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Vanessa Grazziotin: ‘com Lula, teremos a ZFM respeitada’

Vanessa Grazziotin tem uma trajetória política de 30 anos com mandatos consecutivos como parlamentar –dez dos quais no Amazonas e 20, em Brasília. Sua militância na esquerda começou ainda como estudante na Ufam (Universidade Federal do Amazonas) contra a então ditadura militar. Perdeu as eleições em 2018, mas de lá para cá manteve a atuação ao lado do partido que sempre abraçou, o PCdoB, emprestando sua experiência.

São várias bandeiras ao longo de três décadas, que vão da defesa dos trabalhadores, dos direitos das mulheres. Enfim, foram muitas as lutas ao longo dessas três décadas.

Agora, ela está de volta como pré-candidata a uma vaga na Câmara Federal. Crítica contumaz do presidente Jair Bolsonaro (PL), Vanessa faz parte do projeto de Lula, pré-candidato à Presidência, de formar uma bancada forte no Congresso, permitindo o resgate de ações sociais e das conquistas trabalhistas alcançadas durante anos em defesa dos mais pobres e dos menos aquinhoados economicamente.

“Esse atual governo destruiu tudo que construímos, fruto de muitas lutas contra a pobreza. Vivemos uma carestia sem tamanho. Agora, estamos de volta tendo como principal prioridade matar a fome do povo”, ressalta Vanessa. A ex-senadora também promete lutar pela ZFM (Zona Franca de Manaus). E disse que jamais o projeto vivenciou tantos ataques. “Com Lula, teremos a ZFM respeitada. Vamos lutar muito pela vitória dele”, acrescenta ela.

Vanessa questiona os que defendem uma nova matriz econômica em substituição à ZFM. Para ela, essa proposta é um ledo engano. E tão  cedo não vê uma atividade econômica que proporcione a mesma riqueza gerada pelas indústrias em Manaus. “Na realidade, precisamos desenvolver vários modelos que se somem à Zona Franca, gerando mais empregos e renda. Mas jamais poderemos prescindir desse modelo de desenvolvimento bem-sucedido”, afirma. “A estratégia é agregar valor às potencialidades dos nossos recursos naturais”..

“Encaminharam privatizações, mudaram a política de preços da Petrobras, entregaram nossas riquezas e tiraram direito de trabalhadores”

Vanessa Grazziotin – ex-senadora

A ex-deputada diz que o País vive um momento muito difícil com ameaças constantes à democracia, além de uma política econômica escorchando os mais pobres. Para ela, é importante retomar projetos sociais como o Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, algo que parou no tempo com o governo Bolsonaro.

Vanessa Grazziotin participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Foram muitas lutas em sua trajetória política, como pelo direito à meia-passagem para os estudantes….E agora, retornando de novo ao cenário. Quais as próximas bandeiras?

Vanessa Grazziotin – É, teríamos muitas coisas a falar se fizéssemos uma retrospectiva. Fiquei no parlamento 30 anos consecutivos, dez anos em Manaus e 20 em Brasília, entre Câmara e Senado….

JC  É bom saber que, antes do Parlamento e de Brasília, já tinha a ativista Vanessa…

VG – Sim, o que me trouxe à militância política é o que me mantém hoje. Há muitos políticos que dizem eu quero ser prefeito, quero ser governador, deputado.

Eu não. Entrei na política para fazer militância, vindo de um final da ditadura militar. Entrei na Universidade Federal do Amazonas e me deparei com a triste realidade da falta de democracia, da falta de oportunidades para a juventude e para a maioria do povo brasileiro.

Ali, aprendi que a gente só dá passos adiante se entrarmos no movimento. Os governantes são muito importantes, mas eles não decidem tudo. Se a população não estiver organizada, não estiver lutando pelos seus direitos, dificilmente a gente avança.

É uma trajetória longa. Acho que agora nós vivemos um momento muito difícil. Iniciei a minha militância política lutando pela democracia. O presidente era o general Figueiredo. A gente não tinha direito nem de votar para governo naquela época.

