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Com a participação de todos, lixo deixa de ser problema, afirma Vinicius Saraceni

O lixo se tornou um problema desde quando as cidades surgiram, e só tem aumentado, até os dias de hoje, principalmente agora em que vivemos a época dos descartáveis. Para falar sobre essa situação, o Jornal do Commercio entrevistou Vinicius Saraceni, empreendedor social, fundador da Atina Educação e coordenador do Movimento Circular, responsável pela implementação de movimentos internacionais e políticas públicas em educação.  

Jornal do Commercio: A coleta seletiva de resíduos sólidos acabaria com o lixo, no planeta, então, o que falta para os prefeitos a executarem com mais objetividade? 

Vinicius Saraceni: São muitos os desafios que envolvem a questão do lixo. A coleta seletiva dos resíduos é um deles, embora muitos avanços tenham sido feitos nos últimos anos nesse sentido. Para se ter ideia, um levantamento da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) mostra que a cobertura da coleta de resíduos sólidos urbanos cresceu de 88% para 92% entre 2010 e 2019. Nesse mesmo período, a quantidade de municípios que contavam com o serviço de coleta seletiva passou de 56,6% para 73,1%. Para chegarmos ao cenário ideal, é necessário um conjunto de ações, que começa por aquela que é a maior questão: a educação. Ainda há muita desinformação quando falamos que a reciclagem e separação de resíduos e o descarte correto são a base para uma mudança de cultura. Então, o primeiro ponto é a promoção da educação ambiental. Somado a isso ainda temos questões como a formalização de cooperativas de catadores de resíduos, falta de pessoal qualificado, cobertura ineficiente de coleta seletiva e de estrutura correta tanto para o descarte quanto para a separação dos resíduos sólidos.

JC: O plástico, parece, está sendo substituído pelo lixo eletrônico. 

VS: A lógica da economia linear, modelo que seguimos hoje, é a lógica do descarte. O avanço tecnológico faz com que tudo pareça e fique ultrapassado em pouquíssimo tempo, gerando a necessidade de comprar novos produtos mais modernos e descartar aqueles que estão obsoletos. Não buscamos, no entanto, tornar nenhum material o ‘vilão’ dessa história. É urgente debater a destinação de todo tipo de material e algo ainda mais profundo: o modelo da nossa economia. Por meio da economia circular, tudo ganha um novo uso. Se a lógica do nosso consumo for alterada, muitos materiais serão reaproveitados e deixaremos de produzir um rastro de lixo pelo mundo. 

JC: Também o isolamento social foi prejudicial até na questão de maior produção de lixo? 

VS: Com o isolamento social, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, o que, consequentemente, aumentou o volume de resíduos produzidos nos lares. Se por um lado há o aspecto negativo, por outro, pudemos ver o aumento da coleta seletiva em grandes centros urbanos. A capital paulista teve aumento de 20% nos resíduos provenientes da coleta seletiva entre os meses de março e dezembro de 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com dados da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana). Ficar em casa também acabou fazendo com que as pessoas conhecessem melhor a rotina da coleta de recicláveis. 

JC: A cultura de produzir, consumir e descartar veio para ficar? 

VS: Definitivamente, não. Os avanços que temos presenciado nos últimos anos só foram possíveis porque existem pessoas, organizações, entidades, ONGs e poder público engajados na mudança. O Movimento Circular é fruto dessas parcerias e, somente em um ano, impactamos mais de meio milhão de pessoas na América Latina. Lançamos a primeira escola aberta de economia circular, a Circular Academy (academy.movimentocircular.io) e no primeiro mês fomos um sucesso de matrículas. O mundo está cada vez mais entendendo que a lógica linear não é sustentável, que precisamos migrar para uma forma circular de funcionar.

JC: Recentemente políticos de Manaus criaram uma lei obrigando os supermercados a cobrar pelas sacolas plásticas para ‘obrigar’ os clientes a não querer usá-las. Lógico que não deu certo, houve uma grita geral e a lei foi revogada. Qual seria a maneira correta para se acabar com o uso das sacolas plásticas? 

VS: As sacolas plásticas são parte da cultura do consumo, bem como outros tipos de embalagens que também acabam virando lixo. E aí, de novo, entra a questão da educação como caminho para estimular melhores escolhas e criar uma nova lógica mais coletiva. Só para exemplificar essa lógica, a economia circular está vinculada a diferentes Rs: recusar, repensar e reduzir são apenas três deles.

JC: Quando vemos pessoas jogando lixo para dentro de rios e igarapés é de se pensar que jamais teremos 100% de conscientização quanto à resolução desse problema.

VS: O processo de mudança é longo porque exige educação para a mudança de cultura. Felizmente, temos visto cada vez mais pessoas interessadas em mudar essa realidade. Nosso mapa de iniciativas na plataforma do Movimento Circular (movimentocircular.io) reúne dezenas de projetos inspiradores, de pessoas que fazem a diferença nos seus bairros, cidades, Estados e países. É um trabalho longo e que deve ser feito a muitas mãos, mas estamos no caminho certo, o caminho da mudança pelo mundo que queremos.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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