Pesquisar
Close this search box.

Crédito fica escasso ao micronegócio no Amazonas

A taxa de inadimplência dos micros e pequenos empresários amazonenses decolou e ajudou a reduzir o volume de concessões de empréstimos bancários, para as MPEs e MEIs, nos últimos três meses. É o que mostram os dados da décima edição da pesquisa “Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), e realizada entre 25 de fevereiro e 1º de março.

A parcela dos microempreendedores individuais, micro empresas e empresas de pequeno porte com dívidas em atraso no Amazonas disparou de 17% para 52%, no período. Na outra ponta, a proporção dos adimplentes despencou de 45% para 23%, enquanto a dos que afirmam não possuir qualquer tipo de pendência financeira caiu de 38% para 25%. Na média nacional, foram 34%, 35% e 31%, respectivamente.

Em torno de 51%, por outro lado, já buscaram crédito, até o começo deste mês, para garantir a sobrevivência dos negócios. Foi uma taxa menor do que a apresentada na virada de novembro para dezembro (60%) e ficou pouco acima da média brasileira (49%). No ranking nacional, a demanda foi maior no Amapá (72%) e no Pará (70%) e menor no Acre (19%) e em Roraima (32%)

Em contraste com a redução da procura pelo crédito, o percentual de empreendedores locais com pedidos negados aumentou de 61% para 66%. A quantidade de solicitantes que conseguiram o empréstimo diminuiu de 39% para 28%, enquanto a fatia dos que ainda aguardam resposta dos bancos foi de zero a 6%. Os respectivos números nacionais foram novamente melhores: 53%, 39% e 8%. 

Parceria e orientação

Tradicional parceira do Sebrae, a Caixa Econômica Federal voltou a se tornar a primeira opção de quem buscou financiamentos para sobreviver à crise da covid-19. A estatal federal respondeu por 37% da procura local, acima dos 32% contabilizados em dezembro. Em segundo lugar estão o Banco do Brasil e o Bradesco (ambos empatados com 19%), seguidos por Santander (17%), Itaú (8%), Banco do Povo (6%) e Sicoob (5%). Mas, nada menos do que 30% da demanda seguiu para “outros” canais não informados –mais do que o registrado em no final de 2020 (25%).

Vale notar que uma maioria esmagadora de 73% dos entrevistados no Amazonas nem procuraram orientação do Sebrae, percentual maior do que os 62% observados em novembro/dezembro. Em torno de 23% entraram em contato com a instituição, mas não foram direcionados ao banco público, mostrando melhora relativa sobre o levantamento anterior (31%). Por outro lado, apenas 3% passaram por ambos, uma fatia menor do que a capturada no fim de 2020 (7%) –e também a menor do país.

A concessão ficou mais concentrada e, assim como ocorrido no âmbito da demanda, a Caixa Econômica retomou a liderança, no mesmo ritmo dos pedidos (37%). Em segundo lugar, o Bradesco (23%) apresentou taxa de empréstimo superior à procura do período. Na sequência, vieram Itaú (18%), Banco do Povo (17%) e Banco do Brasil (5%). Santander e Sicoob não aprovaram empréstimos, enquanto a opção “outro” respondeu por 11% da oferta, no intervalo assinalado pela pesquisa.

Nesta edição da pesquisa, no lugar de ser indagados sobre empréstimos via maquininhas de cartão, os empreendedores do Amazonas foram questionados qual medida governamental mais importante o governo federal poderia fazer para compensar os efeitos da crise da Covid-19 nos pequenos negócios. A maioria (50%) pediu a extensão de linhas de crédito com condições especiais, a exemplo do Pronampe. Em segundo lugar está a extensão do auxílio emergencial (26%), seguido por moratória de todas as dívidas (11%), adiamento de pagamento de impostos (10%) e auxílio para redução e suspensão de contratos de trabalho (3%). 

“Compras públicas”

Na análise do coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, Evanildo Pantoja, o aumento de 13% nas empresas que passaram a contrair dívidas, em relação à pesquisa anterior, assim como a elevação “bastante expressiva” na quantidade de inadimplentes, sinalizam para a possibilidade de que um número “bem maior” de empresas fechassem suas portas de vez nos próximos meses, caso medidas de retomada da economia não sejam tomadas no prazo mais curto possível.

“Não basta só aumentar o período de carência para as empresas começarem a pagar seus financiamentos. Elas precisam que seus segmentos tenham suas vendas aquecidas, e o auxílio emergencial contribui diretamente nesta questão. Uma opção é utilizar o poder das compras públicas em todas as esferas, para ampliar a quantidade de fornecedores, priorizando os pequenos negócios e realizando os pagamentos em dia. Seria um belo exemplo de boas medidas para amenizar o impacto da pandemia, além de reduzir a mortalidade dos pequenos negócios, a principal fonte de empregos em nosso país”, frisou.

O dirigente ressalta que o reforço do auxílio emergencial é fundamental, já que o fechamento provisório das atividades não essenciais no Amazonas fez o faturamento das empresas despencar e demitir, fazendo com que a população perdesse grande parte do seu poder de compra. Ao mesmo tempo,  Pantoja argumenta que o governo ainda tem seu poder de compra “muito concentrado” em um determinado número de empresas.

Indagado sobre suas expectativas para as MPEs e MEIs do Amazonas, diante do atual cenário, o coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM avalia que o panorama ainda está “muito cinzento”. “Vai ser ainda mais grave, se medidas urgentes e eficazes não forem adotadas. Veja bem: o comércio já foi autorizado a reabrir, mas a população está com pouco poder de compra. Então, as empresas não estão tendo de volta seus níveis de faturamento, e isso as impossibilita de honrar seus compromissos e de não demitir”, arrematou.

Saiba mais sobre os empreendedores do Amazonas

A sondagem do Sebrae ouviu representantes de 6.228 micrs e pequenas empresas em todo o país, assim como MEIs (microempreendedores individuais), sendo que 103 deles estão no Amazonas. Entre os entrevistados no Estado, 51% são MEIs, 42% estão à frente de microempresas (até R$ 360 mil de faturamento bruto anual) e 7% respondem por empresas de pequeno porte (de R$ 360 mil a R$ 4,8 milhões). Comércio (49%) é a atividade mais comum entre eles, sendo seguida por (47%) e indústria (3%). As estatísticas apontam ainda que o empreendedor amazonense é majoritariamente do sexo masculino (63%), tem de 36 a 55 anos de idade (57%), conta com ensino superior incompleto “ou mais” (54%) e se declara da etnia “negra” (72%).

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar