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Confiança do empresário segue em queda no comércio de Manaus

No mês da Black Friday, a confiança dos comerciantes de Manaus murchou pelo segundo mês seguido. A retração foi de 0,9%, entre outubro e novembro, em paralelo com a média nacional. A insatisfação foi puxada pela percepção sobre a situação atual da economia, do setor e das empresas, em que pese uma piora relativa nas expectativas e um esboço de reação nas intenções de contratar e investir. É o que revelam os dados locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), da CNC (Confederação Nacional do Comércio). 

Apurado entre os tomadores de decisão das companhias comerciais, o levantamento do Icec avalia condições atuais, expectativas de curto prazo e intenções de investimento. Pontuações abaixo de 100 representam insatisfação, enquanto marcações de 100 até 200 são consideradas de satisfação. A Confederação Nacional do Comércio sondou 6.000 empresas de todas as capitais do país – 164 delas, em Manaus. 

O indicador registrou 123,1 pontos na capital amazonense e caiu 0,9%, em relação a outubro (124,3 pontos), embora ainda tenha se mantido 1% acima da já refortalecida marca de outubro do ano passado (122 pontos) – em que pese a já presente crise de abastecimento da época. Em todo o Brasil, o índice da CNC brasileiro caiu pela terceira vez seguida, sendo 1,3% menor do que a do mês anterior, ao atingir 119 pontos. Em comparação com novembro de 2020, contudo, ainda houve crescimento de 10,2%.

Quase todas as regiões registraram queda mensal no Icec, com destaque para o Sudeste (-2,6% e 124,5 pontos) e o Sudeste (-2,1% e 115 pontos), seguidos por Sul (-1,2% e 124,2 pontos) e Nordeste (-0,8% e 119,1 pontos). O único dado positivo veio do Centro-Oeste (+0,6% e 124,5 pontos). Em contrapartida, todas as variações anuais ficaram no azul. Pelo segundo mês seguido, o Icec do Amazonas seguiu a mesma trajetória cadente das edições de outros dois índices da CNC com foco no consumidor – ICF (Intenção de Consumo das Famílias) e Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor). 

Contratações e investimentos

Quatro dos nove subíndices do Icec recuaram na variação mensal – contra oito, em outubro. A maior retração veio da percepção sobre as condições atuais da economia/CAE (-18,8%), que passou a ter a pior avaliação da lista (88,1 pontos). As condições atuais do comércio/CAC (-6,9% e 107,2 pontos) e das empresas comerciais/CAEC (-6,4% e 109,1 pontos) vieram na sequência, seguidas de mais longe pela expectativa da economia brasileira/EEB (-1,6% e 152,1 pontos).

Na outra ponta, o melhor desempenho veio do nível de investimento das empresas/NIE (+9% e 110,3 pontos) e do indicador de contratação de funcionários/IC (-+8,4% e 130,1 pontos). Mas os subindicadores relativos às expectativas das empresas comerciais/EEC (+2,1% e 160,4 pontos) e à situação atual dos estoques/SAE (+2,1% e 89,8 pontos) também entraram no azul, neste mês.

Apesar da nova piora, a maioria dos comerciantes de Manaus (44,5%) ainda considera que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco” – contra os 58% anteriores. Foram seguidos pelos que dizem que “piorou um pouco” (32,6%), que “piorou muito” (20,4%) e que “melhorou muito” (2,5%). A avaliação majoritária sobre setor e empresa também é que “melhorou um pouco” (52,1% e 56,2%). De uma forma geral, a pontuação é melhor nas empresas com mais de 50 empregados e que vendem bens semiduráveis.

O otimismo ainda é proporcionalmente maior nas expectativas para a economia: 60,2% dizem que vai “melhorar um pouco”, enquanto 29,4% arriscam apostar que “melhorar muito” – em outubro eram 67,3% e 25,3%, na ordem. As avaliações que pesam mais sobre as perspectivas para o setor e para a empresa praticamente empatam e também apontam para melhoras relativas (60,9% e 59,5%, respectivamente) e mais significativas (34% e 34,4%). Companhias de menor porte têm as melhores estimativas para a economia e as de maior apostam mais no setor e na empresa. Em termos de segmento, a confiança é maior para as atuantes em duráveis, no primeiro caso, e em não duráveis, nos demais.

Em termos de contratações, a maioria absoluta ainda diz que o contingente de trabalhadores deve “aumentar pouco” (66,6%), seguida de longe pelos que avaliam que pode “reduzir pouco” (20,7%) – novamente com números mais fracos do que os do levantamento precedente (70% e 16,7%). A projeção majoritária para investimentos passou a ser “um pouco maior” (42,3%), em detrimento de “um pouco menor” (33,8%), invertendo a dinâmica dos dados respectivos de outubro (37% e 39,8%). As avaliações positivas predominam entre as pessoas jurídicas com mais de 50 trabalhadores e que trabalham com produtos não duráveis (mão de obra) e duráveis (aportes de capital).

“Estabilidade não positiva”

Ao analisar a evolução anual do Icec, o presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, apontou à reportagem do Jornal do Commercio que houve uma melhora “pequeníssima” na confiança dos empresários do Amazonas, com “quedas constantes” nas avaliações sobre as condições atuais e expectativas, nesse tipo de comparação. 

“O único item dentro desse rol de condições que melhorou veio do nível de investimentos. Fora isso, o índice de confiança reflete uma estabilidade para o setor, que não é muito positiva. E isso se dá em razão do momento econômico atual, de disparada de preços, de aumento do custo financeiro, de alta da energia, de encarecimento dos combustíveis, e de escalada do dólar. Todos esses fatores contribuíram para isso”, lamentou. 

Circulação sem confiança 

A CNC aponta que, em âmbito nacional, os resultados do Icec foram influenciados por “variações adversas” na percepção sobre as condições atuais. Apenas as intenções de investimento avançaram (+0,5%). Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o economista responsável pela pesquisa, Antonio Everton, aponta que fatores como a inflação, o encarecimento das importações pela desvalorização do real, a alta dos juros, a escalada dos preços dos combustíveis e o aumento da energia nas vésperas da chegada do verão constituem “um ambiente complicado para vendas”. 

Ele aponta ainda o encerramento do auxílio emergencial, o endividamento das famílias e a taxa de desemprego ainda elevada. “Na prática, compõem um conjunto de elementos que se tangenciam na contramão da virtuosidade, tornando a fase de recuperação mais complexa. O contexto ajuda a explicar, então, por que há maior circulação de pessoas, e a movimentação parece não impactar o crescimento das vendas e do otimismo.”, observou.

No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, avalia que os números deixam implícito que, mesmo com o aumento de circulação de pessoas nas ruas, a conjuntura econômica tem afetado a confiança empresarial. “Os dados indicam que, apesar de fundamental, o avanço da vacinação já não tem sido mais suficiente para injetar ânimo no comércio. Será preciso que a situação da economia melhore para a recuperação acontecer”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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