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Comemorar o quê?

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As datas comemorativas nacionais vêm perdendo cada vez mais o seu grau de importância, à medida que a população deixa de dar valor ao motivo da mesma e passa a valorizar apenas o fato de SER FERIADO! Este Dia do Trabalho acontecido esta semana, retrata muito do que estou reportando no sentido de que quase ninguém sabe do motivo que levou a ser decretado o dia 1º de maio como o Dia Internacional do Trabalhador.

A história é longa, pois que desde 1896 lá pelas bandas da França os trabalhadores resolveram se revoltar contra as condições adversas do trabalho e foram às ruas para concordar com a greve acontecida em Chicago, que teve um estrondoso impacto social no mesmo sentido. Mesmo assim, somente a partir de 1894 a data passou a ter conotação oficial em todo o mundo de maneira progressiva enquanto os direitos trabalhistas passaram a ser mais definidos, como a jornada de oito horas.

A questão toda é que até um tempo atrás, bastante tempo por sinal, as escolas mostravam aos alunos cada significado das comemorações oficiais, fossem as nacionais ou internacionais, naquilo que se chamava de Educação Moral e Cívica ou EMC que fazia parte do currículo escolar. Os alunos tinham a consciência que estas datas não eram meros feriados para que as pessoas deixassem de trabalhar ou apenas comemorações festivas. Sabiam que por vezes estas datas eram lembranças de fatos tristes, marcantes para a humanidade e tinham a certeza cívica da motivação destas comemorações.
Por isso fica muita gente se perguntando como pode um país “comemorar” o dia do trabalhador, em um país onde quase quatorze milhões de trabalhadores está desempregado, sem o menor motivo para comemorar. Fica uma situação totalmente sem sentido quando não se conhece o contexto da data e só pensa na realidade nacional, pois foi tolhido pelo próprio sistema escolar da realidade mundial. De qualquer forma fica muito difícil comemorar mesmo para aqueles que trabalham em troca de um salário de miséria, que não dá para suprir suas necessidades mais básicas, enquanto a Constituição de nosso país afirma que o salário mínimo deveria garantir o suficiente para manter as despesas para uma família de QUATRO PESSOAS no que se refere a alimentação, moradia, transporte, educação, saúde, vestuário e lazer.

Logicamente temos direitos que a constituição deveria garantir e que não são apresentados à população como a saúde, a educação e a segurança, quando sabemos que descaradamente rola a cada dia notícias de roubos em todas as esferas públicas de agentes que deveriam garantir estes direitos. Exatamente os motivos que levaram lá no início do Século 19 os trabalhadores a ir para a rua para gritar e se fazer respeitar, gerando o Dia Internacional do Trabalhador, são motivos que os trabalhadores brasileiros têm para reclamar que somente um pequeno grupo de abastados usufrui. Nunca na história moderna de nosso país a concentração de renda foi tão estúpida como está agora, com tão poucos ganhando tanto e tantos ganhando praticamente nada. Sem contar a seletividade dos direitos, quando os mais pobres ficam cada vez mais sem o acesso aos direitos básicos que lhes deveria ser assegurado, como a saúde e educação.

As questões político-ideológicas que levaram a esta situação não cabem discussão aqui, mas foram determinantes, porém a falta de educação básica de nosso povo, agravada de forma proposital nos últimos quinze anos, faz toda a diferença e explica quase tudo de ruim do que vem acontecendo em nosso país, inclusive todo o escoamento de nossas riquezas pelos roubos que estão sendo revelados somente agora quando alguns juízes resolveram mostrar que ainda existe um lado daquele poder que não é podre.

Fica aqui, em meio a um feriado que na maioria dos casos ainda foi imprensado e alongado desde o sábado para somente retornar na quarta-feira, dando a muitos a sensação de folga e de presente para aqueles que não gostam de trabalhar adoram, um pensamento triste, quando imagino aqueles desempregados que buscam desesperadamente um meio qualquer de manter a família e não conseguem, passando fome ficam assistindo a tantos comemorar o dia do trabalho. Certamente estes devem se perguntar: VOU COMEMORAR O QUÊ?

é professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa SINÉRGIO

Orígenes Martins

É professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio
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