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Da trincheira, atirando em tudo e todos

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A capa do livro já é uma provocação: uma mão dedilhando um sol maior no violão, porém, com uma mensagem subliminar, afinal para o músico, compositor e maestro, Adelson Santos a vida só tem graça se você reclama e protesta contra tudo e contra todos. Não por acaso está marcada na mente dos manauaras a música ‘Não mate a mata’, grande sucesso de Adelson no início da década de 1980 nas rádios de Manaus. Um grito em favor da floresta amazônica.

Agora o artista se prepara para lançar ‘Nas trincheiras da clorofila – onde os artistas enlouquecem de solidão’, seu quinto livro, o segundo onde ele resolveu soltar os bichos. “Este livro não é uma continuidade do primeiro, mas nele o autor novamente se revela como um exímio observador da vida e um crítico mordaz daqueles que vivem nas sombras, obnubilados de tanta ingestão de clorofila”, escreveu o professor Enos Rodrigues, na orelha do livro.

No livro passado ‘Música profissão de risco: a dialética de uma visagem estética no reino da clorofila’, Adelson contou toda a sua trajetória na música: com os colegas de adolescência, tocando violão nas calçadas de Aparecida; formando a banda The Rocks, uma das primeiras a tocar em Manaus o novo estilo musical, no final da década de 1960; sua ida ao Rio de Janeiro em busca de fama; a desilusão; o retorno a Manaus e o sucesso inesperado com os discos gravados na cidade maravilhosa e trazidos dentro de caixas de papelão, no início da década de 1980.

“Eu me transformei numa visagem porque depois que ‘estourei’ com minhas músicas nas rádios e canais de televisão de Manaus, fui desaparecendo até ninguém falar mais de mim, como é a sina da maioria dos artistas”, reclamou. “Reino da clorofila porque me dirijo a nós, aqui do meio da floresta. Agora, novamente, a clorofila está de volta, no título do livro. Nas trincheiras, porque é onde os artistas ficam enquanto enfrentam a guerra que é se manter em evidência”, disse.

“Adelson não se alia a nenhum grupo musical ou a alguma ‘patota’ improdutiva de pretensos artistas que, de arte, tão pouco entendem, particularmente, de música, e continuam a repetição enfadonha do dois pra cá e dois pra lá tão surrado”, completou Enos.
“O autor nada tem de guru ou de conselheiro. Ele desnuda o conformismo, a dependência e a falta de uma postura crítica daqueles que se curvam às ordens e aos desejos do dono das artes em Manaus. Questiona, com muita propriedade, a minguada produção artística em que nada existe de novo, de revolucionário, de atual”, concluiu Enos.

Muita pretensão
“O nome do livro seria ‘Axiomas’, mas achei que seria muita pretensão, então optei por esse título.
Na realidade são pensamentos, jatos de reflexão que me surgem a todo momento, então os gravo ou escrevo. Já tenho mais de 500 deles escritos e selecionei alguns para o livro”, explicou.
‘Nas trincheiras da clorofila’ está dividido em três partes: dos artistas e da arte; da política e da cultura e das coisas.

“Quando digo ‘verdadeiro artista’ me refiro àquele que conhece os fundamentos teóricos da sua arte, que estudou e aprendeu suas técnicas e tem consciência da evolução histórica da linguagem. Entretanto, nem todos podem concretizar o desejo de estudar e aprender arte. Por que?

Porque no Brasil patrimonialista, onde os governantes corruptos consideram o Estado como seu patrimônio, não existem políticas educacionais para a preparação do artista e do conhecimento artístico”, escreveu em um dos textos.

“Eu costumo criticar a civilização na qual vivemos”, disse na sua forma característica de encarar o mundo.
“Claro! Tenho que cuspir no prato que comi.

Enjoei de comer feijão com arroz no almoço e no jantar. Já faz quase um século que estou nessa dieta. Se a gente olhar direitinho, dá pra perceber que a viga central está podre, infestada de cupins, fora de prumo, cheio de parasitas peçonhentos, de marginais saqueadores e, de vez em quando, dá uma balançada”, conclui num dos textos sobre a sociedade atual.

Porém, na terceira parte do livro, e no último texto, um raio de esperança do maestro. “Vai demorar, não sei quanto tempo, pra gente solucionar a montanha de problemas que a cada dia aumenta mais.
Mas é preciso botar fé e acreditar que é necessário construir um novo mundo e uma nova sociedade”.
Adelson prepara o lançamento do livro para o início do próximo mês enquanto continua a compor canções e escrever axiomas de protesto.

Dando a cara a tapa
“Um dia, notei que havia acumulado reflexões suficientes que dariam para escrever um calhamaço com mais de trezentas páginas. Confesso que fiquei cheio de dúvidas se valeria a pena fixá-las em palavras escritas. É que eram pensamentos muito pessoais e muitas vezes particulares sobre a minha vida, sobre as pessoas, sobre arte, sobre a política, enfim, sobre minhas idiossincrasias a respeito de tudo que minha consciência conseguiu penetrar e refletir nessa breve passagem do espaço e do tempo. E depois de muitas dúvidas selvagens, resolvi pelo sim, ou seja, resolvi entregar a minha cara a tapa, se vai chorar, se vai se espantar, se vai se alegrar, se vai contribuir para melhorar alguma coisa na cabeça ou no coração de algum leitor, aí cabe ao leitor opinar e decidir”.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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