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Donos de bares e restaurantes preocupados com atual cenário

A extensão de horário promovida pelo novo decreto do governo estadual sinaliza uma maior abertura na janela de oportunidades do segmento de bares e restaurantes do Amazonas, especialmente em virtude da redução do toque de recolher, de 0h às 6h. No entendimento do empresariado, o acréscimo de três horas ao prazo de encerramento das atividades deve ajudar os estabelecimentos vocacionados para a noite a aumentarem o volume de negócios. 

Os bares e restaurantes, contudo, ainda se ressentem do aumento do custo de oportunidade promovido involuntariamente pela necessidade de distanciamento social inerente ao atendimento dos protocolos anti-covid – especialmente a redução da capacidade de atendimento em 50%. Outro obstáculo vem da inflação, que se acrescenta aos custos fixos já elevados em comparação à queda de receitas no trimestre. Mas, os piores inimigos do segmento ainda são o medo da clientela e o risco de uma terceira onda. Por isso, a recomendação é seguir rigorosamente as medidas.  

As alterações no atual decreto anunciadas pelo governo do Estado, nesta quarta (31), preveem que o horário de funcionamento de restaurantes e lanchonetes, passará a ser de 6h às 23h (segundas a sábados) e de 7h às 16h (domingos), a partir desta segunda (5). Flutuantes vão funcionar de 09h às 16h, de segunda a domingo. Os estabelecimentos deverão respeitar o limite de ocupação de 50% da capacidade, além das medidas de distanciamento, uso de máscara e higienização das mãos. A vigência do novo decreto – que ainda não havia sido publicado até o encerramento desta reportagem – será de 15 dias.

“Fim do túnel”

Proprietário do Salomé Bar e do All Night Pub, além de um flutuante, Rodrigo Silva, diz que o novo decreto está possibilitando à empresa ver uma “luz no fim do túnel”. “É uma mudança importante para o segmento, principalmente para quem trabalha com faturamento noturno. Essa extensão vai ajudar a compor um pouco o caixa. Com as vendas até às 20h, como era antes, dava apenas para pagar os funcionários. Não tinha lucro”, justificou.

O empresário diz que espera que o dinheiro ganho nas três horas diárias adicionais permitidas ao funcionamento de bares e restaurantes possibilitem à empresa quitar suas dívidas acumuladas no primeiro trimestre – que foi basicamente de paralisação. “Estamos começando a ficar sufocados. Nossa capacidade de endividamento já estava no limite e precisamos pagar essas dívidas”, lamentou.

Em relação aos investimentos necessários para cumprir os protocolos, Rodrigo Silva informa que, em tese, é possível repassar o passivo aos preços ao consumidor, mas salienta que os valores dos produtos empregados na atividade vêm aumentando ao longo dos últimos meses. “Ainda não conseguimos fazer esse repasse, mas eventualmente isso deve se estabilizar. Vai ficar mais caro para todo mundo, mas é uma forma de a empresa se capitalizar para poder continuar investindo e servindo”, ponderou.   

O proprietário do Salomé Bar e do All Night Pub destaca que os produtos que mais tiveram inflação foram os alimentos, especialmente carne e legumes. No caso dos produtos de higiene, o aumento não teria sido tão substancial. Ele informa que os negócios já apresentam queda de 30% no trimestre e de 50% em março, nos respectivos comparativos anuais. 

Rodrigo Silva acrescenta que foi possível trazer alguns dos funcionários que estavam afastados de volta à ativa, mas salienta que ainda não foi possível fazer isso para todo o 70% de seu contingente que estava com contratos suspensos. “Não conseguimos cumprir 40 horas semanais com todos, por conta da redução do horário. Esperamos que abril seja bem melhor e que consigamos crescer de 30% a 40% nas vendas”, ponderou. 

“Sem dinheiro”

Na mesma linha, o sócio proprietário do restaurante Mercato Brazil, Rodrigo Zamperlini, considera que o novo decreto trouxe ganhos aos dois restaurantes do grupo – Mercato Brazil e Expresso 73 –, ambos situados no Manauara Shopping. Ele ressalva, entretanto, que o fato de os shoppings ainda não poderem abrir aos domingos, deve limitar o potencial do dia para bares e restaurantes instalados nos centros de compras – que seguem o horário do segmento de alimentação fora do lar, e não o dos malls. “Não vale a pena bancar o custo operacional para abrir nessas condições”, opinou.  

Segundo o empresário os dois estabelecimentos tiveram performances diferenciadas, em março. Vocacionado mais para o atendimento noturno, o Expresso 73 amargou um mergulho de 75% no movimento, quando comparado ao padrão comum aos meses de março. Por trabalhar com refeições, o Mercato Brazil sofreu um tombo menor mas ainda significativo, de 70%. “Infelizmente, muitos de nossos clientes estão trabalhando em home office e deixaram de frequentar o restaurante”, acrescentou.

Rodrigo Zamperlini acrescenta que as limitações de horário e de 50% na capacidade de atendimento dos estabelecimentos já diminuem a clientela potencial. Mas, destaca que o medo da clientela de se contaminar com a doença acaba falando mais alto, a despeito de todos os cuidados tomados pelos estabelecimentos – que inclui o distanciamento das mesas, a limpeza periódica dos espaços, a disponibilização de álcool em gel, investimentos em EPIs e o uso de máscaras por todos os colaboradores. 

“Voltamos a ter receita, mas está bem abaixo do normal, e os custos fixos seguem em alta. Precisamos de mais colaboradores do que outros segmentos e nossos gastos com água e luz são mais elevados. Muitos empresários estão sem dinheiro até mesmo para bancar os custos do encerramento da atividade e não tem outra opção a não ser seguir em frente. Não é o nosso caso, mas vai levar um tempo para a recuperação. Esperamos que este mês ainda registre uma queda de 40% a 50% em relação a um abril normal”, lamentou.

Vacinação estancada

O presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), Ralph Assayag, disse que a decisão governamental de flexibilizar o horário para o segmento de alimentação fora do lar ocorreu dentro de uma atitude de prudência, diante do atual cenário da pandemia. O dirigente ressaltou, no entanto, que não obstante a redução dos números da covid-19 no Amazonas, a situação ainda inspira cuidados de consumidores e empresários em relação aos protocolos, dado que o processo de vacinação estancou. 

“Todos estão pedindo abertura geral e irrestrita para os seus negócios. Mas, acredito que foi bem prudente o governador liberar o segmento que foi mais atingido, que foi o de bares e restaurantes com vocação para a parte noturna. As empresas estavam fechadas desde janeiro. Mas, mesmo que todos queiram abrir, estou preocupado com as novas cepas. Era para termos todos os de 50 anos vacinados, em março, e já estarmos baixando [a vacinação] para a casa dos 40, em abril. O ex-ministro da Saúde prometeu, mas não cumpriu. Só quando chegarem todas essas vacinas, é que teremos um pouco mais de paz”, finalizou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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