E hoje, por incrível que possa parecer, nós estamos lutando em defesa da democracia que vem sendo atacada todos os dias. Em defesa dos direitos do povo, da mulher, que vêm sendo tirados todos os dias,

Um momento muito importante. O Brasil viveu uma evolução política nesses últimos anos, uma grande reviravolta e hoje sofre com isso. Sofre com a carestia, com a falta de empregos, com salários baixos. Depois de décadas, pela primeira vez, o salário mínimo não teve sequer o reajuste de acordo com a inflação.

É isso que me traz um apelo. O partido realizou um grande evento para o lançamento da minha pré-candidatura. E eu digo o seguinte, estamos todos juntos, então vamos aceitar esse desafio porque é necessário.

JC – Quem lhe acompanha, sempre a viu num movimento de ascensão política. Agora, o questionamento é: por que não a natural opção de tentar o Senado em vez da Câmara?

VG – Já em 2018, quando estava em jogo a cadeira que eu ocupava, muita gente perguntava por que você não veio para deputada federal. Porque ali nós tínhamos acabado de enfrentar um processo muito difícil que foi o golpe.

Vanessa: “Principal prioridade é resgatar o trabalho e a dignidade das pessoas”

Hoje ninguém mais duvida, ali não era um impeachment, foi um golpe, não foi só contra uma presidente da República. Ali, houve uma concertação entre as forças poderosas do País, a grande maioria dos políticos se envolveu no projeto para tirar a presidente. Depois que a tiraram do poder, uma presidente que nem um crime cometeu, foi o poder judiciário que encerrou de vez o processo das pedaladas, que nunca existiu. Eles fizeram foi prender o Lula.

E hoje as pessoas já começam a perceber que não era aquilo que estava acontecendo no Brasil. Eles inventaram uma grande mentira, espalharam em fake news para tomar de assalto o poder e mudar o projeto.

Em que sentido mudaram o projeto? Encaminharam as privatizações, mudaram a política de preços da Petrobras, entregaram nossas riquezas e tiraram o direito dos trabalhadores. É só olhar as reformas que eles fizeram depois de 2016 uma a uma. Todas elas negativas para o Brasil e para o povo brasileiro.

JC – Em razão disso, a posição estratégica de lutar pela Câmara….

VG – Exatamente. Hoje, nós estamos numa federação que é composta, além do PCdoB, pelo PT, partido de Lula, e pelo PV. Essa federação tem o objetivo de eleger uma grande bancada de deputados federais. O próprio presidente Lula passou aqui, vindo de uma viagem do México, e falou para todos nós que estávamos lá, membros do PCdoB, do PT, do próprio senador Omar Aziz, do PSD, ele disse claramente que nós precisamos, além da Presidência da República, eleger uma bancada forte. E uma bancada que tenha parlamentares que possamos confiar, que tenham posições firmes. Então, é essa posição que faz ajudar uma chapa forte, ajudar a colocar de volta todos aqueles projetos que foram retirados. A começar pela valorização e respeito à Zona Franca de Manaus.

JC – Alguém já disse lá atrás que governar é eleger prioridades. Sabemos da situação muito difícil que o Brasil atravessa. Temos que ser otimistas, quer queira quer não. Hoje, qual a sua principal demanda?

VG – São muitas, mas a principal prioridade é resgatar o trabalho e a dignidade das pessoas. Não dá mais para conviver com esses salários tão baixos e essa carestia que estamos enfrentando hoje.

As pessoas estão passando fome, fome literalmente.  A primeira das prioridades é matar a fome do povo, resgatar os programas sociais que  têm sido deixados para trás. Precisamos trazer de volta um projeto de país que resgate a dignidade das pessoas. Que promova novamente a inclusão social. O Brasil tinha saído do mapa da fome, mas voltou ao mapa da fome.

JC -Você foi uma representante das mulheres na política. Mas agora vimos uma diminuição do Amazonas nessa luta no Congresso. Muitos não se sentem representados. Como avalia essa situação?

VG –Realmente, não se sentem. Lamentavelmente, é a parcela mais sofrida da sociedade. Quando a gente fala em miséria, e pobreza, no geral estamos falando na maioria de mulheres.

