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Cheia causa prejuízo recorde na agropecuária do Amazonas

A cheia registrada neste ano já bateu recorde não apenas no nível de subida dos rios, como também nas perdas impostas à agropecuária. O boletim periódico mais recente do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas), emitido na quinta (10), aponta que os prejuízos já ultrapassam R$ 206 milhões, englobando 35 variedades de culturas agrícolas, além de todos os segmentos da pecuária amazonense. O órgão estima, contudo, que os danos ainda podem chegar aos R$ 300 milhões.

Ao menos 17.699 famílias que trabalham no setor primário, em 25 municípios, saíram perdendo com a subida das águas, neste ano. Uma das áreas mais afetadas é a calha do rio Solimões. Manacapuru respondeu pelo segundo maior número de famílias afetadas (3.331) e o dado mais elevado de prejuízos (R$ 68,78 milhões). A situação não é muito melhor na calha do Rio Purus: Pauni é o município tem a maior quantidade de famílias nessa situação (4.403), embora contabilize esteja no segundo lugar em termos de dimensão de perdas materiais (R$ 24,66 milhões). 

Boca do Acre (1.778 e R$ 11,39 milhões), Carauari (948 e R$ 11,91 milhões), Manicoré (349 e R$ 10,33 milhões), Fonte Boa (322 e R$ 10,18 milhões), Envira (616 e R$ 9,02 milhões), Careiro da Várzea (904 e R$ 8,47 milhões), Itacoatiara (217 e R$ 6,10 milhões), Itaramati (273 e R$ 6,01 milhões) e Canutama (1.053 e R$ 6,07 milhões), entre outros, também se destacam no mapa de destruição desenhado pela enchente recorde deste ano.

A cultura agrícola que amargou mais prejuízos de produção foi a da banana, que totalizou R$ 66,65 milhões e mais de 66.648 toneladas em perdas. Na sequência, em termos de valor de produção, estão farinha de mandioca (R$ 31,12 milhões e 7.779,5 toneladas), hortaliças (R$ 29,51 milhões e 404,8 toneladas), mamão (R$ 24,26 milhões e 16.172,3 toneladas), macaxeira (R$ 16,74 milhões e 16.745,3 toneladas) e laranja (R$ 9,49 milhões e 37.981,2 toneladas), entre outras culturas.

A pecuária amargou danos significativos também, embora de menores proporções em relação à agricultura. O Idam calcula que a cheia recorde deste ano já levou os criadores do Amazonas a perderem pelo menos 1.078 cabeças de gado, o equivalente a quase R$ 1,62 milhão em valor de produção. Os prejuízos incluem 2.845 cabeças de suínos (R$ 569 mil), 11.827 cabeças de aves (R$ 236.540) e 74 cabeças de ovinos (R$ 7.400).

“Êxodo rural”

O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, assinala que a cheia deste ano é recorde para o período de medições oficiais e “lamentavelmente” alcança o maior valor de prejuízos econômicos para o setor rural. “Como em todas as cheias, mas este ano com maior intensidade, as culturas afetadas são principalmente aquelas cultivadas nas áreas de várzea, tais como, mandioca, fruticultura, fibras e hortaliças. A pecuária também está sendo bastante atingida, com quedas significativas na produção de leite e derivados, bem como, na produção de carne”, listou.

O dirigente conta que o Estado vem implementando medidas diante da cheia, como suporte humanitário, anistia e renegociação de dívidas, entre outras medidas, mas diz aguardar que outras possam ser viabilizadas, como o aporte de recursos para suplementação de nutrição animal. “Nossa preocupação é com os prejuízos na produção, que geram perdas de renda para milhares de famílias rurais. Estamos preocupados também com o risco de que haja êxodo rural, o que não é desejável no aspecto econômico e social. E este ano o quadro de dificuldade da maior cheia histórica se somou ao contexto de crise económica decorrente da pandemia”, lamentou.

“Garantia Safra”

Em sintonia, o titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, concorda que a combinação de enchente recorde e pandemia “sem precedentes” são um problema, mas lista uma série de ações do governo estadual para minimizar os danos. Entre elas está o crédito emergencial de R$ 20 milhões, a distribuição de 42 toneladas de sementes (hortaliças, frutas e cereais), a anistia de dívidas dos produtores rurais atingidos, a entrega de cestas básicas e a compra da produção da agricultura familiar – pelo PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e pelo Preme (Programa de Regionalização de Merenda Escolar) – e dos piscicultores – para doação a pessoas em vulnerabilidade social. ‘

“Visando o futuro, já que todos os anos sofremos com enchentes, estamos finalizando, junto ao governo federal, a inclusão do Amazonas no Programa Garantia Safra, que vai proporcionar R$ 850 aos agricultores ribeirinhos atingidos pela enchente. Inclusive, o Amazonas foi o primeiro Estado do bioma Amazônico a aderir ao programa. Além disso, estamos avançando no Zarc [Zoneamento Agrícola de Risco Climático] de algumas culturas, para beneficiar nosso produtor com o seguro rural e mais facilidade de acesso ao crédito rural. Todas essas ações fazem parte do programa Operação Enchente, do Governo do Amazonas”, acrescentou.

Crédito e seguro

Já o ex-superintendente da Conab, administrador com especialização no agronegócio e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, entende que o produtor amazonense “que planta” deve ter acesso ao crédito e, consequentemente, direito ao seguro rural. “Se ele tiver alguma perda, terá direito ao benefício. Isso ainda não existe no Amazonas, em função do baixo acesso ao crédito rural e porque não possuímos nenhuma cultura agrícola amparada pelas portarias de Zarc. Agora, já temos cinco ou seis que estão amparadas, o que já é uma evolução”, apontou.

Meirelles questiona, contudo, o formato escolhido para as ajudas em cestas físicas de alimentos para as famílias atingidas e defende que o auxílio seja concedido pelo Seguro Defeso, Bolsa Família ou até pelo Garantia Safra – que são recursos retirados nas agências lotéricas da Caixa Econômica. “Isso faz com que a economia gire no Amazonas, porque normalmente os alimentos das cestas são adquiridos fora do Estado. Haveria também mais transparência, pois é o próprio beneficiado que vai sacar o dinheiro e comprar os alimentos para sua necessidade”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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