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Desvalorização do dólar ameniza crise

O ingresso de investimento estrangeiro na bolsa e o atrativo das taxas de juros praticadas no mercado brasileiro são fatores que continuarão pressionando o dólar para baixo, exigindo uma ação continuada do BC (Banco Central). Pelo menos esta é a opinião do gerente da mesa de operações de câmbio turismo da Confidence Câmbio, Felipe Pellegrini, para quem em curto e médio prazo, a moeda estadunidense será pressionada para atingir a cotação de R$ 2.
Apesar da boa notícia para os operadores, Pellegrini considerou em entrevista para o Jornal do Commercio que, em função da atuação do Banco Central, dificilmente o dólar não deverá cair abaixo desse valor até julho. No entendimento do especialista, o fluxo de capital externo deve continuar ascendente nos próximos meses devido ao fato de a economia brasileira estar se recuperando mais rapidamente do que a de outros países, tornando mais interessante o investimento na bolsa brasileira.
“Mas o Banco Central não quer uma excessiva desvalorização do dólar em função do impacto sobre as exportações e a balança comercial, por isso, mesmo que o dólar busque o patamar abaixo ou igual a R$ 2, encontrará forte resistência do governo”, observou.
Pellegrini observou ainda que os juros brasileiros, mesmo com a forte queda das taxas, ainda são um dos mais altos do mundo, atraindo o investidor estrangeiro e mantendo positivo o ingresso de recursos internacionais.
A valorização do dólar no último trimestre de 2008, segundo o gerente, fez com que a receita das exportações brasileiras em reais aumentasse, amenizando os efeitos da crise internacional.
“Esse cenário, entretanto, não deve prevalecer este ano. As exportações em dólares deverão retrair ainda mais e é possível que nem mesmo o câmbio favorável seja capaz de garantir o crescimento das receitas em reais”, considerou.
O fato é que, resultado da crise financeira ou não, a moeda nacional vem apresentando uma trajetória crescente de valorização frente ao dólar.
Segundo dados do Banco Central, no ano passado, em pleno auge da crise financeira mundial, o dólar chegou a ser negociado a mais de R$ 2,50.
Desde o início de 2009, porém, o real já se valorizou mais de 10% em relação à moeda estadunidense. Em 2 de janeiro, o dólar era vendido a R$ 2,33. Nesta sexta-feira, antes do fechamento do mercado, o dólar já havia rompido a barreira de R$ 2,10 e era cotado a R$ 2,08.
O diretor executivo da Aceam (Associação do Comércio Exterior da Ama­zônia) e ex-gerente de operações de câmbio, Moacyr Bittencourt, afirmou que na última semana, o Banco Central chegou a intervir no mercado diante da valorização do real, quando o dólar chegou perto da barreira de R$ 2,10, realizando swap cambial reverso (operação que tem o efeito da compra de dólares) para tentar conter a queda da moeda americana.

Vários fatores impulsionam valorização do real

No entendimento do executivo, há mais de um motivo para o movimento de valorização da moeda brasileira, entre eles estaria o aumento nas exportações e nos preços de commodities, que provoca saldo maior na balança comercial do país.
“Desde meados de março, começou a haver maior fluxo de dólares para o Brasil, como resultado do saldo positivo na balança comercial e da retomada de investimentos no mercado brasileiro, principalmente em bolsa de valores.
Com isso, entram mais dólares no país e há uma consequente valorização da moeda nacional”, explicou.
Bittencourt acrescentou ainda que, em março e abril, o fluxo cambial registrou saldo positivo, depois de ter sido negativo em janeiro e fevereiro.
“Agora, com sinais de que o pior da crise pode ter passado, os agentes financeiros estão mais dispostos a assumir riscos em mercados emergentes, como o Brasil, o que se reflete não apenas na alta do real frente ao dólar, mas também na valorização da Bovespa”, finalizou.

Oscilações afetam as empresas internacionais

Na entrevista abaixo, Bittencourt falou com exclusividade ao JC sobre a valorização da moeda brasileira e o reaquecimento da economia.

JC – Como o senhor avalia essa valorização do real para o reaquecimento da economia do país no universo pós-crise?

Moacyr Bittencourt – Os fluxos de moeda internacional consideram retorno e risco. Apesar de o retorno estar caindo, o risco também está em queda, por uma percepção de que o governo está fazendo a lição de casa, na busca do superávit primário, ao não tentar influenciar demais o mercado.

JC – É verdade que os recentes cortes na taxa básica de juros (Selic), que poderiam provocar a desvalorização do real, acabam tendo efeito contrário, já que também aumentam o nível de confiança na economia nacional?

Moacyr Bittencourt – O capital estrangeiro tem entrado pensando mais na estabilidade e nas perspectivas de crescimento da economia brasileira do que em rendimento imediato. Há ainda o fato de que, por mais que a taxa básica de juros esteja em declínio, ainda é muito alta. Depois do último corte, de um ponto percentual, a Selic está em 10,25% ao ano, seu nível mais baixo desde que foi criada, em 1999, mas ainda assim mais alto do que na maioria dos países.

JC – Qual o impacto dessa oscilação do câmbio para as empresas e os consumidores no Brasil?

Moacyr Bittencourt – A oscilação do câmbio afeta diretamente as empresas que atuam no mercado internacional. Como tem receita em moeda estrangeira, as empresas exportadoras são prejudicadas pela valorização do real frente ao dólar. Para as importadoras, a valorização do real é positiva, já que essas empresas têm seus custos calculados em dólar. Além disso, a alta do real também reduz as dívidas das empresas, que são calculadas em dólar. No caso dos consumidores, a valorização do real é positiva porque provoca um alívio na inflação e, consequentemente, redução nos preços. Muitos produtos, como alimentos ou eletroeletrônicos, têm preços ditados pelo mercado internacional. Com o real mais forte, a tendência é de que esses preços fiquem mais baixos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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