Mulheres que chefiam mais de 40% das famílias brasileiras, hoje em dia elas são mães e pais ao mesmo tempo e que dão um jeito de levar comida para os seus filhos. O Brasil é um dos países que tem um dos piores índices em relação à presença das mulheres na política. E quando a gente fala dessa presença, estamos falando da metade da população que tem que estar representada para poder junto aos homens construir as leis necessárias. Construir as políticas públicas necessárias. E é muito triste a gente ver que, dos 11 parlamentares federais do Amazonas, não há uma única mulher na bancada.

JC – Temos três cenários. Mas está longe de haver uma terceira via. Todos analisam uma disputa polarizada. Ou é Lula ou Bolsonaro. Haverá diferença da deputada Vanessa eleita para a Câmara com Lula ou Bolsonaro?

VG -Terá diferença o governo porque a Vanessa com Lula é a Vanessa que vai lutar pelo Luz para Todos, voltar com uma qualidade e um desenvolvimento tecnológico muito maior.

Para também trazer de volta o programa Minha Casa, Minha Vida, ainda a expansão das vagas das universidades públicas e o acesso da juventude ao ensino superior. Trazendo de volta os direitos das mulheres.

Com Bolsonaro, é uma luta como tem sido hoje, defender a democracia todos os dias, defender os direitos das mulheres. De forma muito dura, a gente conquistou e ele está tirando um a um. Vem um bilionário para o Brasil e eles babam. Para o povo eles não estão nem aí. O povo brasileiro passando fome e o presidente andando de jet ski. Não dá para não se indignar diante de uma situação dessa. Vamos trabalhar muito pela vitória de Lula. Sabemos que com ele vamos ter a Zona Franca respeitada.

JC – Durante esse período sabático após os 30 anos de mandatos consecutivos, o que a Vanessa ficou fazendo? Acendeu novamente aquela luz….

VG – Logo que não foi confirmada a minha eleição, a bancada me chamou, e disse que queria a minha experiência. Eu fui. Muitos dizem que quem fica tanto tempo no Parlamento fica rico. Nada disso. Eu vivo com o fruto do do meu trabalho.

Durante a pandemia, vivi uma situação difícil. Minha irmã trabalha com alimentação e fui chamada para cuidar da minha mãe. Lamentavelmente, perdi a minha mãe no ano passado. Esse período foi marcado muito pela pandemia. Agora, olhar as coisas de fora é sempre muito importante. E a militância não parou de jeito nenhum.

JC -Está no sangue….

Grazziotin foi recebida nos estúdios do JC às 15h, no Jornal do Commercio e participou de bate-papo descontraído com os apresentadores Caubi Cerquinho e Fred Novaes

VG – Está na consciência, muito mais que no sangue. Eu não venho de uma família de políticos. A política é uma questão de consciência. Tenho certeza que a partir do momento que uma pessoa se conscientiza, ela faz política. Todos nós somos seres políticos, cada qual da forma e onde está.

JC – A recuperação da BR-174 é uma novela que não tem fim. Não se sabe se trará desenvolvimento, mas permitirá uma interligação do Amazonas com o resto do Brasil. Parece que não temos perspectivas….

GV – Eu tenho perspectivas positivas. Acredito que a estrada será recuperada. Mas temos que cumprir uma série de requisitos ambientais que são necessários. Estou plenamente convencida.

A  BR-319 não vai ser um vetor econômico muito forte. É um engano achar que essa estrada vai ter caminhões pesados trafegando. Ela é a ligação com o nosso próprio País. Do ponto de vista econômico, o transporte fluvial é muito mais barato, obviamente. É muito mais viável que o transporte rodoviário.

No geral, a BR é para o ligar o Amazonas ao Brasil, ligar a parte mais preservada da Amazônia. Tem que ser uma estrada parque conhecida mundialmente. Na época em que estive no Parlamento, tínhamos muitas audiências e as reservas foram caminhando, sendo implantadas, mas tudo isso parou no governo Bolsonaro. Cadê o nosso Fundo Amazônia? Está parado. Não tem respeitabilidade internacional nenhuma.

JC – Um internauta pergunta qual o candidato que irá apoiar para o governo do Estado? A federação já escolheu todos os nomes?

VG – A federação estará junta não só nessas eleições, mas também em 2024. A partir desta eleição, essa nova legislação vai crescer mais e melhorar a política. Ainda não definimos quem vamos apoiar ao governo do Estado. Não dá para lançar sem marcar uma posição primeiro. Estamos avaliando quem realmente tem possibilidade de vitória. O PCdoB está apresentando a necessidade de apoiar um candidato com base em programas, princípios e tudo mais. Até para a gente ter um palanque forte para o presidente Lula no Estado do Amazonas.

JC – Como você pode incluir uma pauta como deputada federal para tentar fazer algo com relação ao homem do interior amazonense?

VG – Muita gente defende uma alternativa à ZFM, outro modelo de desenvolvimento. É um equívoco. Temos que ter uma diversidade de modelos, não significa que a Zona Franca tem que acabar. E todos os modelos passam pela necessidade de utilizar os nossos recursos naturais de forma racional.

Quer dizer, utilizar essas riquezas naturais, agregar valor a elas. E, através disso, promover o desenvolvimento, a inclusão, a geração de empregos e renda. E isso é falar de interior. Mas a primeira coisa que a gente precisa ter para garantir esse processo de desenvolvimento é a energia. E uma das primeiras coisas que esse governo fez foi acabar com o programa Luz para Todos.

JC – Você falou da vinda do ex-presidente a Manaus, que foi uma passagem rápida. Já é uma articulação para futuras visitas por parte da militância e também de seus apoiadores?

VG – Ele virá. Estive lá no lançamento na formalização de sua pré-candidatura. Ele disse que a partir de agora estou com o pé na estrada. Antes do casamento, ele foi a Minas. Em breve, ele estará aqui conosco. Mas não temos ainda a data certa. Não vai demorar..

JC – É possível ter uma diferente Vanessa como deputada em relação à experiência acumulada de 30 anos? Claro, houve erros e acertos na vida pública. O que poderá mudar?

VG – Claro, ninguém pode chegar e dizer que não errou. Na vida, a gente erra. O problema não é errar, o problema é você não aprender com o erro e persistir no erro.

Então, é obvio que como as pessoas eu também errei muito. Tenho uma consciência muito forte de que me dediquei muito. É a minha característica pessoal, é muito a característica das mulheres. Fui muito dedicada em todos os meus mandatos. Sempre tive posições muito fortes. Sempre com base nos projetos que tive convicções.

Não quero plagiar o presidente Lula. Ele diz estou com 76 anos, mas estou longe de chegar aos 76. Amadureci muito. Ele diz estou voltando para ajudar o meu País. Eu estou voltando para ajudar num projeto.

JC – Vivemos um novo momento. Antes, trabalhava-se uma campanha mais no corpo a corpo. O mundo está muito midiático. A internet está muito presente, algo que vem ganhando mais dimensões. Como encara essa situação e seus possíveis impactos?

VG – E pior que daqui para a frente isso vai ficar muito mais evidente. A tecnologia avança muito rapidamente. Você faz tudo por um telefone, inclusive conversar com as pessoas. Mas, infelizmente, esse telefone está sendo utilizado para espalhar o mal. Os tempos ruins que vivemos são em grande parte por conta disso.

São mentiras que acabam virando verdades. Espero que a partir de agora, com a vivência própria, a população tenha consciência que não dá para ouvir o que as pessoas dizem. Tem que ver como está a vida dela e a partir daí, em cima disso, eles se posicionarem nesse processo eleitoral.

Vamos trabalhar em cima do real, são essas decisões que vão orientar nossas vidas nos próximos anos. Bolsonaro usa muito os chamados orçamentos secretos para comprar parlamentares, condicionando que eles não mexam em seu mandato. Estou espantada com tantos políticos conseguindo recursos por emendas parlamentares.

Marcelo Peres

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