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‘Comércio tem que reabrir imediatamente’, diz Belmiro Vianez

Com mais de 50 anos de atuação comercial na região, o empresário Belmiro Vianez Filho avalia como muito equivocadas, precipitadas e inconsequentes, as medidas do governo do Estado que decretaram o fechamento do comércio em Manaus.

Com o surgimento da segunda onda da pandemia, o setor já amarga mais de 40 dias parados, sem praticamente vislumbrar alguma perspectiva, enquanto as empresas acumulam dívidas, são obrigadas a pagar multas, a recolher impostos, numa época em que a economia está tão trôpega que pode sucumbir de vez a qualquer momento, segundo avalia o empresário.

Sem medir as palavras e com muitos argumentos, Belmiro Vianez é enfático. O governo precisa promover a reabertura imediata das atividades comerciais sob o risco de enfrentarmos a maior catástrofe social e econômica da história do Amazonas. E questiona as informações de que o comércio é o maior vetor de disseminação do novo coronavírus. “Ao contrário, o contágio vem principalmente dos ônibus aglomerados que circulam sempre lotados em Manaus”, afirma.

Ele diz que as empresas estão sem fluxo de caixa, o dinheiro não circula no mercado, mas os impostos continuam sendo cobrados, uma situação que considera aviltante, desumana, contra o empresariado.

“Não vejo nenhuma lógica. Comércio, indústria e supermercadistas deveriam continuar funcionando, sem restrições”, contesta.

Sem alternativas, diz o empresário, as empresas optaram pelas demissões em massa, já que o poder público não oferece a contrapartida necessária para manter as atividades e ainda diminuir os impactos das restrições. E muitos negócios estão agonizando, moribundos, prestes a receber o golpe final, alerta.

Para o empresário, o grito da categoria, principalmente envolvendo hotéis, bares e restaurantes, pressionando o governo por menos restrições, ecoa longe e demonstra o quanto as empresas estão lúgubres, muitas vezes já falidas, na esperança de que surja uma esperança no fim do túnel, afinal. Mas quando ela virá?

“Ao contrário, o governo arrocha ainda mais um setor que representa, hoje, mais de 50% da mão de obra empregada no Amazonas, superando inclusive margens do setor público e do próprio Distrito Industrial”, argumenta Belmiro Vianez.

De acordo com o empresário, o alarme sobre a possibilidade de uma terceira onda de Covid-19 é como ‘surfar’ em ideias mirabolantes. “A ciência não pode prever isso. Não existem dados concretos que sustentem essa ameaça”, contesta.

Belmiro Vianez falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.      

Jornal do Commercio – O governo optou pelo lockdown e por mais restrições ao funcionamento do comércio. Como avalia essas medidas, é realmente o caminho a ser seguido?

Belmiro Vianez Filho – Nós tivemos duas etapas bem claras de lockdown, de convivência com esse vírus maldito que infelicita a sociedade mundial.

Na primeira onda, tivemos o Brasil inteiro paralisado e o governo federal dando suporte, com alguma flexibilização nas regras trabalhistas, tomada de recursos, fechamento nos dias feriados…

E também dilatação de prazos para pagamentos de impostos. Vivemos aquela loucura, com o governo optando pela concessão do auxílio emergencial.

Lembro que no início da pandemia, no ano passado, vi uma entrevista do ministro Paulo Guedes, que surpreendeu o mundo ao dizer que a economia iria voltar a crescer, a se recuperar.

Achei que era uma questão política ou apenas um processo de abrandar as preocupações, mas acabou acontecendo.

A economia se recuperou em ‘V’ no Brasil. E também no Amazonas não foi diferente.

As bases dessa recuperação falam muito da questão da ajuda do dinheiro distribuído pelo governo.

E outros fatores que não estão bem identificados.

A economia cresceu, recuperou o tempo perdido, principalmente a queda nas vendas dos dois primeiros meses.

Depois veio uma pressão séria de inflação crescente

Estamos vivendo hoje uma inflação indicando níveis muitos ruins.

Em dezembro, o crescimento de vendas no Amazonas acabou sendo setorial.

Acabou não acontecendo pela segunda onda do vírus modificado, chamado de variante do Amazonas, uma coisa absurda, discriminatória, inaceitável.

E aí o Brasil todo ficou prestando atenção no Amazonas.

Pressionados pelos Ministérios Públicos e por outros órgãos, o governador decretou o lockdown.

Restringiu a atividade industrial para seis horas e outros ficaram fechados, com exceção do supermercado, ainda bem.

Porque existem alguns sinais de economia e isso de uma certa forma mantém parcela da população empregada

Veio o fechamento do comércio e percebemos que os índices de contaminação continuam alarmantes. Todo dia é um placar horrível, um placar olímpico, que só infelicita as pessoas.

O comércio já está fechado há 40 dias. Não houve nenhuma redução, ao contrário, os casos de coronavírus cresceram.

JC – O comércio é vetor de contágio…..?

