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Crise e folia

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Falar do período carnavalesco, com toda a alegria, multidões pulando e deixando vazar todos os seus problemas acumulados no ano através dos gritos dos blocos e das escolas, seria mera redundância. Este é um período brasileiro onde tudo se esquece e só o samba e a cerveja dominam as preocupações de um povo que pode não saber em quem votar nas próximas eleições, pode até mesmo nem se preocupar no que vai acontecer naquela eleição que pode determinar o futuro de seu país, mas certamente fica ligado, emocionado e acompanha de perto o resultado das eleições que escolhem a melhor escola de samba, melhor enredo, mestre sala e porta bandeira e por aí vai.O desfile deste ano no Rio de Janeiro teve até mesmo o vi´s político, com escola criticando o prefeito, mesmo dependendo da ajuda do governo para estar alí, enquanto outra fez crítica mais geral, mostrando até mesmo um carro com alegoria que representava a corrupção no Palácio do Planalto. A questão maior no entanto, fica bem mais além da liberdade de expressão dos foliões de reclamar e lembrar as mazelas dos governantes contra o povo. O que mais me impressiona é o esquecimento, na hora de reclamar, em relação às filas nos hospitais, aos crimes que correm paralelos ao próprio carnaval como no caso do Rio de Janeiro.

Olhando as multidões participando do carnaval nos três dias consecutivos, o aparato utilizado para fazer possível as festas e a participação popular em toda esta festa, a alegria e certamente o consumo de bebida e o que se gasta com fantasias, não dá para esquecer de perguntar pelos quase quatorze milhões de desempregados e por todos aqueles que até bem pouco tempo reclamavam de não ter direito o que comer. Será que o carnaval tem este dom de apagar todas estas mazelas tão facilmente? Tudo vai voltar a ser cobrado, sentido na carne e repensado após os três dias onde não faltou dinheiro para dançar e beber?

Ah! A alegria do povo brasileiro, o tal jeitinho brasileiro tão intensamente divulgado como requisito deste povo que teoricamente está acostumado a suportar toda e qualquer mazela com um sorriso no bolso! Será mesmo que a barriga vazia, o filho sem escola e a família sem atendimento medico pode justificar que três dias de folia desmedida façam o papel de curativo ou mesmo de sedativo? Estou até agora a me perguntar e não encontro uma resposta coerente, pois vejo e conheço pessoas com problemas financeiros bastante complexos que não abrem mão de viver com bastante intensidade todas as vantagens do carnaval.

Enquanto isso o país continua vivendo seu carnaval de mazelas, com o poder público totalmente descontrolado em quase todos os setores, onde a segurança pública já perdeu o controle para os marginais, o poder legislativo fala em defender o povo mas perdeu o controle dos gastos de sua própria manutenção. O judiciário está perdido entre aqueles que entenderam que podem exercer seu papel e o querem fazer e aqueles que insistem em continuar servindo aos velhos donos do poder. O executivo cada vez mais entende que não executa mais nada e a equipe fichada do presidente tem no ministro da economia, que participou doi criticado Plano real, o único que ainda fala e faz alguma coisa coerente.
É um verdadeiro carnaval de atitudes e ideias que levam mais uma vez nosso país a um caos político e social, onde a cerveja que deixa o povo bêbado para aceitar a situação, são as benesses que esgotaram os recursos de nossas finanças por quase vinte anos, com esmolas sociais que levaram o povo a dançar conforme a música do grupo que queria dominar o poder e o conseguir até agora. O esgar do grupo com a possibilidade de prisão do chefe da gangue, pois ainda existe gente boa neste país de Deus, ainda faz estragos, porém o maior estrago está na incapacidade do povo de não entender as prioridades econômicas e sociais.

Jamais colocarei qualquer dúvida sobre o valor cultural, social e até mesmo econômico do carnaval para o nosso país pois este período faz com que hotéis fiquem lotados, renda circule em volumes que não se discute. No entanto, para um país que luta com índices de desemprego como o nosso, com trinta por cento da população na linha da miséria entre outras coisas, será justo escolher entre pular carnaval e deixar de comprar um prato de comida? A razão deveria levar as pessoas a ter mais cuidado ao escolher entre CRISE E FOLIA.

Orígenes Martins

É professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio
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