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Demissões em nível de alerta

Demanda por seguro-desemprego no Amazonas tem maior aumento desde a primeira onda da pandemia

A demanda por seguro-desemprego no Amazonas cresceu pelo terceiro mês seguido e voltou ao patamar apresentado na primeira onda de Covid-19. O número de requisições avançou 9,22% entre 6.510 (fevereiro) e 7.110 (março), além de superar em 6,26% o registro de 12 meses atrás (6.691) –quando o Estado ainda ensaiava sua saída da segunda onda. Também foi o maior número apresentado desde maio de 2020, período em que a economia amazonense começava a passar pelos ciclos de flexibilização após o primeiro surto do novo coronavírus.

Os trabalhadores dos setores de serviços voltaram a liderar a procura com 2.542 pedidos. Mas, em sintonia com a crise aberta pelo decreto que reduziu em 25% a alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para similares nacionais e importados, foi a indústria da ZFM (Zona Franca de Manaus) que sofreu o maior baque anual. O crescimento na busca pelo benefício entre trabalhadores do setor foi de 24,56%, nesse tipo de comparação, elevando a quantidade de requisições de 1.592 (2021) para 1.983 (2022). 

A procura local pelo seguro-desemprego foi mais forte na segunda quinzena de março (4.014) do que na primeira (3.096), sinalizando aceleração das demissões. Mas, vale notar que a média nacional foi pior. A maioria das requisições vinha de amazonenses do sexo masculino (64,25% do total e 4.568 registros), com 30 a 39 anos de idade (34,78% e 2.473), contando com ensino médio completo (76,54% e 5.442) e que ganhavam um salário mínimo e meio (42% e 1.684). 

O Estado já acumula 19.928 solicitações no trimestre, 17,43% a mais do que o registrado nos três meses iniciais de 2021 (16.971), apesar da fraca base de comparação. A indústria, por outro lado, contabilizou 5.611 pedidos de seguro-desemprego no mesmo período, o que corresponde a um incremento de 65,52% no confronto com os dados de igual período do ano passado (3.390). Os números foram extraídos da base de dados do Ministério do Trabalho e Previdência.

Importados x PPBs

Segundo o presidente do Sindmetal-AM, Valdemir Santana, a maior procura por seguro-desemprego no Estado, especialmente na indústria, já se deve à insegurança generalizada para os investimentos na ZFM promovida pelo decreto 10.979/2022, a despeito das expectativas da indústria incentivada em torno da excepcionalização dos produtos do Parque Industrial de Manaus, mantidas até o final de março. No entendimento do sindicalista, que também preside a CUT-AM (Central Única dos Trabalhadores do Amazonas), a confirmação do desconto do IPI, pelo decreto 11.047/2022, tende a piorar o cenário.

“Sem a alteração do decreto, prometida pelo presidente da República e seu ministro da Economia, grande parte das empresas tende a trazer tudo de fora. Afinal, a medida beneficia principalmente os importados. Em um panorama assim, por que produzir? Empresas que planejavam introduzir um terceiro turno pararam de contratar e até começaram a demitir. O Estado é uma ilha e precisa desse incentivo. Além disso, o governo federal está brecando os PPBs (processos produtivos básicos) da Zona Franca, como o da indústria de LED. Deixamos de gerar uns 13 mil empregos, por conta disso”, desabafou.

“Queda de braço”

A conselheira do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, ressalta que 2021 foi um ano de retomada do PIM ao patamar de mais de 100 mil empregos, apesar das dificuldades impostas pela pandemia. Na análise da economista, o crescimento de 24,56% dos pedidos de seguro-desemprego da atividade industrial em relação a março de 2021 reflete uma acomodação da atividade econômica. Ela ressalva, entretanto, que os dados podem indicar também as incertezas em relação à queda de braço travada entre o governo federal e o modelo ZFM em torno do decreto do IPI. 

“A redução do Imposto sobre produtos Industrializados ocasiona perda de competitividade do produto local, ao aproximar o custo tributário entre a produção regional e a produção nacional. E não podemos esquecer que o IPI constitui o principal elemento da cesta de incentivos fiscais do PIM, sendo relevante para a competitividade do modelo”, destacou.

“Planejamento de produção”

Já o vice-presidente da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – seção Amazonas), e gestor de Relações Trabalhistas, Francisco de Assis, lembra que, em condições normais, a chegada do segundo semestre tende a reduzir os processos demissionais, em razão do aquecimento sazonal da economia do Estado. O dirigente ressalva, contudo, que isso depende dos impactos da pandemia –com o recrudescimento dos casos na China –e da guerra na Ucrânia no cenário macroeconômico mundial.

“Sabemos que a maioria das indústrias do PIM depende de insumos importados para produzir, principalmente vindos da China. Caso essa situação se agrave, podemos ter uma retração nesse crescimento previsto para o segundo semestre. Automaticamente, as empresas terão de adequar seus quadros para enfrentar esse novo momento da economia, basicamente com redução de empregos”, ponderou. 

Mas, segundo o vice-presidente da ABRH-AM, a variável de maior peso segue sendo o cenário de incertezas aberto pela crise do IPI, confirmada pelo decreto 11.047/2022, embora Assis avalie que seus efeitos tendem a ser de mais longo prazo. “Não acredito que essa redução do imposto vai impactar na geração de empregos nas empresas já existentes no PIM. Avalio que vai permanecer todo o planejamento de produção e vendas das indústrias. Isso é mais impactante para os novos projetos, pois gera mais insegurança para a sobrevivência dos incentivos fiscais para as próximas décadas e anos”, ponderou

Ano político

Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, salienta que 2022 já seria um ano de desaceleração dos investimentos para o setor, em decorrência da instabilidade política em um ano político, em decorrência da “corrida presidencial”. Mas, conforme o dirigente, o imbróglio do IPI piorou uma situação que já era ruim.

“É natural que a questão do IPI tenha acentuado esse panorama. As indústrias, em especial as de segunda necessidade, grande maioria das instaladas no Polo Industrial de Manaus, já enfrentavam problemas decorrentes da crise econômica e do desabastecimento de insumos a nível global. Algumas empresas estão optando por refrear novos investimentos, até que tenhamos este impasse sanado. Continuamos trabalhando, tecnicamente e politicamente, para construir uma solução definitiva para o problema”, asseverou.

Já o presidente da Aficam, Roberto Moreno, concorda que a indústria incentivada de Manaus vem sentindo dificuldades desde o começo dos entraves logísticos e de fornecimento de insumos, decorrentes da crise da Covid-19, mas acrescenta que não dá para falar em demissões em massa, ou de eventuais impactos do decreto do IPI. “Ainda é um pouco prematuro falar em demissões, diminuição de insumos. Contratações é um tema mais sensível e, desde o começo da pandemia, tem que ser avaliado com mais atenção. Aguardar como a situação ficará na prática, é o mais sensato”, finalizou

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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