É possível, desejável e pertinente, nos países democráticos e aderentes às normas civilizadas do capitalismo, a direta intervenção da sociedade nos rumos da economia, exercitando apenas e tão somente o poder do consumo sobre a inexorável lei da oferta e da procura. É oportuno analisarmos essa questão neste momento em que o Copom (Comitê de Política Monetária) acaba de aumentar, para 7,5% ao ano, a taxa básica de juros, a Selic, na esteira do anúncio do IBGE de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medidor oficial da inflação brasileira, acumula alta de 6,59% em 12 meses, superando, portanto, o teto de 6,5% estipulado pelo Banco Central.
O tomate vem sendo considerado o vilão da inflação, com majoração acumulada de 122,13% em 12 meses. Ora, paremos então de consumir o saboroso vegetal. Se fizermos isso, seu preço não só deixará de subir, como certamente cairá. Obviamente, o tomate não é o responsável sozinho pelas pressões inflacionárias (e ainda há que se considerar ser essa uma das poucas vezes em que o sofrido produtor tem preço que o remunera com dignidade). Entretanto, o grupo “alimentos” significou 60% do índice inflacionário de março. Num país como o nosso, de imensa diversidade hortifrutigranjeira e agropecuária, é perfeitamente possível substituir produtos sazonalmente mais caros por outros mais baratos. Esse é apenas um exemplo de como é grande a capacidade de influência econômica da população.
Do mesmo modo, o poder de intervenção dos consumidores é decisivo nos resultados de nossa balança comercial, que apresentou preocupante e inusitado déficit no primeiro trimestre deste ano. Entre um produto importado com a mesma qualidade e preço do nacional, deveríamos sempre dar preferência ao fabricado aqui. O melhor é que, ante a decisão de compra soberana do cidadão, não há punições da Organização Mundial do Comércio (OMC), ameaças de retaliações e polêmicas com nossos parceiros comerciais, como costuma acontecer quando o Brasil ou qualquer país adota medidas consideradas protecionistas.
A consciência da sociedade sobre seu imenso poder de influência, por meio da simples decisão de consumo, é um dos principais instrumentos a serviço da economia nas nações democráticas. Por isso, talvez fosse o caso de campanhas institucionais do poder público e da indústria, tão afetada hoje pelos importados, e ações espontâneas da mídia, lembrando aos brasileiros a força de seus gastos como indutora da expansão do PIB e do desenvolvimento e balizadora dos preços médios da economia. Mesmo que, vez ou outra, tenhamos de vencer a tentação de comer tomate ou vestir uma camiseta da Rodeo Drive…
Decisão mais eficaz para controlar inflação
Redação
Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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