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Cenário gamer avança de fase em Manaus

Mais do que diversão, os jogos eletrônicos são vistos como uma oportunidade de carreira e sucesso. Gamers profissionais se dedicam, fisicamente e mentalmente, em busca de premiações –por vezes milionárias –em eventos do chamados eSports. Essa febre já chegou a Manaus e, hoje, a cidade já conta com grupos altamente estruturados e uma cena que, a cada dia, se torna cada vez mais forte.

É comum em várias regiões do Brasil, principalmente no Sudeste, ter clubes de futebol com departamentos estruturados e altamente competitivos nos eSports. Na capital amazonense, a situação não é diferente. O Manaus Futebol Clube, por exemplo, tem hoje uma equipe de alto padrão, o Manaus FC eSports.

Para se ter uma ideia do tamanho do negócio, o Manaus FC eSports conta com nada menos que 35 players, como são conhecidos os jogadores deste esporte. Vale lembrar que todos são daqui, de Manaus.

A estrutura multidisciplinar do time conta com psicólogo, fisioterapeuta, coach e manager, e é capaz de fazer inveja a muitos clubes do futebol profissional.

A equipe se faz presente em quatro modalidades: Free Fire, PUBGM, WR e FIFA. No Instagram da equipe (@manausfcesports, que conta com mais de 45 mil seguidores, é possível ter uma noção da rotina dos envolvidos, desde os treinamentos, divulgação das marcas que apoiam o time, entrevistas concedidas e, claro, a participação em diferentes eventos. Além disso, a equipe faz seletivas (peneiras) para descobrir novos talentos e, assim, seguir qualificando o elenco.

Como não poderia deixar de ser, o trabalho para se administrar todo esse calendário envolvendo o time de esports é bem cansativo. O responsável pela agenda da equipe esmeraldina é Johnny Cavalcante, de 29 anos, que apesar de todo o desgaste que o processo envolve, se sente satisfeito pelo crescimento do projeto.

“Eu sou o cara que organiza tudo e eles jogam (risos). A rotina é um pouco puxada, de acordo quando vai chegando os torneios, mas sempre tem treino, de segunda a sexta. Estamos em São Paulo para dar umas entrevistas, participar de eventos e amistosos de esports. Gratificante ver que estamos crescendo cada vez mais”, explica Johnny.

Quando perguntado sobre o interesse do público em acompanhar eventos de esports e o peso do Estado no cenário nacional, Johnny mostra a relevância que o Amazonas tem no meio, cada vez mais consolidado.

“Atualmente, o cenário de jogos eletrônicos do Amazonas é top 3 do Brasil. Existem muitas equipes dedicadas e com estrutura. Os eventos, onde é permitido público, já tiveram quase  5 mil pessoas antes da pandemia. Nos últimos dias, com a volta dos eventos presenciais, o público chega ao limite (200 a 300 pessoas)”, destaca.

Citado por Cavalcante, o evento que reuniu quase 5 mil pessoas foi o Geek Experience, realizado em Manaus e que, este ano, está em sua 3ª edição. O evento começou no dia 8 e encerrou no dia 17 deste mês de outubro.

Profissão: gamer

Com o interesse cada vez maior do público, empresas investem cada vez mais pesado para colocarem suas marcas em evidência no mercado. E como qualquer profissional em alta, o player surfa nessa onda, sendo cobiçado para fazer divulgação das mesmas ou ainda ser contratado para fazer parte de uma nova equipe.

“Atualmente existem grandes empresas e equipes nos jogos eletrônicos como Flamengo, Vasco, Cruzeiro, Kabum, Netshoes, Chapecoense, Remo, Santos e etc. O retorno financeiro e de marketing é gigantesco. As transmissões dos jogos batem 100 mil pessoas simultaneamente”, diz Johnny, dando mais detalhes sobre a quantia que pode ser conquistada em torneios de diferentes níveis.

“Existem diversas competições, desde amador, semiprofissional e profissional, onde a premiação varia de R$ 3 mil, R$ 500 mil, até mais. O calendário no mês é bem agitado e os jogadores realmente tem que ter tempo e dedicação para participar de tudo”.

Além da premiação por conta de conquistas, existem os players que vivem o sonho de muitos amantes de jogos eletrônicos: ser remunerado para, única e exclusivamente, se dedicar a jogar. E já existem manauaras que atingiram esse nível de sucesso, migrando para outras cidades para se tornarem integrantes de equipes de peso do país.

“LOUD e paiN Gaming são algumas das centenas (de equipes) que vivem muito bem de jogos eletrônicos. Existem mais ou menos 7 atletas de Manaus que jogam em São Paulo e vivem de jogos eletrônicos, com salário de 4 a R$ 6 mil”.

