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Economia do Amazonas desaba na prévia do PIB de julho

Na contramão da média nacional, a prévia do PIB do Amazonas desabou em julho, após a aceleração anterior, na série com ajuste sazonal. Tradicionalmente mais fraco do que junho, o mês registrou declínio de 4,31% na variação mensal, no pior tombo desde janeiro (-10,64%) –auge da segunda onda de Covid-19 no Estado. Em relação ao mesmo mês de 2020, período de ensaio de retomada do pós-primeira onda, praticamente empatou (+0,22%). No acumulado do ano, a economia do Estado ainda se manteve no azul e subiu 8,44%, sendo fortalecida por uma base fraca de comparação.

O índice registrou 169,09 pontos no Amazonas, em julho, após o recorde de junho de 2021 (176,71 pontos). Foi o pior resultado desde março (168,08 pontos) –período de reabertura do comércio local –, na série histórica do BC com ajuste sazonal. O Estado aparece com alta de 3,14%, na média móvel trimestral, sendo inflado por uma base de comparação depreciada pela segunda onda. O PIB anualizado se manteve em terreno positivo (+6,58%). Vale notar que as duas últimas comparações costumam ser apontadas por especialistas como a melhor forma de captar tendências.

Os dados são do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). Com a nova oscilação, o Estado ficou atrás da economia brasileira nas variações mensal e anual. Em âmbito nacional, o indicador apontou acréscimo de 0,60% entre junho e julho, em resultado acima do esperado pelo mercado. Também foram registradas altas na comparação com julho de 2020 (+5,53%) e no acumulado dos sete meses iniciais deste ano (+6,80%). O indicador ficou praticamente estagnado (-0,02%) na média móvel trimestral encerrada no sétimo mês de 2021, mas ainda conseguiu crescer 3,26%, no aglutinado de 12 meses.

O IBC-Br é um indicador criado para tentar antecipar o resultado do PIB e ajudar a autoridade monetária na definição da taxa Selic. Visto pelo mercado como uma antecipação do resultado do PIB, o indicador do Banco Central também é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica e ajuda a autoridade monetária a decidir sobre a taxa básica de juros, além de ajudar investidores e empresas a adotarem medidas de curto prazo. A metodologia é diferente da empregada pelo IBGE, que calcula o PIB brasileiro –e cuja próxima divulgação nacional está prevista para o dia 2 de dezembro.

Setores e arrecadação

O cálculo do IBC-Br leva em conta estimativas para indústria, comércio, serviços e agropecuária, acrescidas dos impostos. Mas, sua divulgação não inclui o desempenho de cada rubrica. Em sintonia com a depreciação do indicador do BC, números do IBGE apontaram resultados negativos para indústria e comércio, contrastando com um novo positivo para serviços. Em paralelo, as arrecadações tributárias da Sefaz (Secretaria de Estado da Fazenda) e da Receita Federal encerraram o mês com alta em todas as comparações.

A produção industrial do Estado retrocedeu 14,4%, na virada de junho para julho, em desempenho significativamente pior do que o do mês anterior (+6,7%), quando chegou a figurar no pódio do ranking nacional. Houve decréscimo de 8,1% também em relação ao mesmo mês de 2020, período em que a indústria amazonense já ensaiava sua retomada pós-primeira onda. Apesar do cenário de queda, o setor conseguiu permanecer no azul nos acumulados do ano (+20,8%) e dos 12 últimos meses (+14,9%). 

O comércio amazonense seguiu na contramão da média nacional e recuou 1,5%, na variação mensal. Foi o segundo declínio seguido, após o tropeço de junho (-0,5%) –que havia sido precedido pelas elevações sucessivas de maio, abril, março e fevereiro. Em relação ao resultado de julho do ano passado, o varejo local sofreu decréscimo reforçado de 9,5% no volume de vendas. O acumulado do ano seguiu no campo positivo (+4,3%), assim como o aglutinado de 12 meses (+8,2%), mas seguem sendo erodidos. 

Já o setor de serviços do Amazonas emendou um terceiro mês de crescimento, em julho, ao avançar 2,1%, entre junho e julho de 2021, em trajetória menos forte do que a do levantamento anterior (+4,5%). No confronto com o mesmo mês do ano passado, houve elevação de 21,6%, número pouco acima do comparativo precedente (+20,9%). Foi o suficiente para segurar a atividade no campo positivo nos acumulados do ano (+15,1%) e de 12 meses (+10%). 

Os números da Sefaz indicam que o recolhimento estadual acelerou em julho (R$ 1,30 bilhão), ao subir 11,11% nominais ante junho de 2021 (R$ 1,17 bilhão). O confronto com julho do ano passado (R$ 938,07 milhões) rendeu elevação de 38,63%, encorpando o acumulado do ano (R$ 7,90 bilhões) em 23,24%. Já a arrecadação federal cresceu pelo segundo mês consecutivo em junho (R$ 1,89 bilhão), em preços correntes, subindo 21,93% na variação mensal e decolando 37,96% sobre a marca de 12 meses atrás (R$ 1,37 bilhão). Em sete meses, os cofres da União recolheram R$ 11,24 bilhões, uma diferença de 37,41% ante igual intervalo de 2020 (R$ 8,18 bilhões).

Tempestade perfeita

O economista, consultor empresarial, e presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Martinho Luiz Gonçalves Azevedo, concorda que o país vive uma espécie de tempestade perfeita, composta por pandemia, inflação, juros altos, câmbio apreciado e instabilidade política, além dos rescaldos da crise da Covid-19 sentidos no abastecimento de insumos e demanda de alimentos, entre outros fatores econômicos. Diante dessa conjuntura, o economista não vê melhora substantiva no panorama econômico no curto prazo.

Azevedo lembra que comércio e indústria cresceram muito, logo depois da primeira onda, com a liberação do auxílio emergencial, mas o benefício está menor neste ano, e a inflação disparou. O setor de serviços, por outro lado, basicamente teria voltado a funcionar há 90 dias e estaria retomando a partir de uma base fraca, em atividades de apoio a outros serviços. “Estamos chegando perto de uma estabilização desses indicadores, mas em um nível próximo ao final de 2019”, complementou. 

O presidente do Corecon-AM lembra também que o frete praticamente dobrou e o crédito ficou mais caro, fatores que pesam mais na indústria, que tem um ciclo operacional mais longo, mas que afetam também o comércio, na formação dos estoques e repasse de preços. Há ainda a questão da “política institucional”, que precisaria ser “acomodada” para não afugentar mais investimentos. “O dinheiro não sumiu. Os agentes econômicos estão preocupados. O mercado precisa de equilíbrio e racionalidade. Em resumo, as condições macroeconômicas estão amarradas na pandemia, as reformas não estão sendo feitas e o ambiente de negócios está longe do ideal”, concluiu.  

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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