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Desligamentos por morte é maior no Amazonas

Sob o efeito da segunda onda da pandemia, os desligamentos por morte nos empregos com carteira assinada avançaram em todo o país, no confronto do primeiro trimestre de 2021 com igual intervalo do ano passado. A alta nos registros foi de 71,56%, com 22.636 (2021) contra 13.194 (2020). A comparação com os números apresentados entre outubro e dezembro do ano passado (15.289) apontou para uma expansão igualmente significativa (+48,05%) na quantidade de ocorrências de pessoas que morreram no trabalho. 

Em sintonia com a ascensão da segunda onda em um período anterior ao da média nacional, o Amazonas foi a unidade federativa brasileira com maior crescimento proporcional de encerramento de contratos celetistas por motivo de falecimento, em ambas as comparações. De janeiro a março, o Estado teve 613 registros do gênero, apresentando elevação de 437,72% ante o primeiro trimestre de 2020 (114) e incremento de 317% sobre os três meses finais do ano passado (147). A atividade de saúde humana puxou os números locais para cima.

Em todo o país, os segmentos econômicos com maior crescimento proporcional de casos foram os do setor de serviços, incluindo educação (+106,7%), transporte, armazenagem e correio (+95,2%) e saúde humana (+75,9%) – entre os médicos, os desligamentos por morte triplicaram (+204%) e entre os enfermeiros, mais do que duplicaram (+116%). Os dados são da mais recente edição do Boletim em Pauta, estudo compilado e divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).   

O Amazonas liderou as estatísticas proporcionais de encerramento de contratos formais de trabalho por motivo de óbito, entre o primeiro trimestre de 2020 e os três meses iniciais deste ano, com expansão (437,7%) em ritmo três vezes superior ao registrado pela média brasileira (+71,6%). Roraima (alta anual acumulada de 177,8% e 50 casos) comparece em um distante segundo lugar, sendo seguido Rondônia (+168,6% e 188), Acre (+109,5% e 44)e Paraná (+100,4% e 1.854). São Paulo compareceu com o maior número absoluto de trabalhadores desligados por morte (7.864), com incremento de 76,4%. 

Saúde e mortes

No Amazonas, os dados mostram uma elevação maior de pessoas morrendo no trabalho, na linha de frente contra a covid-19. De janeiro a março, os desligamentos por esse motivo nas atividades de atenção à saúde humana (19) aumentaram nada menos do que 850% no Estado, em relação ao mesmo intervalo de 2020 (2). O confronto com o dado do último trimestre de 2020 (4) indicou alta de 375%. A taxa também foi dez vezes maior do que a observada nas funções em todo o Brasil (75,9%), além de ser quase duas vezes superior à expansão em todas as atividades econômicas somadas em nível local, conforme o estudo do Dieese.

Os desligamentos por morte de profissionais de enfermagem (considerando auxiliares, técnicos e enfermeiros) e de médicos no Amazonas aumentaram 11 vezes, sendo 1.000% superiores à quantidade registrada no mesmo trimestre do ano passado, ao passar de 1 (2020) para 11 (2021). Em relação ao trimestre anterior (1), o acréscimo também foi de 1.000%. No país, houve aumento anual de 78,3% – 435 (2021) contra 244 (2020). De acordo com o Dieese, o número do Estado também é maior do que o crescimento dos desligamentos totais.

A pesquisa não apresentou dados desagregados nos demais setores econômicos. Entre todas as atividades econômicas, as que apresentaram maiores crescimentos proporcionais no número de desligamentos por morte no comparativo trimestral por ano foram as de eletricidade e gás (+142,1%) – de 38 (2020) para 92 (2021) – e de informação e comunicação (+124,2%) – 435 (2021) contra 194 (2020). 

Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+114,6% e 337 casos), educação (+106,7% e 961) e transporte, armazenagem e correio (+95,2% e 2.479) vieram em seguida. Em números absolutos, as maiores baixas se deram entre os trabalhadores do comércio e reparação de veículos (4.427 e +71,1%), indústrias de transformação (4.023 e +68,1%) e atividades administrativas e serviços complementares (3.170 e +78,7%).

Segunda onda

O diretor adjunto do Dieese, José Silvestre, observa que os Estados da região Norte do país registraram um crescimento de casos de desligamentos por mortes no mercado formal em um nível muito acima da média, no período analisado pela sondagem. A cronologia antecipada do Amazonas no começo da segunda onda, e a maior proporção de trabalhadores nas atividades mencionadas ajudam a explicar os números, conforme o dirigente. 

“O boletim mostra essa grande perda de vidas no ambiente de trabalho, em razão da covid-19. Destacam-se os serviços, até porque este é o setor que mais emprega no país. No caso específico do Amazonas e, particularmente, de Manaus, que concentra mais de 90% do emprego formal do Estado, houve o impacto inicial e mais forte da segunda onda. Não tenho os dados desagregados por município, mas isso é um fato que chama a atenção”, comentou. 

Pelo mesmo motivo, José Silvestre lembra que os profissionais que estão na linha de frente do combate a pandemia, a exemplo de médicos e enfermeiros, são os que são proporcionalmente mais suscetíveis a morrer trabalhando, vítimas do novo coronavírus. Sobre os motivos para os números, o diretor adjunto do Dieese diz que é difícil precisar isso pelos dados do estudo, mas ressalta que a situação no mercado de trabalho certamente é ainda pior. 

“Devem ser trabalhadores que estão mais expostos ao vírus, ou que não puderam contar com o distanciamento social necessário, ou mesmo que não tiveram cumprido todos os protocolos. É uma suposição e não dá para afirmar. Mas, é bom lembrar que esses dados se referem apenas ao mercado formal e celetista de trabalho. Não temos números respectivos para o chamado mercado informal, mas certamente também devem ter ocorrido muitas mortes de trabalhadores por lá”, concluiu. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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