Cloroquina continua em pauta na CPI da Pandemia

Mais um depoimento bombástico na CPI da Pandemia. Na retomada dos interrogatórios nesta terça-feira (11), o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, ratificou a versão apresentada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta sobre a sugestão na alteração da bula da cloroquina para o tratamento de Covid-19.
Segundo Torres, a ideia partiu da médica Nise Yamaguchi. “A proposta provocou uma reação pouco elegante”, disse ele. O especialista acrescentou que fazer a alteração em indicações de remédios, de forma aleatória, seria impossível.
“Só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do País de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro”, contou o diretor da Anvisa.
Ao ser questionado pelos senadores, Barra Tores disse desconhecer o autor da proposta para alterar as indicações sobre o uso da cloroquina. “A doutora (Nise Yamaguchi), de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com esse objetivo”, esclareceu.
Indagado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se a cloroquina seria um a alternativa para tratar a Covid-19, Barra Torres informou que existe no Brasil um estudo (em aberto) sobre a utilização da substância, com previsão de término apenas em 31 de dezembro deste ano.
“Até o presente momento, no mundo todo, os estudos apontam a não eficácia comprovada em pesquisas ortodoxamente reguladas, ou seja, placebos controlados, duplo-cego e randomizados”, afirmou. “Então, até hoje, as informações vão contra a possibilidade do uso na Covid-19”, ressaltou.
Barra Torres garantiu (em alto e bom som) não ter sofrido nenhuma interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao assunto. “Nunca sofremos pressão para alterar a bula da cloroquina com esse objetivo”, disse.
‘Tendenciosidade’
Omar Aziz garantiu a senadores governistas que a comissão vem tendo “um rumo natural em suas investigações”. A declaração foi em resposta a senadores da base governista que consideram tendenciosos os trabalhos da CPI, objetivando manchar a imagem do governo Jair Bolsonaro nas medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
“Aguardo o envio de mais documentos para que Estados e prefeituras sejam mais focalizados. Diversas secretarias estaduais, às quais já foram solicitados documentos a respeito da aplicação de recursos federais repassados, têm pedido mais de cinco dias para enviar as informações”, disse Aziz.
O senador voltou a afirmar que os trabalhos da CPI são realizados de forma imparcial, independentemente de classe, gênero, cor e ideologia partidária. Ele ressaltou que quer o máximo de informações sobre a utilização dos recursos liberados para a pandemia no Brasil.
“Não adianta o cara chegar aqui e dizer que recebeu R$ 400 milhões e gastou R$ 400 milhões, sem dizer aonde empregou o dinheiro, tanto em Estados quanto em municípios. Quando os dados chegarem, vamos chamá-los (os representantes de governos estaduais e prefeituras). Vamos dizer ‘olha, o governo tal pegou esse dinheiro, e gastou de forma indevida’ baseados em fatos concretos”, explicou.
De acordo com Omar, a comissão segue um rumo normal e natural nas investigações. O senador entende que primeiro é preciso ouvir todos os ministros da Saúde desde o início da pandemia, processo que (espera ele) seja encerrado no dia 19, com a oitiva do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Além dos ex-ministros, são necessárias oitivas com o Instituto Butantan e com a Fiocruz, além dos fabricantes das vacinas. Após encerrado esse processo, e com a documentação que chega dos Estados, o uso dos recursos repassados pelo governo federal para governos estaduais e prefeituras também será abordado pela CPI, segundo Omar Aziz.
No início da reunião da CPI dessa terça-feira, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) protestou contra a tentativa da oposição de reconvocar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Para ele, a iniciativa faz parte da estratégia oposicionista de blindar Estados e prefeituras, focando os trabalhos da CPI apenas no governo federal.
“Vocês só falam em cloroquina, mas e a roubalheira, a corrupção e os desvios de verbas? Temos que investigar isso também”, protestou. Luis Carlos Heinze (PP-RS) adotou a mesma linha.
O senador disse que o governo federal investiu R$ 200 mil na cloroquina e repassou R$ 73 bilhões para Estados e municípios. “A discrepância indica que o foco da CPI deve ser no que foi feito dos repasses, em vez de priorizar o chamado tratamento precoce’, argumentou o parlamentar.
Foto/Destaque: Marcos Oliveira/Agência Senado

Marcelo Peres
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