Belmiro Vianez Filho – Eu, pessoalmente, entendo como a maioria do setor comercial, que o comércio não é vetor de contágio.

Muito pelo contrário, temos outros problemas dramáticos, que levam a contágio e podem parecer que isso seja só na atividade comercial.

De qualquer maneira, continuamos com os índices alarmantes e crescentes.

Nesta última semana, registramos uma média de 162 mortes e, em janeiro quando começou o lockdown, perto de 120, números altíssimos

Nada foi feito pelo transporte público que traz um grande problema –que são as aglomerações.

Estive na audiência pública na Assembleia e tratamos dessa questão. E me perguntaram se achava seguro abrir o comércio.

Acho tão seguro abrir o comércio, como a indústria e os supermercados.

E, muito pelo contrário, acho que até o comércio aglomera menos, muito menos que quaisquer outras atividades.

Nada contra essas outras atividades que estão abertas

A mesma lógica deveria ser para supermercados, indústria e o comércio.

O transporte coletivo é pessimamente em Manaus.

JC – O que representa o setor comercial em termos de empregos?

Belmiro Vianez Filho – A atividade comercial emprega, hoje,  no Amazonas a metade que emprega todos os poderes públicos estadual, municipal e federal, somando ainda o Distrito Industrial.

Temos aqui aproximadamente 720 mil pessoas economicamente, das quais 300 mil são do setor comercial e de serviços.

Isso vai causar um grave problema social se as atividades continuarem fechadas.

Principalmente no interior porque as verbas são destinadas de Manaus, que é uma cidade-Estado, recolhendo 95% do ICMS que é repassado aos municípios.

Saúde e economia andam juntas, são irmãs siamesas.

JC – Na primeira onda, houve mais iniciativas do governo em dar uma contrapartida às empresas e à população com auxílios emergenciais. Agora não se vê ainda nenhuma movimentação nesse sentido. O Estado e a prefeitura deveriam ser menos comedidos nas ações e prestar mais ajuda, dando mais fôlego às atividades econômicas?

Belmiro Vianez Filho – Eu, particularmente, sou favorável a mais empresas e menos governos. O comércio representa 50% de toda a arrecadação.

Os governos fazem muita política com a verba pública. O tamanho da máquina é muito maior do que deveria ser.

Não há redução de impostos, mas só vemos mais custos, chegando ao ponto de a sociedade não resistir mais a tanto empobrecimento.

O que o Estado contribuiu em contrapartida por conta das restrições comerciais? Nada, absolutamente nada.

O pagamento do ICMS acontece antes da venda da mercadoria.

Eu sou um empresário um pouco liberal,  mas entendo que o Estado tem que fazer a parte dele. Reduzir custos, mas infelizmente não temos custos saudáveis.

O senhor da caneta toma decisões sem pensar como a cabeça do empresário, sem ser parceiro do empresariado.

Um Estado com boa gestão deveria se aproximar dos empresários e não de líderes empresariais.

Já fui presidente da CDL-Manaus. Porque não há ninguém que possa representar o setor comercial individualmente. Tem uma capilaridade tão grande, com mais de 500 setores diversos.

Deveria haver um esforço grandioso para tentar identificar os problemas de cada setor.

Deveríamos, de uma forma racional, pensar a reabertura racional de acordo com os horários.

Tem outro fator que mete medo é a desobediência.

Se é verdade que o centro da cidade é fácil de fiscalizar, não é verdade que isso também se possa fazer nos bairros.

A população precisa sobreviver. Tem bares que estão funcionando, mesmo com as restrições.

Baixaram leis sem consultar a sociedade. Vi empresário sendo preso. Isso é impensável. É uma loucura pensar em lockdown

Alguns países adotaram. Qual o país que reduziu a pandemia? O mundo inteiro sofre com esse maldito vírus.

Israel fez um trabalho seríssimo e não conseguiu conter, mas agora conseguiu com as vacinas. Os países que mais sofreram foram os que fizeram lockdown.

A Argentina foi a que mais restringiu as atividades e supera os números de mortes em relação aos outros países.

JC – Agora, o momento é ter a vacinação como a grande prioridade para conter a pandemia. Será que estamos fazendo muito pouco ainda….?

Belmiro Vianez Filho – Acho que já passou a hora dessa discussão de política com a questão das vacinas, é algo lamentável. Tudo isso atrasou a vacinação.

Tem que haver mobilização para acelerar a vacinação

Instalou-se o pânico. Os trabalhadores de carteira assinada podem perder  seus empregos  nos  próximos  tempos, é lamentável.

O setor informal não é só camelô, mas envolve muitos serviços.

Nossa economia é formada por 45% de profissionais liberais, bombeiros, mecânicos.

Agora, imagina como está a situação desse pessoal.

Todo o Brasil assiste que o Estado Amazonas vive um momento de muita angústia por causa da nova variante do coronavírus.

Fomos proibidos de chamar de vírus chines, mas a imprensa fala da variante amazonense com a maior facilidade do mundo.

