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Decreto condiciona público a apresentar carteira de vacinação

O novo decreto estadual, que entra em vigor na próxima segunda (23), vai estender o horário de funcionamento para diversos setores, até a madrugada – encerrando o toque de recolher. A nova flexibilização veio no rastro da ampliação do processo de imunização contra a covid e de um relativo refluxo nas estatísticas da pandemia. A mudança, contudo, veio condicionada à entrada da iniciativa privada no esforço para aumentar a vacinação e a testagem no Estado, condicionando o fluxo da clientela a essas duas variáveis, conforme o setor. A novidade não foi bem recebida por todos os empresários.

As mudanças foram anunciadas pelo governo estadual, nesta sexta (20), horas depois da realização de reunião do Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Covid-19. Eventos sociais poderão ocorrer até às 3h com limitação de até 200 pessoas, enquanto feiras e mercados poderão funcionar com 75% de ocupação e estará liberado o consumo de alimentos nesses espaços. Mas, hotéis e pousadas terão seu funcionamento restrito aos hóspedes em trânsito, deverão exigir teste rápido de antígeno ou RT-PCR dos frequentadores. 

Bares e similares poderão funcionar até 3h, com 75% de ocupação, mas o ingresso do frequentador será condicionado à apresentação da carteira de vacinação, com pelo menos a primeira dose da imunização. Flutuantes estarão autorizados a funcionar das 7h às 18h, com música ao vivo com até três componentes no grupo musical. As alterações foram apresentadas e debatidas com os órgãos de controle e com representantes dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo municipal. As medidas entram em vigor na segunda (23) e vão valer por 15 dias. 

“Mensagem errada”

O presidente da ABIH-AM (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Amazonas), Roberto Bulbol, contou à reportagem do Jornal do Commercio que vem participando de reuniões com a FVS-RCP (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto) e que o segmento vem tomando todos os cuidados possíveis para evitar a propagação da pandemia, incluindo a restrição de circulação de hospedes em determinadas áreas dos estabelecimentos. Ele lembra também que o Aeroporto Internacional de Manaus já conta com um posto do mesmo órgão oferecendo testes rápidos para quem chega à cidade.

No entendimento do dirigente, em tese, toda medida que contribua para reduzir riscos de propagação da pandemia é bem vinda, mas é necessário tomar cuidados para não depreciar a atividade, que foi uma das que mais sofreu com a crise da covid-19. De acordo com Bulbol, a taxa média de ocupação dos hotéis do Amazonas fechou pouco acima dos 19%, no primeiro semestre deste ano, quando o normal para o período seria estar entre 36% a 42%.

“O turismo está no chão. Turista estrangeiro não existe, até mesmo pela falta de acesso e de avião. E os brasileiros que vem aqui já conhecem os cuidados necessários. Temos que tomar todo o cuidado para não passar a mensagem errada e assustar os turistas, engessando de vez a atividade, que já vinha se recuperando lentamente. Acredito que essa medida deveria ter sido tomada meses atrás, quando a vacinação estava em ritmo menor. Mas, o fluxo de hospedes é tão pequeno, que nem sei dizer qual será seu impacto real”, lamentou.

“Avanços e retrocessos”

Embora a Abrasel-AM (Associação Nacional de Bares e Restaurantes – Seção Amazonas) tenha abraçado a inciativa e esteja promovendo uma campanha em prol dela, nem todos os empresários dos segmento veem as mudanças com total simpatia. Para o proprietário do Salomé Bar e do All Night Pub, Rodrigo Silva, o novo decreto trará “avanços e retrocessos”. 

“Considerando a ampliação do horário e da capacidade para 75%, claro que a tendência é que o faturamento aumente, e isso deve ajudar muito a pagar as dívidas que se acumulam. Agora, incluíram também a obrigatoriedade da apresentação da carteira de vacinação. Isso poderia ter sido feito há um ou dois meses atrás. É frustrante, porque já poderíamos ter recuperado um pouco mais do prejuízo e, uma vez adotada essa estratégia, não deveríamos ter as restrições de 75% e de horário”, desabafou. 

Segundo Rodrigo Silva, julho e agosto permitiram que as vendas já correspondam a 80% da média pré-pandemia. Mas, a empresa estaria faturando “no limite do possível”, sendo insuficiente para fazer frente ao custos pela inflação e pelas dívidas. O empresário diz que ainda não é possível transferir o passivo ao consumidor, fato que “aperta” ainda mais a margem de lucro e a capacidade de pagamento de débitos que já foram jogados para frente antes, e que agora não podem mais ser renegociados. Para  o dirigente, a penúria do segmento e a dificuldade de fiscalização podem contribuir para que a nova norma ‘não pegue’ – seguindo tradição brasileira. 

“Vamos ver como a população vai se comportar, espero que não haja resistência. Dificilmente um empresário vai deixar seu bar ou restaurante falir, por uma medida como essa. Até porque, até ontem, o acesso dos clientes era irrestrito, seguindo as normas de capacidade e de horário. Quem já está acostumado com as arbitrariedades das fiscalizações diárias, vai seguir o que for determinado, mas um bar que está esquecido, não vai fazer essa exigência”, alertou.

Estado ainda está na fase laranja

Texto divulgado pela Secom (Secretaria de Comunicação Social) informa que a RT (taxa de transmissão) no Amazonas está em 0,93 – cada 100 infectados transmitem a outras 93 pessoas. Nos últimos 14 dias, a média móvel de novos casos de covid-19 caiu 38% no Estado, enquanto a mesma medida para as mortes pela doença caiu 39%. Os indicadores avaliados pelas autoridades sanitárias apontam que o Amazonas segue na fase laranja da pandemia, o que corresponde a risco moderado para a transmissão do novo coronavírus.

No mesmo texto, o governador Wilson Lima destaca que o Amazonas “segue vigilante” em relação à pandemia, ao mesmo tempo em que aponta que os casos de internação seguem caindo, enquanto a vacinação avança, em razão de um conjunto envolvendo União (regularidade no envio de doses), órgãos do Estado (distribuição e auxilio em mutirões de imunização) e prefeituras (aplicação dos imunizantes).

“A gente não tem dúvida que essa queda nas internações é reflexo da vacinação e do período sazonal, no qual os casos de síndrome respiratória aguda grave caem naturalmente. (…) Por isso, quem ainda não se vacinou, na capital ou no interior, procure um posto. Isso é importante para que a gente volte o mais rápido possível para a normalidade das nossas vidas. A vacina é a arma mais poderosa contra a Covid-19”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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