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Corre Campo é o Bumbá mais querido de Manaus

Depois de dois anos sem acontecer, devido à pandemia, finalmente o Festival Folclórico de Manaus estará de volta este ano e com a presença marcante de um participante ilustre, com seus 80 anos de idade, completados no dia 1º de maio, o bumbá Corre Campo. O bumbá da Cachoeirinha mantém um recorde imbatível, que deverá se manter ainda por muito tempo. É o grupo folclórico mais antigo de Manaus sem nunca ter deixado de brincar, a não ser em anos da não realização do festival, como nos dois anos passados. Falando em festival, quando o Festival Folclórico de Manaus teve sua primeira edição, em 1957, o Corre Campo já era um adolescente de 15 anos saindo pelas ruas do bairro da Cachoeirinha, e outros bairros adjacentes, nos dias dos santos juninos,  Antônio, João e Pedro.

“O Corre Campo só tem se mantido esse tempo todo graças a ter se tornado uma associação, em 1982, quando só continuava vivo o Wandi Guaromiro Santos, o Miro, um dos seus cinco fundadores. Os demais, Astrogildo Santos, o Tó; Dionísio Gomes, o Tucuxi; Mauro Santos, o Pelica; e Antônio Altino da Silva, o Ceará, já haviam partido. O Miro morreu em 1994”, disse Alvacir Siqueira da Silva, presidente do Corre Campo em seu quarto mandato, o terceiro consecutivo.

A paixão de Alvacir pelo Corre Campo vem do berço. Sua avó, Nadir Carolino; seu pai, Alvanir; seu tio, Alvadir; seu primo, Alvatir, entre outros parentes, sempre brincaram no bumbá branco com um mapa do Brasil na testa.

“Minha avó fazia as fantasias para os brincantes, meu pai e meu tio brincavam no boi desde crianças, assim como eu e meu primo, que iniciamos como vaqueiros, eu com apenas seis anos”, lembrou.

Grande campeão

Desde a sua criação, em 1º de maio de 1942, o Corre Campo sempre foi um boi de brincar pelas ruas, tradição que mantém até os dias de hoje. Durante o tempo em que seus fundadores eram vivos, a tradição foi mantida, inclusive pelos seus herdeiros, mas quando só restava o Miro, o bumbá ameaçava acabar, como acontecera com seus antigos rivais Mina de Ouro, Tira Prosa e Gitano. Com Mina de Ouro e Tira Prosa, nas décadas de 1950, 1960 e 1970, o Corre Campo chegava a ir às vias de fato nas ruas de Manaus, quando se encontravam. Na década de 1980, o grande rival foi o Gitano, mas as competições eram mais civilizadas. Desde a década de 1990, os principais rivais do bumbá são o Brilhante e o Garanhão.

“O Corre Campo só tem se mantido esse tempo todo graças a ter se tornado uma associação, em 1982”

Alvacir Siqueira da Silva, presidente do Corre Campo

“Foi então que meu tio Alvadir resolveu criar a associação, sendo seu primeiro presidente, bem como meu pai também foi presidente, e agora eu. Estou ‘trabalhando’ meu filho Leon Felipe, para me suceder”, revelou.

“Sob a minha presidência, o Corre Campo já ganhou seis títulos, dos 43 dos quais é detentor. O boi foi o campeão do primeiro Festival Folclórico de Manaus, em 1957, e também da última edição, ocorrida em 2019. É tetra seguido, 2015, 2017, 2018 e 2019. 2016 o Festival não aconteceu por falta de apoio do governo. O Corre Campo se manteve por décadas graças aos seus fundadores e familiares, que os sucederam, e agora a nós, que brincamos nele e o amamos”, contou.

De acordo com Alvacir, apesar de todas as transformações que o mundo passou de 1942 até hoje, o Corre Campo mantém a sua essência e continua a sair pelas ruas da Cachoeirinha nos dias dos santos juninos com uma fiel legião de fãs e seguidores, até maior do que em décadas passadas.

“No próximo sábado (7),  faremos isso, no Prosamim, para comemorar os 80 anos do bumbá mais querido de Manaus”, finalizou.

Brincadeira de garotos

No início da década de 1940, alguns jovens brincavam no garrote Tira Teima, do Chico Beicinho, cujo curral ficava na esquina das ruas Urucará com Itacoatiara, na Cachoeirinha quando, em 1942, Chico Beicinho resolveu não mais organizar a brincadeira. Os meninos ficaram desolados sem ter outro boi onde pudessem se divertir, em junho. No dia seguinte, debaixo de um jatobazeiro, nas proximidades do velódromo, enquanto se organizavam para a ‘pelada’ diária, o Tó deu a ideia de criarem seu próprio boi. Depois do jogo de futebol, enquanto se divertiam nas águas límpidas do igarapé do 40, o Pelica perguntou: “e o boi, vai sair, ou não?”. No final da tarde, quando o Sol já se punha, os garotos decidiram que iriam se reunir no dia seguinte, na casa do Ceará, na rua Ajuricaba, para criar o bumbá. O dia seguinte foi 1º de maio de 1942. Miro foi quem sugeriu o nome Corre Campo, aceito pelos demais.

Para o folclorista Nonato Torres, o Corre Campo faz parte de um seleto grupo folclórico que se mantém ao longo dos anos: o Tira Prosa, de 1945, e a dança nordestina Cabras de Lampião, de 1960, que começou como quadrilha.

“O Corre Campo teve a coragem e ousadia de se adaptar ao tempo, como a mudança de ritmo, e se mantém aguerrido e competitivo. Na década de 1990, para concorrer no Festival Folclórico, o bumbá adotou o ritmo de Parintins, o que contribuiu para a sua existência, enquanto no bairro onde nasceu, continua a brincar pelas ruas, como antigamente”, falou.    

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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