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Desenhando os caminhos do negócio

Em tempos de “canva”, o designer “raiz” vale ouro! Arrisco-me a começar a coluna com essa frase porque nesses últimos anos estamos assistindo o conhecimento técnico ser substituído e muitas vezes sucateado pelo surgimento de ferramentas digitais que oferecem ideias e templates prontos para qualquer usuário se autodenominar designer. Não é verdade?

Quando me apaixonei pelo mercado digital, ele estava ainda no início, e eu precisava entender o conceito de “Design Thinking” e adaptá-lo aos modelos de negócios inovadores. Criar empatia, definir, idealizar, prototipar e testar, era a receita do bolo para se entrar no mercado ou desenvolver empresas de sucesso. Alguns anos depois li um livro chamado “Isto é Design de Serviço na Prática: Como Aplicar o Design de Serviço no Mundo Real: Manual do Praticante” dos autores Marc StickdornAdam LawrenceMarkus Hormess e Jakob Schneider.  Nunca tinha escutado falar sobre “Design Serviço” até então e comecei a entender, etapa por etapa, as relações de serviço que envolvem uma empresa, e claro, o serviço como produto principal.

E você deve estar se perguntando por que estou começando esta coluna falando sobre isso. Porque quando a gente fala sobre desenvolver peças de comunicação visual para publicações impressas, como jornais, revistas, livros ou materiais publicitários, a gente está falando sobre o design gráfico. Se o profissional é focado nos tipos de mídia eletrônica e online, como edição de vídeos e animações, além de desenvolvimento de aplicativos, sites e jogos, estamos falando sobre o design digital. Se o tema é sobre formatos diferenciados, composições de cores ou grafismos e layouts criativos, o profissional responsável é o designer de embalagens e produtos. Se o foco é a criação e o desenvolvimento de peças para a internet, como websites, páginas de empresas, conteúdo para blogs, anúncios e lojas virtuais, entre outras, visando a segurança, a praticidade de navegação e o visual, entra em campo o Web Designer. Quando o objetivo é criar o “branding” da empresa, o que envolve toda a gestão de uma marca, considerando os elementos que a representam visualmente, caracterizando a sua assinatura institucional, é o designer quem assume esse trabalho de pesquisa, que alinha a alma da empresa à imagem que se deseja transmitir aos diversos públicos. Cabe a ele também a criação de um logotipo exclusivo, a definição de cores e fontes que serão utilizadas para compor materiais corporativos, como cartões de visita e itens de papelaria, além das peças publicitárias.

Mais do que criar itens esteticamente agradáveis, o design se preocupa em suprir necessidades e facilitar o uso de produtos e serviços. Ou seja: o objetivo dos designers é desenvolver projetos que atendam às demandas do cliente com o máximo de eficiência, utilizando um conjunto de ferramentas, técnicas e práticas para fomentar o surgimento de ideias inovadoras, tendo o público-alvo como referência.

Expliquei tudo isso a vocês para dizer que a minha convidada desta semana é a publicitária Berta Nery, idealizadora da Agência Digital Ideaholics. E seu modelo de negócio consiste exatamente em utilizar o Design como base para todas as ações que envolvem sua empresa.

Berta é especialista em Branding e Design Thinking pelo IED-Rio (Istituto Europeu di Design) e mestranda em Design pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Ela atua no mercado publicitário desde 2011 e, mais especificamente, na Ideaholics, há seis anos. Ela começou como um freela, com o objetivo de aumentar a renda. Contudo, foi tão grande a aceitação no mercado que a publicitária passou a ser mais empreendedora que funcionária. Em 2016, saiu da agência em que trabalhava para empreender fulltime na Ideaholics.

Fale um pouco sobre você. Existe algum empreendedor em sua família? Tem alguém como modelo?

