Em um mês de menor turbulência externa como foi setembro, as contas externas brasileiras tiveram uma maior “normalidade”, sem, no entanto, deixar de acusar os sintomas da crise internacional. O saldo do balanço de pagamentos foi US$ 607 milhões, contra um saldo de US$ 3.9 bilhões no mês anterior. A redução se explica porque em agosto foram registrados montantes muito baixos de pagamentos de serviços de rendas, o que ajudou na formação deste resultado.
A conta de transações correntes no mês de agosto teve saldo de US$ 1.4 bilhões, um nível muito alto para o padrão do corrente ano (média mensal de pouco mais US$ 600 milhões entre janeiro e setembro). Já para setembro o superávit em conta corrente diminui para US$ 471 milhões, fruto do retorno parcial de pagamentos de juros e de lucros e dividendos ao que podemos considerar valores “normais”.
O pagamento de juros, que em agosto havia sido de somente US$ 190 milhões, alcança US$ 427 milhões, enquanto o dispêndio com lucros e dividendos registra cerca de US$ 1.7 bilhões em setembro, contra US$ 1.4 bilhões no mês anterior. A observação pertinente é que os valores desses dois itens foram menores em agosto certamente porque os agentes preferiram aguardar um taxa de câmbio mais favorável para efetuarem as remessas. No mês de agosto a moeda nacional chegou a ter desvalorização; já em setembro houve valorização, barateando as remessas ao exterior.
Em suma, esses movimentos especialmente concentrados nos pagamentos de rendas é que explicam as variações do resultado em transações correntes, já que o saldo comercial, de US$ 3.53 bilhões em agosto e de US$ 3.47 bilhões em setembro, praticamente não se alterou, assim como foi pouco expressiva a variação nos pagamentos de serviços e em transferências unilaterais. Em setembro, importantes mudanças também tiveram lugar nos fluxos financeiros. O IDE (Investimento Direto Estrangeiro), continuou caindo: atingiu US$ 1.5 bilhões, contra US$ 2.2 bilhões em agosto, sendo que em julho havia chegado a US$ 3.6 bilhões. Além da consideração de que o valor atual de IDE não é desprezível, cabe observar que sua tendência é de recuperação se a crise externa continuar controlada e em sendo confirmada a perspectiva de crescimento econômico no Brasil em 2008 em bases semelhantes a 2007, ou seja, 5%.
Nos investimentos em portfólio houve retomada dos fluxos, que haviam declinado substancialmente em agosto com relação a julho. Neste último mês o valor registrado foi de US$ 6.7 bilhões, correspondendo a um auge dos investimentos em carteira dirigidos ao Brasil.
Em agosto, o primeiro mês da crise internacional, declina para US$ 776 milhões, recuperando-se agora para US$ 2.1 bilhões. A perspectiva aqui é também de volta uma intensa injeção de recursos na economia através desses investimentos, tendo como grande condicionante o controle da situação externa. A solidez e o bom desempenho econômico-financeiro das empresas brasileiras, cada vez mais evidentes e reconhecidos no cenário internacional, afiançam do lado interno esta expectativa.