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Desmatamento cresce, mas PIB agropecuário continua negativo

Desmatamento cresce, mas PIB agropecuário permanece negativo

A Amazônia perdeu 265.113 quilômetros quadrados de cobertura florestal entre 2000 e 2018, sendo reduzida a 75,7% de seu tamanho original. A área desmatada equivale a mais de 2.945 campos de futebol e supera o tamanho do Reino Unido (244.820 quilômetros quadrados). Os dados estão na pesquisa Contas de Ecossistemas: O uso da terra nos biomas brasileiros 2000-2018, divulgada na última quinta-feira (24), pelo IBGE. O órgão de pesquisa destaca que esta foi a maior perda entre os biomas brasileiros, no período.

Em paralelo à devastação da floresta, a área de pastagem com manejo cresceu 71,4% na Amazônia, enquanto sua área agrícola avançou 288,6%, de 17.073 (2000) para 66 350 (2018) quilômetros quadrados, sendo que o crescimento acelerou entre 2012 e 2014. Mas, segundo IBGE, o custo veio sem benefício, já que o crescimento do PIB agropecuário da região Norte foi negativo e ficou longe do dinamismo da média brasileira do setor.

“Entre 2016 e 2017, o setor cresceu 14,2% em volume do PIB brasileiro. No Acre, o valor adicionado bruto da atividade teve variação negativa de 10,5%, enquanto o Amazonas registrou -3%. Além disso, a classe de vegetação florestal do bioma Amazônia deu lugar a áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248.794 para 426.424 quilômetros quadrados, e a um mosaico de ocupações em área florestal, evidenciando fragmentação da paisagem”, assinalou o IBGE-AM, no texto de divulgação da pesquisa.

Em 19 anos, a vegetação florestal passou de 3,45 milhões para 3,19 milhões de quilômetros quadrados – quase o tamanho da Índia (3,29 milhões de km²). No total, 31% de todas as mudanças observadas no bioma Amazônia decorreram de ocupações e 50,2% foram originadas pela conversão da terra para pastagem com manejo – após 2012, em torno de 43% das novas áreas agrícolas decorreram desse processo. O bioma respondeu por 74% do crescimento da pastagem com manejo e por 23,9% do incremento da área agrícola, em todo o país, entre 2000 e 2018.  

Arco do Desmatamento

As mudanças indicariam uma interiorização do famigerado Arco do Desmatamento, que havia se originado na fronteira entre Amazônia e Cerrado. De acordo com a sondagem, projetos fundiários facilitados por benefícios fiscais fomentaram “grandes empreendimentos agropecuários” – especialmente voltados para o cultivo de soja – e a construção de novas rotas que impulsionaram as pastagens. E estas teriam sido manejadas por queimadas, conforme o Macrozoneamento ecológico-econômico da Amazônia Legal. 

O IBGE aponta, por outro lado, que a riqueza natural da Amazônia florestada se contrapõe “dramaticamente” aos baixos índices socioeconômicos da região, de baixa densidade demográfica e crescente urbanização. Pela ótica do PIB e da renda, o Norte ocupa o último lugar no ranking brasileiro. “Apesar de ocupar considerável extensão de terras em termos absolutos e estar em expansão, a atividade agropecuária não possui expressividade no valor da produção nacional, nem no emprego ou renda, indicando produção pecuária extensiva e agricultura de baixa produtividade”, frisou o texto da pesquisa.

Comprovação científica

Indagado pelo Jornal do Commercio sobre os diferencias do Amazonas na região, o supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, explicou que as Contas do Biomas não apresentam dados por Estado, sendo impossível fazer o desdobramento. O pesquisador salienta que, embora os números tenha apontado queda na contribuição da agropecuária nortista para o PIB, não é impossível isso seja revertido mais adiante, mas não deixou de apontar que os dados são preocupantes. 

“Quanto à Amazônia, os números apresentam um bioma muito mais afetado em relação aos outros. Mostram também que as perdas têm agravado o quadro. Principalmente a cobertura vegetal, que cedeu espaço para pastagem e o mosaico de ocupações em área florestal. Os analistas já tinham uma ideia de que a substituição já vinha ocorrendo, mas não havia, até então, um estudo que apontasse as dimensões disso”, asseverou.

“Temas convergentes”

O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, ressalta que o Estado continua mantendo em torno de 97% de sua cobertura florestal, ao mesmo tempo em que a participação do setor primário no PIB amazonense é crescente e segue com viés de alta. Segundo o secretário estadual, a atividade vai crescer mais com o avanço da regularização fundiária e do uso de tecnologias, permitindo a agilização do licenciamento ambiental e maior acesso dos produtores rurais ao crédito. 

“Aliás, esta é a condição única para manter a floresta e o homem em pé. Não é justo ter 71% dos nossos domicílios, segundo o próprio IBGE, vivendo com algum grau de insegurança alimentar e nutricional, e mais da metade da população na linha da pobreza, sendo que vivemos em um estado tão rico e estratégico para a saúde do planeta. Acredito ser possível conciliar produção rural e meio ambiente, além de melhorar renda e qualidade de vida do cidadão. Para mim, esses temas são convergentes”, afiançou.

Verticalização e sustentabilidade

Na mesma linha, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, reforça que o Estado é um ponto fora da curva em termos de preservação de vegetação nativa. O dirigente ressalta que há um caminho que ainda está sendo percorrido pela agropecuária em termos de verticalização para aumento de produção e reforça a preocupação ambiental do setor.

“O crescimento do setor agropecuário no Brasil tem sido ocorrido pelo aumento de produtividade decorrente da adoção de tecnologias produtivas. A maioria absoluta de nossos produtores rurais cumpre a legislação e não comete infrações ambientais, tais como o desmatamento ilegal. Defendemos a legalidade e temos convicção de que é possível o equilíbrio entre produção de alimentos e sustentabilidade”, arrematou.

Desmatamento atinge todos os biomas 

A sondagem indica que, apesar do destaque da Amazônia, todos os biomas terrestres brasileiros tiveram saldo negativo em seus ecossistemas entre 2000 e 2018, somando perdas de 500 mil quilômetros quadrados – praticamente uma Espanha (504 mil km²). Em números absolutos, o Cerrado (152.706 km²) veio em segundo lugar, enquanto a maior perda percentual ocorreu no Pampa (-16,8%), mas o Pantanal (-2.109 km² e -1,6%) ficou com os menores números. Mata Atlântica e Caatinga foram os biomas que registraram os maiores recuos nas supressões de áreas naturais. Na análise da série histórica, contudo, as reduções de áreas naturais foram “diminuindo de magnitude ao longo dos anos”, conforme o estudo. O IBGE destaca que, embora a edição inaugural das Contas de Ecossistemas do Brasil tenha focado no estado de conservação dos ecossistemas no ambiente terrestre brasileiro e nas conversões de usos de suas terras, a segunda edição das Contas de Ecossistemas do Brasil deve trazer uma análise de suas espécies ameaçadas de extinção.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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