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Cine Silvino Santos, homenagem ao cineasta

No dia 14 de maio passado completou 52 anos da morte do pioneiro do cinema na Amazônia, e um dos pioneiros da fotografia, o português Silvino Simões Santos Silva, ou simplesmente Silvino Santos. Nascido em Cernache do Bonjardim, em 1899, com apenas 14 anos, Silvino veio para Belém em busca da Amazônia que vira em seus livros de escola. Na capital paraense o português ficou até 1910, quando rumou para Manaus e aqui viveu até seus últimos dias, em 1970, pobre e esquecido. Com 84 anos, Silvino caiu de uma escada que levava para o segundo andar de sua casa, bateu com a cabeça numa pedra, no chão, ficou alguns dias internado na Beneficente Portuguesa, onde morreu.

Mais de cinquenta décadas depois de sua morte, Silvino está quase tão desconhecido pelos manauenses como no dia em que morreu. Não fosse pelo fotógrafo Normandy Litaiff, que era vizinho de Silvino, em fins da década de 1960, ter falado para alguns amigos apaixonados por cinema, entre eles Joaquim Marinho e Márcio Souza, sobre o acervo filmo-fotográfico que o português guardava em sua casa, muita coisa se deteriorando, e todo o material produzido por ele que conhecemos hoje, teria se perdido. No andar superior da casa, hoje abandonada, Silvino Santos mantinha, em péssimas condições, milhares de chapas de vidro, onde estavam revelados os negativos de suas fotos, e os originais de seus filmes, curtas e longas, dentro de latas enferrujadas.

Graças à intervenção daqueles jovens apaixonados por cinema, Manaus ficou sabendo quem havia sido Silvino Santos em sua juventude, um aventureiro que percorreu a Amazônia de norte a sul, de leste a oeste, por mais de 40 anos, fotografando e filmando.

A última homenagem recebida por ele, em vida, aconteceu em 1969 durante o Festival Norte de Cinema.

Cine Silvino Santos

Os negativos em chapa de vidro de Silvino, material que era utilizado no início do século 20, passaram a fazer parte do acervo do Museu Amazônico, da Ufam, enquanto os filmes foram levados para a Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro, onde foram restaurados e permanecem guardados. As cópias deles são as exibidas esporadicamente, em Manaus.

O que poucos manauaras sabem é que, desde 2011, Silvino Santos recebeu uma nova homenagem, permanecendo até os dias de hoje: a inauguração do Cine Silvino Santos, com 30 lugares, nas dependências do Museu do Homem do Norte, localizado no Centro Cultural dos Povos da Amazônia. O Cine, se o visitante do Museu solicitar, exibe alguns filmes do cineasta das selvas.

“Acredito que essa bela sala, com o nome de Silvino, seja a maior homenagem que ele recebeu, e se mantém há mais de dez anos. Com a exibição dos seus filmes, os visitantes ficam conhecendo um pouco do trabalho que ele realizou documentando a Amazônia de mais de cem anos atrás através de sua câmera”, destacou Francisca Portela, subgerente da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado.

Quem quiser conhecer as máquinas fotográficas e a câmera de filmar que Silvino utilizava, elas estão expostas no Palacete Provincial, no Museu da Imagem e do Som. Detalhe: quando Silvino filmou ‘No rastro do Eldorado’, entre 1924 e 1925, durante a Expedição Rice, ele revelava os negativos no interior do caule de uma árvore. O filme que o português usava em suas filmagens foi desenvolvido pelos químicos do laboratório da Pathé, em Paris, onde ele foi para aprender a filmar, em 1912. O material exclusivo era resistente ao calor amazônico.

Pode solicitar

O Museu do Homem do Norte funciona de terça-feira a sábado, das 9h às 15h. Os filmes de Silvino disponibilizados para os visitantes são ‘No paiz das Amazonas’, de 1921; e ‘No rastro do Eldorado’, além do documentário ‘O fim de um pioneiro’, que mostra cenas dele internado na Beneficente e depois o seu enterro, no cemitério São João Batista. Até recentemente sua sepultura estava abandonada naquele campo santo.

“Quem visitar o Museu, pode solicitar ver os filmes”, avisou Francisca.

Outros filmes conhecidos do cineasta são filmagens realizadas no rio Putumayo, no Peru, em 1912, a pedido do seringalista Júlio César Araña, que financiou esse trabalho e também mandou Silvino até Paris. Esse filme se perdeu a bordo de um navio que naufragou e onde estavam os negativos; ‘Amazonas, o maior rio do mundo’, de 1918, teve seus originais roubados e nunca mais foi visto; ‘No paíz das Amazonas’, de 1921. Esse filme fez tanto sucesso no Rio de Janeiro, durante a Exposição da Independência, em 1922, que ficou vários dias em exibição; ‘Exposição da Independência’, de 1922; ‘Terra encantada’, de 1923; ‘Golpe de Ribeiro Júnior’, de 1924, quando Silvino filmou a turbulência em Manaus depois que o tenente Ribeiro Júnior tirou, à força, o governador do poder; ‘No rastro do Eldorado’, quando ele acompanhou o americano Hamilton Rice numa aventura de nove meses subindo o rio Branco, entre 1924 e 1925; ‘Terra portuguesa’, filmado em Portugal, quando acompanhou o empresário J. G. Araújo em visita àquele país, em 1925 e 1927; e “O comilão da Estácio’, de 1929/30, também filmado em Portugal.

Além de exibições especiais, no Cine Silvino Santos acontecem palestras, oficinas, reuniões, workshops entre outros eventos.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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