Experimentando o ambiente geek

Geek Experience está na terceira edição com sucesso – Foto: Divulgação

Organizador do Geek Experience, que aconteceu entre os dias 8 e 17 de outubro no Amazonas Shopping, Gabriel Brocki, 33, falou sobre motivação em realizar o evento, que está em sua terceira edição e tem campeonatos com pro players de Counter-Strike: Global Offensive, League of Legends e Free Fire.

“O que me motivou a organizar esse evento é a gente conseguir trazer esse cenário à vida uma vez mais, porque a gente teve a pandemia, mas mesmo antes dela, estava um pouco devagar. A MK junto com o Amazonas Shopping, decidiu voltar com o evento do Geek Experience e a MK a organizar o campeonato pro player”, declara o organizador, falando sobre os players manauaras que são referência atualmente.

“O cenário gamer manauara tem uma história que muita gente não conhece, que é muito grande e vem crescendo cada vez mais. Para se ter ideia, temos jogadores que já jogaram o mundial de CS (Counter Strike), temos o Titan, que hoje joga fora de Manaus, disputando o mundial de LOL e temos a AmazonCripz disputando a primeira divisão nacional de Free Fire”.

Apesar de toda a valorização e crescimento da modalidade, ainda há quem olhe para tudo isso e veja apenas mais um “simples” jogo de video-game.

“Tem gente que, primeiramente, não conhece o nome dos jogos. É ‘jogo de tirinho’, ‘jogo de bichinho’, como o pessoal fala. Mas, hoje já é considerado mundialmente um esporte e ele é muito bem remunerado, dependendo do nível que você chega. O que a gente resolveu fazer esse ano (no Geek Experience) foi justamente mostrar (os jogos)”, disse Gabriel, antes de prosseguir:

“No ano passado, os jogos foram organizados mais para o público geral do que quem realmente joga, de uma forma que ficou cansativa e pouco didática. Como um dos princípios da MK é ajudar as pessoas, crianças a se tornarem, quem sabe, pro player, criamos um processo de campeonato que nunca foi visto antes. Dividimos todos os jogos nos quatro dias do final de semana. Pela manhã é um jogo que está acontecendo, pela tarde é outro jogo e pela noite é outro jogo. Então a gente está fazendo um campeonato de counter strike, outro de free fire e também está fazendo um de league of legends. Com todos os jogos no mesmo dia a gente está chamando a atenção do cenário em si”, explica Gabriel mostrando que assim, os jogadores terão muito mais conhecimentos sobre os outros jogos.

Gamificando o futuro

Na contramão dos outros segmentos, o cenário gamer cresceu com a pandemia. Com o tempo de ociosidade causado pela Covid-19, os jogos eletrônicos se tornaram o ‘refúgio’ de pais, filhos e até mesmo dos próprios players.

Gabriel explica que a pandemia veio e freou a parte presencial e meio que, por uma surpresa, houve um ‘boom’ online. O mercado gamer foi o segundo mercado em crescimento no ano passado, pois as pessoas que não jogavam mais, ou que tinham outros compromissos, retornaram. “Para se ter ideia, players que estavam aposentados voltaram para jogar no Geek Experience”, revela Gabriel, que usou de sua paixão para realizar o melhor evento possível para os aficionados por jogos.

“Hoje temos patrocinadores muito fortes, pois não é um custo baixo. Todo mundo entrou de cabeça e fez com que fosse possível que esse evento acontecesse. Eu sou apaixonado pelo cenário gamer, então, quando o Amazonas Shopping me pediu ajuda, não pensei duas vezes em ajudar a organizar o evento e, o próprio campeonato, a gente não cobra coisa alguma. Reunimos pessoas do cenário gamer e conseguimos ajudar na viabilização do Geek Experience, através de um campeonato praticamente grátis, claro, esperando que isso dê retorno para os próximos”.

Atualmente com 33 anos, Gabriel conta que os videogames fazem parte de sua vida desde os cinco anos e que a prática de jogos é capaz de fazer muito pela saúde mental do ser humano.

“Sempre foi uma prioridade para mim ter um videogame. Estudei em colégios super difíceis e conciliei tudo, graças a muito direcionamento da minha mãe. Muita gente acredita que, quem joga, não tem muito futuro. Eu entendo o contrário. Acredito que o jogo, quando jogado de forma saudável, te ajuda na parte cognitiva, na sua estratégia de pensamento, aprendendo a se planejar. Existem cursos profissionalizantes, ambientes de business, CEOs e grandes corporações que estão aderindo à ‘gamificação’, que é transformar a sua didática em jogo, criando um ambiente competitivo”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação
Reportagem de Leanderson Lima

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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