Arildo Mendes compete com as mais modernas máquinas fotográficas. A diferença é que as máquinas captam uma imagem em segundos, enquanto ele, para pintar a mesma imagem, leva quase duas semanas, porém, seus quadros são verdadeiras preciosidades artísticas.
Arildo Andrade Mendes, 37, nasceu na ilha que fabrica artistas, Parintins, e desde criança já gostava de rabiscar desenhos, casinhas, barquinhos.
Na adolescência, Arildo até tentou se matricular na escola de artes do irmão Miguel De Pascale, o missionário da arte que, por mais de 50 anos ensinou os jovens parintinenses a desenhar, pintar e fazer esculturas, mas a escola estava sempre lotada de alunos.
“Eu via os desenhos e pinturas dos artistas dos bois Garantido e Caprichoso e queria fazer igual. Em 2000, com 17 anos, apresentei uns trabalhos na Associação dos Artistas Plásticos de Parintins e fui aceito como associado, mas não conhecia nada de material, de tintas, de pincel, de tecidos para a tela. Pintava quadros com tinta de pintar parede”, riu.
“Naquele ano participei de um concurso de cartazes dos 500 anos do descobrimento do Brasil e o pessoal criticou o meu trabalho. Fiquei muito triste. Pensei em desistir”, lembrou.
Mas a virada de Arildo aconteceria no ano seguinte. Um empresário de Manaus criou um concurso para a escolha de desenhos dos dois bumbás que estampariam as camisas que ele produziria para vender na sua loja.
“Pela primeira vez eu usei material profissional e ganhei com os desenhos para estampar as duas camisas. Aí começaram a me elogiar”, contou.
Em Parintins, Arildo participou de outro concurso, agora para o desenho do cartaz das festas de N. Sra. do Carmo, e ganhou também, concorrendo com muitos outros artistas, inclusive dos bois. O artista se revelara.
Um quadro atrás do outro
“Em 2001 vim para Manaus, servir à Marinha e parei de pintar. Quando dei baixa, no ano seguinte, voltei para Parintins, desempregado. Chamei outros amigos, que também pintavam, para abrir um ateliê. Vendíamos quadros para turistas, mas custavam R$ 30, R$ 40, reais. O dinheiro só dava porque eu ainda vivia com meus pais”, recordou.
Em 2003, observando os quadros hiper-realistas de Emerson Brasil, Glaucivan Silva, Paulo Pinheiro e Trindade, todos de Parintins, Arildo resolveu experimentar pintar naquele estilo.
“E não achei nem um pouco difícil. É trabalhoso, mas passei a pintar somente quadros hiper-realistas”, revelou.
Mas, sem ganhar muito dinheiro com seus quadros, Arildo curvou-se aos galpões dos bumbás e escolas de samba do Rio e São Paulo.
“Em 2006 fui trabalhar no galpão do Garantido onde fiquei até 2011. Em 2009 trabalhei no Rio de Janeiro e, em 2008 e 2012, em São Paulo. Nessa época eu já estava casado e com minhas duas filhas gêmeas. Era ruim ficar longe de casa por até cinco meses. Em 2013 resolvi largar os galpões e investir o dinheiro que tinha em material para voltar a pintar meus quadros. Na primeira exposição que fiz, em Parintins, expus cinco quadros e vendi quatro. Ganhei R$ 8 mil. No galpão do Garantido eu ganhava R$ 5 mil para ficar três meses realizando um árduo trabalho”, disse.
Desde aquele ano, pintando quadros hiper-realistas, Arildo vende todos os que pinta.
“Até agora não consegui fazer uma exposição individual porque nunca tenho quadros suficientes”, explicou.
O artista consegue manter uma rotina de trabalho.
“Trabalho das 8h às 11h e das 14h às 17. Às vezes ultrapasso as horas. Levo uns 12 dias para aprontar um quadro. Gosto de pintar quadros grandes, que vendo por R$ 3 mil, em média. Nunca vendi tantos quadros como neste ano de 2019. Divulgo meu trabalho pela internet e os turistas, brasileiros e estrangeiros, os veem e compram”, comemorou.
‘Parintins em Cores’, em Manaus
Quem quiser conhecer de perto duas das fotos, quer dizer, dos quadros de Arildo, poderá vê-las na exposição ‘Parintins em Cores’, que acontecerá a partir do dia 27, na Biblioteca Pública do Amazonas, em Manaus.
A mostra é composta por 29 obras de 14 artistas parintinenses integrantes do ‘Coletivo Parintins em Cores’ e retrata o cotidiano regional do município, assim como de suas origens indígenas e ribeirinhas.
Além de Arildo, os artistas que integram a mostra são: Afonso Filho retratando o dia a dia do ribeirinho; Altemar Ribeiro dominando a técnica com precisão na predominância da aerografia; Andrew Viana usando a técnica da aerografia e óleo com perfeição ao tratar a temática indígena; Augusto Tavares em óleo sobre tela para demonstrar a natureza; Emerson Brasil expressando sua arte através do corpo humano; Evanil Maciel com a espátula exprimindo o dia a dia de Parintins; Ian Barreto usando óleo sobre tela para evidenciar a vivência do ribeirinho; Josinaldo Mattos utilizando a aerografia e o estêncil em sua arte urbana e demonstrando primazia ao registrar cenas urbanas e etnias indígenas; Malú Moura, artista performática, manifestando o urbano; Miguel Carneiro com óleo sobre tela expondo sua arte; Paulinho Anselmo retratando com precisão em técnica mista temas indígenas; Pito Silva usando a aerografia em sua produção; e Trindade com tinta óleo mostrando seu mundo imaginário e lendas amazônicas.