Eu sou publicitária e, acho que publicitário por natureza já é empreendedor. Eu cresci vendo meus pais – meu pai engenheiro e minha mãe administradora e designer de interiores, empreendendo paralelamente aos seus trabalhos. Eles sempre tiveram a veia empreendedora e eu me espelho muito neles. Além de publicitária, também tenho um negócio de drinks, a TINTIM drinks (@tintim.drinks, no Instagram, pra quem quiser conhecer e contratar para uns “bons drinks”).  Por conta da pandemia, mesmo com as duas doses da vacina no braço, mesmo algumas festas acontecendo clandestinamente, a gente fica com receio, então estamos fazendo apenas eventos fechados e para poucas pessoas, em ambientes bem arejados. E, claro, tivemos que nos adaptar à atual realidade, e estamos com o projeto de kits para consumir em casa. A ideia é que o cliente prepare o seu próprio drink, partindo do princípio de que se você não pode ir à festa, faça a festa em casa! Além disso, usamos como uma forma de estreitar laços com o nosso público.

Qual sua formação? Você já teve alguma experiência com o Empreendedorismo antes?

Sou formada em Publicidade e Propaganda, especializada em Marketing e em Branding e Design Thinking. Agora, estou cursando o Mestrado em Design. Acredito que a minha primeira experiência com empreendedorismo, de fato, que eu me recordo, foi ainda no colégio. No 3º ano do ensino médio, eu queria muito viajar pra Disney com os meus amigos e daí, eu e uma amiga na época, fizemos um brechó online, isso em 2008/2009, onde essa questão das redes sociais não era tão forte como hoje, mas já existia, sendo o Orkut, o mais popular. Criamos um blog e perfis no FacebookInstagram e Orkut. Usamos também muito boca a boca, divulgando entre nossas amigas, os amigos de amigos. Vendíamos roupas que não usávamos mais, e peças terceirizadas pelas quais ganhávamos comissão. E assim, fomos pra Disney!

Como surgiu a ideia de montar a Ideaholics?

Confesso que muito despretensiosamente. Eu trabalhei em algumas agências de Manaus, de 2011 a 2016, comecei estagiando, claro. E na minha turma da faculdade, poucos colegas tinham contato direto com a área. E eu, antes de fazer Publicidade, fiz Relações Públicas, na UFAM, mas não concluí. Então, em 2011, eu já tinha contato com o universo da comunicação. E como eu já tinha esse contato, era muito comum um professor da faculdade me indicar algum cliente, o cliente gostava e me indicava para amigos e assim foi indo. Em 2016, eu estava trabalhando em uma agência em Manaus, e já tinha um CNPJ, pelo MEI do Sebrae, porque alguns clientes precisavam de nota fiscal. De repente, parei pra fazer as contas e percebi que já estava ganhando pela ideaholics, o mesmo que ganhava na agência. E ganhava bem. Então, decidi tirar um ano sabático de agências e trabalhar por conta própria. E ainda bem, sempre tive clientes muito satisfeitos e foi dando certo. Até hoje.

Quanto tempo levou do momento que você teve a ideia até vender para o seu primeiro cliente?

Na verdade, sem eu perceber, o primeiro cliente veio antes mesmo da Ideaholics ser Ideaholics. Comecei em 2012, mas formalmente apenas em 2016. Antes disso, ela existia meio sem querer, né? “Sem nome, sem documento”, parafraseando Caetano. No meu caso, as coisas aconteceram na ordem inversa.

Qual é o seu papel na empresa? Quais foram as suas maiores dificuldades para colocar a empresa no mercado?

Na Ideaholics, eu estou na linha de frente, na estratégia e na criação. Também atuo no primeiro contato com alguns clientes. A maior dificuldade, acredito que é a de todos os colegas da área: o pouco reconhecimento por parte da clientela que acaba por desvalorizar o trabalho que não se resume a uma arte gráfica, ou a uma publicação nas redes sociais. Comunicação vai além: é técnica – porque Publicidade é técnica, tudo, desde o texto à finalização de um anúncio. Design é técnica também. Então, na comunicação de uma marca tudo é estratégia, inclusive a própria marca. Acredito que ela se popularizou sem que fosse feito um certo ordenamento antes.  Todo mundo começou a “fazer” publicidade, marketing digital, muitas vezes sem a técnica – formação, conhecimento, estudo, enfim.

Isso desvalorizou o profissional. Também acredito que muitos empresários e empreendedores, tiveram um contato, talvez, não tão profissional e acabaram se “decepcionando”. E por atender alguns clientes de rebot (vindos de experiências negativas com outros atendimentos), quando detectamos que há uma certa resistência no cliente oriundas desse passado, fazemos uma espécie de reeducação, explicando os procedimentos, o que é, qual a importância. O ponto legal disso, é que abriu uma oportunidade para a gente trabalhar com mentoria de marcas. Criamos a Ideaholics Academy, onde fazemos mentoria de empresa ou projeto, geramos plano de ação da marca, sempre de forma colaborativa A gente + o Cliente. É dedicado a quem tem muito potencial, mas pouca capacidade para investimento. Falamos sobre branding, estratégia de marca, comunicação, identidade visual e verbal, todo esse universo da marca. O empreendedor sai sabendo tudo o que precisa para ativar o seu projeto.

O que você acredita que foi seu diferencial, sua maior habilidade para que o negócio começasse a crescer?

O conhecimento que agrego a técnica. Acredito que por sabermos o que e como estamos fazendo, sempre trazemos soluções, aliadas à estratégia e à criação. Usamos metodologia como o Design Thinking, que é totalmente voltada para o usuário. O próprio, o nome já diz (thinking = pensamento), então antes de iniciar qualquer projeto, avaliamos o posicionamento da marca.

Além da técnica, o que acredito ser um ponto muito fraco em Manaus é o atendimento. Implementamos como princípio na empresa a gentileza e a empatia em nosso relacionamento com o público. Gentileza porque, na minha opinião, é fundamental. E empatia, que inclusive é uma etapa do processo de Design Thinking, para entender as dores e necessidades da marca e do cliente. Assim, conseguimos orientar o cliente da melhor forma em relação a sua marca.

A pandemia deu um boom no mercado digital, porém algumas áreas foram afetadas terrivelmente nesse período. Como foi para vocês na IDEAHOLICS?

Sim. Se o digital antes já existia, hoje ele é fato. Indispensável, necessário, comum, chega até a ser o básico, em pleno 2021, na minha opinião. Com a pandemia, nós ganhamos e perdemos, literalmente. Com as incertezas do início, infelizmente, tivemos muitos clientes, cujos segmentos foram bem afetados pelo covid-19. Podemos citar como exemplo os salões de beleza. Grande parte deles não conseguiu manter-se ativo e acabou encerrando suas atividades. Em contrapartida, muitos negócios surgiram em meio a pandemia. Muitos comerciantes ou se reinventaram ou conseguiram formas de manterem-se ativos. Colegas de faculdade e conhecidos também começaram a empreender e puderam contar conosco para fazer acontecer. Então, também ganhamos contas novas nesse período.

Para você, o que é uma empresa de sucesso?

Uma vez, eu ouvi, dentro de uma agência onde trabalhei que “o sucesso da empresa era se manter firme nos seus primeiros cinco anos”. Esse comentário ficou ressoando na minha cabeça por um bom tempo. Não sei se concordo, ou discordo. Acredito sim que uma empresa existir, ativamente, há mais de tantos anos é um índice bom. Mas, para mim, sucesso mesmo é realização. É você gostar do que faz. É você sentir que faz a diferença com o seu trabalho, com a sua empresa, com a sua marca. Fomentar o seu mercado. Ver um cliente satisfeito, apaixonado pela sua marca. E claro, o meu lado racional: a saúde financeira da empresa estar em dia. Isso é muito importante também! Gerar empregos, fazer o capital a movimentar, estar com os boletos em dia.

Se você tivesse um recado para o seu eu do passado, o que você diria?

Berta do passado, tenha coragem e persista! Não é fácil, não é menos trabalhoso, não é menos cansativo, mas a Berta do presente, faria tudo de novo! Não tenha medo de empreender. Empreender é libertador!

Que recado você daria para aqueles que querem empreender, mas ainda não começaram?

Comece. De algum ponto, de algum jeito. Eu acredito que esse primeiro ponto, principalmente, se você não tem muito dinheiro, é o planejamento. Planejar, estudar, analisar, entender, testar. Os próximos passos são consequência do primeiro, e por ter planejamento, você vai saber qual é o próximo passo.

Foto/Destaque: Divulgação

Raquel Omena

é especialista em negócios digitais, editora da coluna Mais Empresárias
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