Pesquisar
Close this search box.

Consumo retraído muda comércio

O crescimento no Dia das Mães pode ter sido acima do esperado, mas não alcançou todo o varejo da capital. Um em cada cinco lojistas amargou estagnação ou recuo de até 5% nas vendas. A maior parte dos estabelecimentos que obteve resultados positivos na data comemorativa, por outro lado, registrou altas de 11% a 20% no volume comercializado. Os dados integram estudo do Ifpeam (Instituto Fecomércio de Pesquisas Empresariais do Amazonas), divulgado nesta quarta (25). Vale notar que o crescimento das vendas do setor como um todo foi de 4,2%, conforme a CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus).  

A sondagem também pode sinalizar um “novo normal” no setor, em tempos de declínio da pandemia, mas de agravamento das restrições orçamentárias impostas pela escalada da inflação, dos juros e do endividamento. Embora o Dia das Mães seja considerado o “segundo Natal” do comércio, apenas 23% dos estabelecimentos contrataram trabalhadores temporários para a data. O oposto se deu nos estoques, que ganharam acréscimo de 76%. Para garantir as vendas, 92% das empresas promoveram algum tipo de promoção, com destaque para os “descontos especiais” (43%). 

De acordo com a pesquisa, 81% das empresas comerciais de Manaus conseguiram aumentar suas vendas no Dia das Mães deste ano. A maioria (53%) confirmou índices de crescimento de 11% a 20%, e 35% conseguiram avançar de 6% a 10%. Na sequência estão os 9% de lojistas que tiveram acréscimos não superiores a 5%. Uma minoria (3%), por outro lado, sustentou expansão superior a 20% no volume comercializado na data comemorativa.  

Em contraste, 13% dos estabelecimentos comerciais ouvidos informaram que suas vendas empataram com o resultado obtido no Dia das Mães do ano passado –que transcorreu ainda em meio ao rescaldo da segunda onda e com o setor ainda vivendo muitas restrições de horário e atendimento. Outros 3% confirmaram queda nas vendas. Para 67% das lojas que amargaram resultados piores, os recuos foram de até 5%, mas um em cada três sofreu tombo de 11% a 20%. 

Para driblar a erosão nos orçamentos das famílias e fazer o consumidor ir além das compras básicas, 92% dos lojistas redobraram as apostas em promoções. Os descontos especiais foram a opção escolhida por 43% deles, mas ofertas especiais e vendas parceladas sem juros (ambos com 27%, cada) também integraram o cardápio oferecido pelo varejo, no Dia das Mães deste ano. A oferta ecoou nas formas de pagamento preferenciais: ao menos 66% das vendas foram feitas em crédito parcelado, enquanto apenas 18% escolheram o Pix e os 16% restantes preferiram pagar com dinheiro ou débito automático.

As lojas apostaram na ampliação e renovação do mix de produtos, apesar da crise. Ao menos 76% das empresas confirmaram ao Ifpeam que o estoque estava maior para o Dia das Mães deste ano. Somente 21% preferiram manter a oferta no mesmo nível e 3% relataram que o volume de produtos disponibilizados à clientela foi menor. As contratações tiveram desempenho mais tímido: 77% optaram por manter o contingente do jeito que estava e apenas 23% resolveram admitir trabalhadores temporários para o reforço nas vendas.

“Franca recuperação”

Em texto veiculado pela assessoria de imprensa da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), o presidente em exercício da entidade, Aderson Frota, explica que a despeito das adversidades presentes em âmbito nacional e internacional, o varejo está em “franca recuperação”. “Apesar do cenário negativo, com a alta dos combustíveis, dos fretes, das operações portuárias, que repercutem no preço das mercadorias, gerando inflação e a necessidade de aumento da taxa Selic, o comércio mostra a sua recuperação e os números confirmam o crescimento do setor”, opinou.

Indagado se os resultados do Dia das Mães poderiam ser um farol para o setor nos próximos meses, o dirigente disse à reportagem do Jornal do Commercio que o presente levantamento mostra um cenário pontual. “As pesquisas foram dirigidas inicialmente ao público consumidor. Foram identificados os tipos de presentes, o escalonamento de valores, os locais preferidos e algumas preferências. O resultado foi imediatamente encaminhado aos lojistas que tinham produtos linkados no Dia das Mães. A sondagem de agora foi destinada a medir os efeitos, resultados e avaliações dos empresários, considerando que o Dia das Mães é a segunda melhor data do calendário comercial”, reforçou.

Frota, concorda que o panorama econômico é negativo, mas mantém o otimismo e aposta na sazonalidade.“A economia aponta no sentido da recuperação. Com certeza, teremos um segundo semestre mais promissor e com resultados positivos. A tendência é de mais contratações. Claro que o impacto das dificuldades esfria o entusiasmo. Mas, à medida que nos distanciamos da ocorrência dos problemas, o setor comercial e de serviços vão gerar mais empregos que todos os outros. Além disso, nosso compromisso no atendimento da população nos obriga a uma recuperação mais rápida. Vem aí o Dia dos Namorados, o Dia dos Pais e o Dia das Crianças”, amenizou.

“Consumidor comedido”

O presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, lembra que o Dia das Mães é a segunda data mais importante do calendário do setor, mas ressalva que a pandemia e o consequente agravamento da crise econômica mudaram os hábitos do consumidor, que passou a ser mais “comedido” e exigente. “O consumidor está sentindo o aumento da inflação em geral, inclusive pelo repasse dos reajustes de frete, em razão da alta dos combustíveis. Por isso, ele está com o pé atrás e segurando as compras”, lamentou.

Mais cético, o dirigente avalia que, diante desse quadro, e das incertezas econômicas e políticas neste ano, a tendência é que as contratações sejam acanhadas no restante do ano também. “Isso vem acontecendo nos últimos anos, em função da pandemia e da crise. Acredito que teremos crescimento nos empregos, mas ele será tímido. A demanda ainda está fraca. Para termos resultados melhores, a roda da economia teria de girar mais forte, para fazer o empresário investir mais”, finalizou.  

Boxe ou coordenada: Saiba mais sobre a pesquisa

Realizado entre 12 e 21 de maio, o estudo do Ifpeam ouviu representantes de 39 empresas comerciais da capital. Os entrevistados são gerentes (56%), proprietários dos estabelecimentos (36%) ou ocupam cargo de líder de departamento (8%). A maior parte das lojas sondadas está no Centro da cidade ou nos bairros (ambos com 41%, cada), enquanto 13% estão situadas nos shoppings e os 3% restantes possuem unidades em “todas as opções”. Em termos de porte, predominam as microempresas (45%), seguidas pelas médias (31%), pequenas (21%) e grandes (3).

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar