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Concessões de crédito seguem subindo no AM

Apesar da escalada dos juros, o volume de concessões em operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) avançou no Amazonas, em setembro, em valores nominais. O desempenho foi melhor para as pessoas físicas do que para as jurídicas, embora o saldo tenha sido positivo em ambos os casos. Em paralelo, os índices de inadimplência desaqueceram na variação mensal, embora ainda se mantenham significativamente acima dos níveis percebidos exatos 12 meses atrás. É o que se conclui a partir das estatísticas mais recentes do Banco Central.

A base de dados do BC aponta para uma alta de 2,43% nas concessões de crédito para tomadores do Amazonas, entre agosto (R$ 38,19 bilhões) e setembro (R$ 39,12 bilhões) de 2021, na medida em preços correntes. Em relação ao mesmo mês do ano passado (R$ 32,98 bilhões), o incremento foi ainda maior e chegou a 18,62%. Foi a oitava alta seguida no indicador, que acumulou R$ 328,89 bilhões nos nove meses inicias deste ano, 19,88% a mais do que o registrado entre janeiro e setembro de 2020 (R$ 274,34 bilhões).

O mesmo se deu para pessoas físicas e jurídicas – sendo que para estas, foi apenas o quarto mês consecutivo de alta. No primeiro caso, o montante bateu em R$ 23,29 bilhões, indicando expansão de 2,46% sobre a base do mês anterior (R$ 22,73 bilhões) e aumento de 22,90% no confronto com os dados do mesmo mês do ano passado (R$ 18,95 bilhões). Embora em ritmo menor, as concessões para as empresas também avançaram, em valores nominais. Foram 2,39% maiores em setembro (R$ 15,83 bilhões) do que em agosto (R$ 15,46 bilhões) deste ano, além de terem ficado 12,83% acima do patamar capturado no nono mês de 2020 (R$ 14,03 bilhões). 

Inadimplência desacelera

Em contraste, a taxa de inadimplência geral nas operações de crédito do SFN desacelerou no Amazonas, após passar dois meses seguidos em trajetória de alta. O percentual de tomadores com dívidas atrasadas no Estado passou de 2,85% para 2,76%, entre agosto e setembro de 2021. A comparação com o índice registrado no mesmo mês do ano passado (2,43%), no entanto, confirmou um aumento de 0,33 pontos percentuais. A título de comparação, o número mais recente ficou próximo ao apresentado em março deste ano (2,78%) – mês inicial do processo de reabertura da economia amazonense, no pós-segunda onda.

Para as pessoas físicas do Estado, a taxa também caiu entre agosto (3,79%) e setembro (3,73%), após oscilar entre altas e baixas, nos últimos meses. Também se manteve acima do registro do nono mês do ano passado (3,53%). No caso das pessoas jurídicas do Amazonas, o tombo mensal foi ainda maior entre um mês (1,48%) e outro (1,34%), após meses de instabilidade. O percentual foi o menor desde dezembro de 2020 (1,05%), mas correspondeu a uma expansão proporcional ainda mais expressiva ante a marca de 12 meses atrás (0,94%).  

Rotatividade de dívidas

Para o consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, os dados do Banco Central apontam para resultados relativamente positivos, já que refletiriam algum aquecimento da economia em virtude do processo de vacinação. O economista não deixa de concordar também que a dinâmica pode derivar do aumento do endividamento do consumidor, em um cenário de inflação e juros e alta, que levam a uma rotatividade nas dívidas.

“Esse reflexo em relação ao aquecimento da economia não é expressivo, mas mostra uma certa estabilidade. As concessões cresceram bastante e a inadimplência caiu, mostrando que os consumidores estão preocupados com a situação do crédito. Provavelmente, há também o aspecto de o consumidor trocar uma dívida mais antiga por uma mais nova, para poder continuar emprestando. Vamos ver como vai ficar no final do semestre”, ponderou.

Segundo o economista, o aumento mais tímido nas concessões para as pessoas jurídicas, acompanhado de uma queda mais intensa na taxa de inadimplência, sinalizaria cautela desse tipo de público. “Isso demonstra que as empresas estão mais preocupadas em estabilizar e não se endividar. Elas estão vendo que o mercado ainda não está estável e estão preocupadas com sua solvência”, frisou.

Francisco de Assis Mourão Júnior avalia que, no curto prazo, os números de concessões e inadimplência tendem a se manter, sendo que o direcionamento que os consumidores vão dar ao 13º salário deve ser decisivo. “No médio e longo prazo, a concessão provavelmente vai cair e a descumprimento do pagamento das dívidas, aumentar. Mas, há risco de um estouro nessa bolha de inadimplência, se os juros começarem a subir exorbitantemente. Tudo vai depender do cenário econômico que vai estar nos esperando no ano que vem”, alertou.

Decisões na incerteza

O também consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM, Leonardo Marcelo Braule Pinto, concorda que as pessoas jurídicas estão mais cautelosas e aponta que o problema é que as projeções ainda costumam ser baseadas em “anos normais”, mesmo nos atuais tempos atípicos. “Então, a incerteza domina nas tomadas de decisão. As empresas acabam tomando crédito para tentar se recuperar no mercado, fazendo investimentos. Muitas vezes isso não dá o retorno esperado e acaba gerando inadimplência”, acrescentou.

O economista, no entanto, tira um diagnóstico mais duro a partir dos números do BC, que mostrariam que o “momento de incerteza” que se descortinou a partir da crise da covid-19 continua prevalecendo na economia regional e nacional. Para Leonardo Marcelo Braule Pinto, os sinais disso estariam no baixo uso da capacidade produtiva instalada no país, assim como na falta de trabalho assalariado e na participação cada vez maior dos subempregos como meios de subsistência. 

“A partir do momento em que temos índices elevados de inadimplência, significa que as pessoas estão vivendo em insegurança econômica, sem emprego, sem expectativa de renda. E estão aumentando o volume de empréstimos para tentar sobreviver, o que acaba por gerar falta de compromisso em pagamento de parcelas, principalmente quando elas são de longo prazo. É um reflexo puro da falta de estabilidade da conjuntura econômica atual, surgida a partir da pandemia”, lamentou.

Mesmo assim o economista afasta o risco de um estouro na bolha do crédito, pelo menos no curto prazo, e a justificativa seria a trajetória crescente dos juros básicos. “De imediato, as pessoas vão estar procurando e a oferta vai estar alta, mas o país tem lutado para isso acontecer, vide as taxas Selic estabelecidas. O Brasil tem trabalhado para mitigar os empréstimos e financiamentos. Então, não creio que teremos uma quebra maciça no mercado de crédito, principalmente no curto prazo”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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