

Eu fico pensando quantas dessas pessoas que dão entrevistas falando sobre a solução do problema, estão de fato fazendo algo para que a gente consiga igualar o papel da mulher na sociedade. De acordo com a presidente da Schneider Electric da América Latina, Tânia Cosentino, precisaríamos de 100 anos para que exista o mesmo número de homens e de mulheres em todos os níveis das companhias sem gap salarial.

Você faz ideia do que são 100 anos? A gente fala muito sobre isso, mas, na real ninguém tem noção do quanto esta enraizado na nossa sociedade, na nossa cultura, a ideia de que a mulher ainda está aqui para servir, para cuidar e unir a família, consertar o homem e ser o equilíbrio do lar. É claro que a mulher possui características muito fortes para “herdar” esse papel, porém este pensamento tem custado muito caro.

Vamos fazer uma lista das coisas que a gente precisa lidar?

Enquanto a mulher ganha menos que os homens, ela também gasta mais, levando em consideração que a mulher costuma ser ligada em detalhes que o homem não, e isto serve para cuidados pessoais, como coisas para o seu bem estar pessoal, os filhos e para o lar. Elas também possuem um perfil conservador e algumas inseguranças na hora de lidar com o dinheiro, deixando muitas vezes a decisão das finanças nas mãos do marido ou namorado.

As mulheres conquistaram a independência financeira muito depois dos homens, com isso, ainda existe um longo processo de educação financeira e de consciência do seu papel ao lidar com o dinheiro. Para Denise Damiani, especialista em finanças femininas e autora do livro “Ganhar, Gastar, Investir”, além do processo histórico, fazem parte desta desigualdade os padrões culturais que colocam os homens sob a figura de provedores, deixando a relação deles com as finanças muito mais natural. Já para as mulheres, além de ser tudo muito novo, ainda lidam com outra influência na hora de falar das finanças: as características comportamentais que podem atrapalhar os investimentos em ações. “As mulheres se preocupam mais com a segurança da família e dos filhos. Outro desafio é a ausência de informações de educação financeira que considerem o perfil emocional de cada mulher”, aponta Denise.
Se observarmos todos esses dados, fica fácil compreender porque apenas 5% das mulheres no mundo são CEO, ou porque apenas 25% das mulheres investem em ações.

A Harvard Business Review atualizou um estudo sobre liderança e gênero e o resultado mostrou que as mulheres se saíram bem melhor que os homens no quesito liderança e os países que tiveram o melhor enfretamento da pandemia da covid-19 são comandados por mulheres. A mulher já traz de nascença, a necessidade de provar a si mesma e a sociedade que ela é capaz e é exatamente isso que tem trazido mudanças significativas. Hoje, somente 43% das mulheres participam no mercado de trabalho, enquanto este indicador para os homens é em torno de 78%. São 25 pontos percentuais de diferença, mas levando em consideração que a mulher conquistou o direito de trabalhar há um pouco mais de 100 anos, estamos dominando o mundo muito mais rápido que os homens. Whatch Out, Boys!

Foto/Destaque: Divulgação

Raquel Omena

é especialista em negócios digitais, editora da coluna Mais Empresárias
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