Assim, não demora e ainda vamos pagar o preço de que o começo do epicentro da pandemia foi Manaus (rss).

A imunização protege o Brasil. E por que todos os técnicos de saúde não estão vacinando a população do Amazonas?

O vírus não escolhe hora, não escolhe lugar.

Mas,  aqui tudo caminha para esfera da roda política

É um abandono da área de saúde por todos os governos, isso não é de hoje, não veio só com a pandemia.

Deram pouca atenção para a questão básica, esgoto, saneamento. Escuto o prefeito David Almeida dizendo que vai dar dinheiro pro povo.  Não faça política com o dinheiro, prefeito.

Esse dinheiro é da prefeitura, arrecadado, pago pelo cidadão como imposto e será devolvido à população.

Deveriam reduzir a carga tributária ou suspender o pagamento enquanto durar a pandemia. Não é hora de fazer política, tem que sair do palanque.

JC – Estamos há mais de 40 dias com o lockdown, com serviços de alimentação fora do lar, havendo demissões, empresários sem poder tocar os seus negócios e muitos desistindo de projetos. Como avalia essas questões?

Belmiro Vianez Filho – Esse pessoal de bares e alimentação fora do lar são uns verdadeiros heróis, tem o presidente da Abrasel, o Fábio Cunha, tem tido muita coragem.

O Fábio é a figura perfeita do empresário preocupado com seus empregados.

Um sofrimento total, imagina 40 dias estocando produtos e ser pego de surpresa, tendo ordem para fechar. Imagina o prejuízo em produtos.

É como um drama de ópera de tão assustadora que é a situação.

O setor de hotelaria e comidas fora de casa não sabemos como vai resistir.

Tem muitos investimentos em Manaus. Já passou o tempo do amadorismo nessas atividades.

Se abrirmos amanhã, ainda vão sobrar sequelas quase que intransponíveis.

Os investimentos em hotelarias soam grande.

Os custos de um hotel parado são enlouquecedores.

Como o Tropical Hotel que acabou falindo por falta de manutenção.

Imagina o empresário enfrentar os custos com paralisação de 60 dias.

JC –Já é possível visualizar algum tipo de lição dessa pandemia, principalmente em relação ao lado empresarial?

Belmiro Vianez Filho – Lições serão muitas, mas não tenho ainda formatadas, todas elas dramáticas.

Vão ficar muitos traumas. A criatividade do empresário é fazer do limão a limonada.

A maior delas é que nada é pra sempre.

Nenhum de nós imaginávamos que o mundo poderia parar rapidamente.

Estou com muito medo do que virá, do próximo tempo.

Virá o fim do comércio tradicional.

Vamos ter que trabalhar objetivamente com a internet.

Com essa nova linguagem online.

O consumidor vai ficar muito mais cauteloso, amedrontado.

A máscara vai fazer parte da nossa vida.

No segmento de varejo, não entra ninguém que não tenha medo de tocar numa maçaneta, onde não tem álcool.

Então é uma insegurança instalada, e não sabemos quanto tempo isso vai durar.

Enquanto durar, o comércio vai sofrer muito.

As relações interpessoais vão ser modificadas.

Paquerar, dançar, vai acabar, porque todos nós estamos com medo, estamos amedrontados.

Essas relações interpessoais terão um novo código.

Qual o código, eu não sei.

O meu momento hoje é de pânico, enquanto empresário, cidadão e ser humano.

JC – Fala-se em terceira onda, em mais restrições. Vamos manter o endurecimento?

Belmiro Vianez Filho – Acho que essa questão de terceira onda é mais anúncio para se  ‘surfar’, mas não há nenhum indício de que isso acontecerá.

Antes de pensar em terceira onda, temos que enfrentar as ondas que estamos vivendo, com a população morrendo já faz tempo. Estamos sofrendo, deixando parentes e amigos para trás da história.

A humanidade foi  marcada profundamente muito por essa questão da pandemia.

A humanidade foi  presente à Lua, enviou naves para Marte, detectando pré-sal, mas não consegue conter um vírus, essa pandemia.

Por sorte a mortalidade desse vírus é pequena, se não teria feito um estrago brutal.

Temos certeza que Deus evitou.

O mundo vai ficar muito chato.

Porque o contato, a amizade, serão alterados.

O calor humano será alterado.

Vai ser um mundo, uma sociedade, mais isolados.

Menos socialmente relacionada.

Pra nós amazonenses, que somos brasileiros, somos ‘calientes’, vai ser traumático.

JC – Nessa questão de verbas, temos uma que não sabemos se está sendo bem utilizada. O governo federal poderia lançar mão dos recursos contingenciados da Suframa para a obtenção de mais vacinas?

Belmiro Vianez Filho – Entra governo e sai governo e os descontingenciamentos prometidos desses recursos não acontecem, em nada.

Seriam recursos importantes para essas finalidades, com certeza.

Foto/Destaque: Divulgação

Marcelo Peres

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