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Continua a prática que levou o Amazonas a ter 49,2% na pobreza

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O site oficial do governo do Amazonas anunciou que a Sepror vai distribuir R$ 85 milhões pelo interior entre tratores, rabetas, kit ferramenta, casa de farinha, kit pescador, entre outros. Penso que já vimos esse filme ao longo das últimas décadas, e coincidentemente sempre perto de momentos que antecedem a eleição. Algumas perguntas: Será que essa prática fez avançar a economia do interior? Será que essa prática diminuiu a dependência do modelo econômico implantado do Polo Industrial de Manaus? Será que essa prática levou o interior a ter um setor primário forte? Será que essa prática aumentou a produção de alimentos no Amazonas? Será que essa prática tornou o setor rural exemplo de sucesso em alguma cadeia produtiva? Será que essa prática reduziu a importação de alimentos básicos de outros Estados e países?

Penso que o recente número do IBGE anunciando que metade da população do Amazonas vive na pobreza (49,2%) já responde a essas perguntas.

A mesma matéria do governo registra o depoimento do atual secretário de produção rural, José Aparecido, dizendo que com trator, rabeta, kits e casa de farinha o Amazonas vai deixar de comprar frango congelado produzido em Santa Catarina para distribuir no interior. O secretário só pode estar brincando com essa afirmativa, pois sabe que com essa ação a triste realidade econômica do interior não vai mudar. Sei que realmente é um absurdo comprar frango congelado em outros Estados, assim como é um absurdo importar fibras de juta/malva do outro lado do mundo (Bangladesh) para fazer rodar as máquinas da Jutal e da CTC, assim como é outro absurdo importar ovos de Mato Grosso, bem como importar borracha para tocar a indústria de pneus instalada na estrada Manaus/Itacoatiara, e por aí vai. Tudo isso poderia ser produzido no interior do Amazonas, mas nem a subvenção do juticultor, atrasada desde 2015, foi paga pelo governo estadual. O seringueiro também não recebeu a subvenção sob alegação de não ter R$ 5 milhões, mas vão distribuir R$ 85 milhões em equipamentos. Isso é brincadeira!
Pra acabar com o “frango congelado de Santa Catarina” precisamos plantar milho e soja no Amazonas, e ter um abatedouro de aves, mas enquanto isso não acontece na escala necessária (e vai demorar), é preciso que a Sepror atenda a sugestão do ministro Blairro Maggi que propôs, em recente visita ao Amazonas, mudança na legislação para que parte da soja e milho do Grupo Amaggi fique em Itacoatiara para atender aos criadores amazonenses. Essa sugestão do ministro aconteceu no final do ano passado. Isso tá em pauta na Sepror? Já houve proposta de mudança na legislação?

A assessoria de imprensa do governo anunciou que o secretário Aparecido vai convocar esta semana “todos os prefeitos do Amazonas para receberem equipamentos que serão utilizados no setor primário”. Nem acredito que esse tipo de ação ainda esteja acontecendo em pleno ano de 2018. Nosso setor primário precisa, urgentemente, de ações estruturantes. Entre elas, destaco a finalização do ZEE (Zoneamento Econômico Ecológico) para que possamos iniciar o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático). Essa ferramenta viabiliza a aplicação do crédito rural e do seguro agrícola. Todos os Estados do Brasil já contam com essa ferramenta, menos o Amazonas. Nossos ribeirinhos precisam do programa Garantia Safra, e não de distribuição de ranchos. Nossos 275 mil produtores rurais querem agilidade na regularização fundiária e no licenciamento ambiental. Nossos 275 mil produtores querem maior acesso ao crédito rural dos dois planos safras (agricultura familiar e empresarial), mas com 70% dos nossos municípios sem Basa, BB e Caixa, e inadimplência gigantesca, só o cooperativismo de crédito pode nos salvar. Nossos produtores querem os programas federais chegando ao interior, entre eles a PGPMBio, que tem a nossa cara, tem dinheiro, e a Conab quer pagar a diferença quando o extrativista vender o cacau, açaí, piaçava, andiroba e borracha abaixo do preço mínimo. Isso vem acontecendo hoje, e o Estado pouco faz para mudar essa realidade, nem as ONGs que defendem a floresta em pé. O atual governo acertou quando apoiou o aumento no orçamento da Sepror para 3%. Isso sim é ação estruturante, que merece meu reconhecimento ao governador, secretário e Aleam. Vai ficar ainda melhor quando lançar o edital do prometido concurso do Idam, da Adaf, e anunciar a realização da Expoagro este ano. Só um Idam forte é capaz de tirar o Amazonas do buraco, pois não existe produção sem assistência técnica. Esse é o verdadeiro caminho, e não chamar os prefeitos para fazer festa na entrega de equipamentos, prática antiga, ultrapassada, que levou o Amazonas a ter metade da população passando fome. Por falar em eleição, já passou do momento do setor primário do Amazonas lançar candidato ao governo estadual. Sei que não vai acontecer este ano, mas quem sabe em 2022. Temos bons nomes, entre eles o do Muni Lourenço, presidente da Faea, que conhece os problemas e as soluções do setor, é ético, sério e com penetração nacional.

*é servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio – [email protected]

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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