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Dívidas de consumidores de Manaus começam a diminuir em abril

O percentual de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês e outros meios de pagamento interrompeu uma série de duas altas e recuou entre março e abril, em sintonia com o refluxo da segunda onda. O mesmo se deu entre as famílias inadimplentes e as que não podem pagar dívidas atrasadas. Nas três situações, o Estado seguiu trajetória inversa à da média nacional. Os dados são da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Na sondagem, 66,2% das famílias manauenses (420.724) se dizem endividadas, número abaixo dos apresentados em março de 2021 (68,1% e 432.608) e em abril do ano passado (84,8% e 531.454). O índice de inadimplência passou de 31,5% (200.283) para 30% (190.838) na variação mensal, mas ainda está acima da marca de 12 meses atrás (26,1% e 163.494). Em torno de 18,6% famílias (118.317) declararam não ter condições de quitar dívidas em atraso com incremento e decréscimo nas respectivas comparações – 19,8% (125.733) e 11,9% (74.902).

Em âmbito nacional, 67,5% das famílias já se assumem endividadas, número que é recorde histórico para abril e que corresponde a elevações ante março de 2021 (67,3%) e abril de 2020 (66,6%). Pelo oitavo mês seguido, o oposto ocorreu com a inadimplência, que caiu de 24,4% para 24,2% na variação mensal, além de recuar 1,1 ponto percentual na análise anual. Já a parcela dos brasileiros que não tem condições de pagar as contas caiu de 10,5% para 10,4%, mas segue acima do patamar do ano passado (9,9%).

Houve melhora qualitativa no nível de endividamento. A maioria (25,5%) se assume “muito endividada”, mas é seguida de perto pelos “mais ou menos endividados” (25,3%) e um pouco mais distante pelos “pouco endividados” (15,4%). Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos (95,1%) superam de longe a média do indicador (66,2%) – puxados pelo grupo dos “muito endividados” (53,1%).

Cartão de crédito

Entre os 30% que já contam com compromissos financeiros em atraso, por outro lado, predominam os que ganham menos de dez mínimos mensais (30,4%). Apenas 14,8% garantem que conseguirão quitar a dívida integralmente e 22,9% estimam que conseguirão pagar a dívida apenas parcialmente. O tempo de inadimplência mostrou queda, mas 26,1% devem há mais de 90 dias – com destaque para as famílias mais pobres (26,6%). A fatia com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (60,3%) ainda é a maior do bolo. Em último lugar está o grupo pendente há menos de um mês (13,2%). 

O mesmo afunilamento não ocorreu nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que aumentou o percentual dos que estimam levar mais de um ano para isso (39,4%). Em contrapartida, os grupos de devedores comprometidos entre seis meses e um ano (35,8%) e até três meses (7%) encolheram, ao mesmo tempo em que a fatia dos que estarão pendurados por três a seis meses (11,9%) seguiu na mesma.

O cartão de crédito voltou a ser o principal vilão em Manaus, respondendo por 67,6% do bolo das dívidas, mas em um nível bem mais baixo do que o anterior (80,3%) e, desta vez, com predomínio entre os mais ricos (100%). O carnê de compras retornou à segunda posição (59,6%), sendo seguido bem mais de perto pelo crédito pessoal (40,9%). Na sequência, vieram o cheque pré-datado (17,7%), o crédito consignado (14,7%), os financiamentos de carro (8,4%) e casa (3,3%), o cheque especial (2,2%) e “outras dívidas” (0,5%) – mas 0,3% não souberam ou não quiseram responder. 

Em média, as famílias manauenses consomem 41,8% de sua renda para pagar dívidas – pouco menos do que os 42,5% anteriores. Houve relativa melhora na distribuição por níveis de comprometimento, mas a maioria (59,4%) ainda gasta mais da metade dos ganhos mensais com dívidas. São seguidos de longe pelos que gastam de 11% a 50% (30,3%) e pelos que limitam os dispêndios a 10% (4,5%). 

Dificuldades superadas

O presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, avalia que a queda nos níveis de endividamento e inadimplência do consumidor local em abril confirmam que os períodos do ano mais difíceis para o comércio e a economia do Amazonas já ficaram para trás, situando-se no primeiro trimestre. 

“O endividamento mostra queda lenta, mas salutar e 54,5% das famílias não têm dívidas em atraso. Se formos procurar os dados de criação de postos de trabalho, vamos ver que o saldo foi positivo em 1.855 vagas formais, em abril. É uma demonstração da retomada das vendas e de nossa economia. Desde a segunda quinzena de março, o comércio se reorganiza e voltou a funcionar com mais vigor. Nossa expectativa é que esses índices de crescimento se solidifiquem”, comemorou.

Reorganização e vacinação 

Em texto distribuído à imprensa, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, explica que a perda e o comprometimento de renda durante a segunda onda está impondo aos consumidores de menor poder aquisitivo a necessidade de reorganização para fechar as contas de seus orçamentos. “Com o valor atual menor do auxílio emergencial, essas famílias estão restringindo gastos até o limite, para quitar seus compromissos financeiros. Ainda assim, com a crise, muitos são empurrados para um maior endividamento”, explicou.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, lembra que o aumento no endividamento nacional já era esperado, uma vez que o índice vinha crescendo nos últimos meses, diante dos impactos da pandemia na renda dos consumidores. A despeito da nova complementação emergencial do governo federal, e de haver uma melhora na geração de vagas no mercado de trabalho formal, o dirigente observa que a regularização de dívidas costuma demandar mais tempo.

“Mesmo com as dificuldades, a população média tem conseguido manter um nível de consumo, graças ao mercado de trabalho, mas tem usado mais o crédito. E é isso o que impulsiona o nosso setor que, por sua vez, ajuda a economia a andar. Porém, apenas com a imunização coletiva poderemos acelerar essa equação e permitir que as famílias descomprometam seu orçamento da forma como está hoje”, arrematou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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