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Mulheres mais presentes nos quadrinhos

Dia 30 de janeiro é o Dia do Quadrinho Nacional. Nesta data, em 1869, o cartunista Angelo Agostini publicou o primeiro quadrinho que se tem registro no Brasil, ‘As aventuras de Nhô-Quim’. De lá para cá essa forma de comunicação através do desenho nunca mais deixou de existir no país, por décadas impressos em jornais e revistinhas e agora, no formato digital.

Sâmela Hidalgo cresceu lendo ‘Curumim, o último herói da Amazônia’, criado pelo jornalista Mário Adolfo, em 1983. Não imaginava que quando crescesse trabalharia com histórias em quadrinhos e publicados num formato inimaginável naqueles tempos.

“Na época da faculdade, escolhi fazer arquitetura, mas não gostei. Queria um curso que me fizesse comunicar com as pessoas. Em São Paulo entrei na faculdade de Produção Editorial. Foi então que tive um contato maior com as HQs e percebi que elas não eram feitas apenas para crianças”, contou.

Em 2016 Sâmela começou a trabalhar na Devir, editora de HQs, jogos de tabuleiro e livros. Lá ela atuou como assistente de edição, assessora de imprensa, na distribuição, e no marketing e eventos. Conhecendo o universo da produção de HQs, em 2019, a jovem criou o projeto ‘Norte em quadrinhos’. Quando saiu da Devir, em 2020, Sâmela foi trabalhar no estúdio de criação Eleven Dragons onde, além dos trabalhos do estúdio, leva adiante o ‘Norte em quadrinhos’. Na Eleven Dragons, como editora de quadrinhos digitais, Sâmela coordena uma equipe que reúne produtor artístico, roteirista, desenhista, assistente de cor, colorista, e letrista, produzindo HQs que, diferente dos antigos ‘gibis’ impressos, podem ser lidos no computador ou no celular.

Abrindo as portas

No projeto ‘Norte em quadrinhos’, Sâmela agencia quadrinistas de todos os sete estados do Norte, ‘abrindo as portas’ para que eles apresentem seus trabalhos em estúdios pelo Brasil.

“Também promovo cursos profissionalizantes gratuitos, online, com grandes quadrinistas brasileiros para que os novos se aperfeiçoem”, destacou.

Atualmente o ‘Norte em quadrinhos’ reúne cerca de 60 quadrinistas, mas o projeto continua aberto a receber aqueles que desejam entrar no universo das HQs.

“Já coloquei para trabalhar aqui na Eleven Dragons a Raquel Teixeira, colorista. Ela trabalha aí mesmo em Manaus, colorindo as histórias que chegam até ela. O Ademar Vieira, que recentemente teve sua HQ ‘Ajuricaba’ indicada para o Prêmio Jabuti, está trabalhando conosco num roteiro de uma história que se passa na Amazônia. A quadrinista indígena paraense Ty Silva também faz parte do projeto”, falou.

Na época em que Sâmela lia o Curumim, de Mário Adolfo, ele sozinho criava as histórias, desenhava, escrevia os balões e coloria. Agora é bem diferente. Por isso a amazonense coordena uma equipe de profissionais na Eleven Dragons.

“Embora ainda muita gente desconheça, as HQs digitais são muito consumidas, existe um público ávido por elas, então precisamos produzi-las com rapidez, daí ser necessária a equipe, como numa linha de produção de uma fábrica. Só os quadrinistas mais antigos ainda fazem todo o trabalho sozinhos”, revelou.

O ‘Norte em quadrinhos’ pode ser melhor conhecido no Instagram e Sâmela disponibiliza seu e-mail ([email protected]) para quem desejar mostrar seus trabalhos e, quem sabe, fazer parte do projeto.

“O nosso objetivo é divulgar os quadrinistas do Norte para o Brasil e o mundo”, concluiu.

Casal quadrinista

Em 2009, Malika Dahil cursou a Escola de Belas Artes, no Marrocos, e pintava quadros, porém, a disciplina de HQs lhe chamava mais atenção. Assim que se formou ela produziu algumas HQs em seu país.

Em 2015, o quadrinista maranhense Eunuquis conheceu Malika pela Internet. Como ambos gostavam do mesmo trabalho, a amizade se solidificou. Detalhe: eles conversavam com o tradutor. Eunuquis convidou Malika para vir conhecer Manaus, ela veio, os dois se apaixonaram, casaram e ela virou manauara.

“Durante seis meses eu não falava nada. Conversávamos através do tradutor e o Eunuquis me ensinava muitas palavras. Com um ano comecei a falar as primeiras palavras em português e hoje domino o idioma”, informou.  

Desde 2017 o casal produz HQs em conjunto para a Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), de São Paulo. No estúdio deles, ‘Dois Traços’, um desenha e o outro colore, depois o outro desenha e o um colore as historinhas.

Ano passado, contemplados no edital Prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa do Amazonas, através da Lei Aldir Blanc, Malika e Eunuquis publicaram sua primeira HQ, ‘Fronteira’, contando, de forma fictícia, a romântica história do casal. A HQ foi indicada a três prêmios no Troféu HQMIX, o Oscar nacional dos quadrinhos. Malika e Eunuquis afirmam que esta é apenas a primeira HQ do estúdio ‘Dois Traços’.

“Aguardem nossas próximas histórias, e feitas a quatro mãos”, finalizou.

‘Fronteira’ está à venda na Banca do Largo, ou pode ser solicitada através dos Instagrams @malikadahil e @eunuquis.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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