Nas últimas semanas, nós, amazonenses, ficamos iguais a marido traído: fomos sempre os últimos a saber. Parte da arquibancada do estádio da Fonte Nova desabou em Salvador, na Bahia, e então fomos informados de que o Vivaldo Lima está classificado entre os cinco piores estádios do Brasil, segundo avaliação do Sindicato dos Engenheiros e Arquitetos. Agora, em reportagem veiculada no Jornal Nacional, dia 4, descobrimos que os estudantes amazonenses ficaram em último lugar em uma avaliação de matemática, realizada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, cuja sigla em inglês é Pisa.
A avaliação do Pisa foi feita em 57 países e o Brasil ficou em 54º lugar, o pior da América Latina, em matemática.
Entre os estudantes brasileiros, os amazonenses ficaram em último. Estes dados anunciam uma tragédia para um futuro não muito distante. A consequência mais imediata é que abdicamos, assim, a qualquer sonho de um dia termos aqui um pólo de informática. É uma equação com resultados perversos para os amazonenses, que estarão de fora de um mercado cujas expectativas de crescimento são simplesmente assombrosas em todo mundo. A informática, com sua base binária, é matemática pura. Todo e qualquer software é construído a partir de elaboradas equações que vão muito além do simples dois mais dois, que nossos estudantes ainda têm dificuldades em responder.
Não é à toa que, atualmente, a Índia é o país que mais cresce neste mercado, sendo o maior produtor de software no mundo. Para lá estão se transferindo importantes indústrias do setor, desbancado há muito o Vale do Silício, na Califórnia, como o principal centro produtor de informática. Por quê? Porque o ensino básico na Índia, assim como em muitos países da Ásia, tem enfoque nas ciências exatas. Desde cedo, os estudantes indianos têm na matemática a principal área de aprendizagem e esta prática não é coisa recente, uma necessidade do momento para o mercado de informática, porque é tradição nas escolas da Índia o ensino de equações e de tantos outros problemas cujas soluções são encontradas através de números.
A matemática, na Índia, tem uma história à parte. O que nós conhecemos como algarismos arábicos foram na realidade inventados pelos indianos. Mas, como foram os árabes que os divulgaram na Europa, ficaram com a fama de seus criadores. Quando os europeus partiram para as grandes navegações, sua matemática era tão atrasada que ainda faziam uso de algarismos romanos. Como se sabe, não existe um símbolo nestes numerais para designar o zero. O zero parece pouca coisa, mas em matemática é essencial para solucionar equações avançadas e, imprescindível, no cálculo do tempo. Sem os algarismos indianos, ou arábicos, o que nós conhecemos hoje como informática sequer existiria, porque tudo que um computador faz tem por base os números binários zero e um.
Quando os europeus chegaram na América ainda faziam uso de algarismos romanos e, por isso, se assombraram com o conceito de zero que os maias, antigo povo da conhecida Meso-América, no atual México, tinham para calcular o tempo. Para os invasores, o zero era uma espécie de bruxaria e, pensando dessa maneira, queimaram os códices maias que ensinavam uma matemática avançada, capaz de calcular o tempo com mais precisão do que nós, com toda nossa tecnologia de hoje, não somos capazes de calcular. A matemática era a base da cultura dos maias e continua sendo a base da cultura indiana. Países que apostaram na educação, como forma de desenvolver sua economia, ensinam matemática a seus alunos com afinco, e cobram resultados dentro e fora das salas de aula.
A tradição brasileira de ensino humanístico está nos fazendo perder o bonde da história, quando enfatiza a discussão de temas filosóficos em detrimento ao conhecimento das ciências exatas. Nossos alunos perdem tempo nas salas de aul