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Coleção de insetos do Inpa encanta pesquisadores

Novas espécies de vespas (cabas), e formigas da Amazônia, estão sendo descobertas na coleção de invertebrados do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), por meio do projeto ‘Insetos da ordem Hymenoptera na Amazônia: a diversidade escondida em uma coleção’, apoiado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas). O projeto é coordenado pelo pós-doutor em entomologia, Márcio Luiz de Oliveira, do Inpa, descobridor de quase 70 espécies novas, que agora irão passar pelo processo de descrição científica e publicação. O entomologista falou mais sobre o assunto ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio: Estas cabas e formigas estavam na coleção do Inpa e só agora está sendo descoberto que são espécies novas para a ciência?

Márcio Luiz: O Inpa está perto de completar 70 anos de existência, em 2024. Ao longo desses anos, diversos pesquisadores que aqui trabalharam e mesmo outros que por aqui passaram, depositaram os insetos coletados em nossa coleção, entre eles, essas cabas e formigas, então, temos aqui um enorme passivo de insetos que ainda precisa ser estudado. Todavia, a capacidade de processar a identificação desses insetos depende da quantidade de profissionais que temos, que não é muita. E pior, vem declinando nos últimos anos devido a não realização de concursos públicos para reposição das vagas dos que se aposentaram ou mesmo faleceram. Para atenuar isso, elaborei um projeto para trazer aqui, por tempo limitado, pesquisadores de outras instituições, especialistas em cabas, formigas, abelhas e vespas parasitóides. Eles é que têm descoberto essas novas espécies. 

JC: Mas quando um pesquisador coleta um indivíduo, na natureza, ele não verifica logo se é novo para a ciência?

ML: No campo isso é muito difícil. O pesquisador pode até suspeitar que tenha encontrado algo novo com base em sua vasta experiência, algo parecido com o ‘olho clínico’ do médico experiente. Mas, precisa coletar esse organismo e levar para o laboratório a fim de fazer comparações com outros que já estão na coleção e ainda conferir se de fato isso já não foi feito por outros pesquisadores, checando artigos científicos e livros. O trabalho de reconhecimento dessa espécie em laboratório, muitas vezes requer dissecação, medições, desenhos e fotografias, quase sempre feitos com auxílio de um microscópio, se forem organismos que não podem ser vistos a olho nu.

JC: Quantos insetos existem na coleção de entomologia do Inpa, inclusive cabas e formigas?

ML: No caso dos insetos em geral, podemos falar tranquilamente em milhões. Quanto às cabas e formigas, temos dezenas a centenas de milhares, respectivamente.

JC: Quais são os outros insetos existentes na coleção?

ML: No livro ‘Insetos do Brasil’, que tem como principal organizador o Dr. José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa, são reconhecidas 30 ordens de insetos para o Brasil. Temos representantes de todas elas no Inpa.

Pós-doutor em entomologia, Márcio Luiz de Oliveira

JC: Por que sua pesquisa se direcionou especificamente para estes dois grupos de insetos?

ML: A pesquisa, financiada pela Fapeam, é mais abrangente e tem por objetivo melhorar o nosso conhecimento não só sobre as cabas e formigas, mas também sobre os insetos da ordem Hymenoptera na Amazônia depositados na coleção do Inpa. Essa ordem de insetos abriga as cabas (que são predadoras de lagartas de borboletas), as formigas (que também possuem espécies predadoras), o que significa que ambas são importantes no controle biológico de insetos e outros invertebrados. Além delas, temos as abelhas, importantíssimas na produção de mel e mais ainda na polinização das plantas. Por último, temos as vespas parasitóides. Muitas são consideradas benéficas aos humanos visto que controlam populações de pragas agrícolas.

JC: Calcula-se em quantas espécies de insetos existentes na Amazônia?

ML: De acordo com o Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil (http://fauna.jbrj.gov.br/fauna) são reconhecidas cerca de 95 mil espécies de insetos para o Brasil. Ainda precisaríamos extrair do Catálogo o quanto já temos para a Amazônia, o que é um processo um tanto demorado. Mas aqui na Amazônia, ainda falta muito para ser descoberto devido principalmente ao gigantismo da região, o que torna certas áreas difíceis de serem atingidas, por um lado, e a escassez de recursos humanos para essa tarefa e a falta de investimentos, de outro.

JC: Como o sr. descobre que uma espécie é nova para a ciência?

ML: Os muitos anos de experiência nos proporcionam essa expertise. Por exemplo, ao pegarmos um inseto, e principalmente ao estudá-lo ao microscópio, se chegarmos à conclusão de que não se parece com os demais que já conhecemos, fazemos um estudo pormenorizado da literatura, e hoje em dia até mesmo da internet, para nos certificarmos se de fato ela já não foi descrita. Também costumamos consultar outras coleções e colegas do Brasil e do exterior para que nos enviem fotos ou exemplares para conferirmos. Depois dessa etapa é que se processa a descrição formal de uma nova espécie a qual precisará ser submetida para publicação oficial em uma revista científica, onde passará ainda pelo crivo de ao menos dois especialistas no assunto.

JC: Qual a importância para a Amazônia, e para o Brasil, em se manter uma coleção como essa, do Inpa?

ML: Uma coleção biológica é como uma biblioteca da natureza. Nela, são guardados e preservados exemplares de praticamente todos os seres que existem na natureza, podendo conter ainda fotos, sons, pegadas, ovos, ossos, peles e tecidos. Hoje em dia, guarda-se inclusive DNA, então, manter aqui no Inpa uma coleção com diversos representantes desse bioma é proporcionar para a comunidade científica, e também aos demais cidadãos, a possibilidade de consultá-la para suas pesquisas científicas ou apenas curiosas.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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