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Celulares democratizam acesso ao cinema

Legenda 3 – Com o palhaço assassino, em ‘Sorria para mim’

Quando o cinema começou, há 126 anos, as câmeras eram tão grandes e pesadas que os atores tinham que encenar na sua frente pela dificuldade de locomovê-las. Ao longo das décadas elas foram diminuindo de peso e de tamanho e se tornando cada vez mais portáteis até chegar aos dias de hoje com os celulares. Ainda não é possível fazer cinema profissional com um celular (será?), mas a evolução tecnológica não para e já tem, sim, gente fazendo filmes, editando e sonorizando tudo na palma da mão.

Aos 10 anos de idade, Juan Lopes ganhou um celular de presente da mãe quando o espírito de cineasta baixou sobre ele.

“Filmar se tornou uma brincadeira para mim. Vivia fazendo vídeos com meus primos e amigos e cada vez mais aquilo me fascinava”, recordou.

Quando estava com 15 anos, com a curiosidade típica de adolescente, Juan percebeu que seus vídeos poderiam ser mais do que simples vídeos. Poderiam contar histórias, com atores, como no cinema. Com a facilidade disponibilizada nos tempos de hoje com os tutoriais no YouTube, o garoto começou a pesquisar as técnicas de se fazer cinema, como filmar, enquadrar, mudar os ângulos da cena, e foi mais além procurando saber como editar e sonorizar o material que filmava. No ano seguinte ele produziu seu primeiro curta, ‘A visita não identificada’, cujo roteiro foi dele, também.

“Iniciei com um filme de ficção científica e suspense, gênero pelo qual sou apaixonado, mas logo enveredei para os filmes de terror, que também gosto muito. Em 2018 criei o projeto Jumpscare (pulo de susto) que é uma série de curtas de terror”, contou.

Aprendeu nos tutoriais

Desde então, Juan já produziu sete curtas de terror e o mais recente, ‘O homem sem rosto’, foi lançado esta semana, depois de ficar estacionado desde o início da pandemia, em Manaus, no ano passado. O curta conta a história de Slenderman, um personagem criado por Eric Knudsen, em 2009, e que tem feito muito sucesso entre adolescentes na internet. Em ‘O homem sem rosto’ duas atrizes são as personagens centrais, Sthepanie Freitas e Kamily Quirino. Na realidade, apenas Sthepanie já tinha experiência com encenação, pois estuda teatro. Kamily é uma amiga de Juan, que ele convenceu a interpretar a personagem.

Sthepanie, Juan e Kamily no intervalo das gravações
Foto: Divulgação

Há dois anos Juan, para complementar o que já havia aprendido nos tutoriais, começou a participar de oficinas de audiovisual, hoje bastante comuns em Manaus, e evoluiu ainda mais em seu aprendizado. Dessas oficinas saiu o único filme no qual ele trabalhou com uma câmera profissional, ‘Sorria para mim’. Baseado no clássico ‘It: a coisa’, o palhaço de Juan, apesar de não ter uma cara maléfica como a de It, é tão assassino quanto ele.

Prova de que não há limites para nossos sonhos, Juan já filmou até um longa, com mais de duas horas de duração ‘Avni 2’, continuação de ‘A visita não identificada’, de 2019.

“Fui filmando, filmando, e quando editei deu mais de duas horas”, revelou.

Com o palhaço assassino, em ‘Sorria para mim’
Foto: Divulgação

O mais incrível do trabalho do rapaz é que ele faz as filmagens e a edição tudo num celular, não mais o que ele ganhou da mãe, mas um mais moderno, que ele comprou exatamente para que seus filmes tivessem uma qualidade melhor. Todos os roteiros, até agora, foram escritos por ele e baseados em histórias que viu ou ouviu, principalmente em filmes profissionais.

Tudo com o celular

Se no começo os atores de Juan eram primos e amigos, agora ele vai atrás de atores mesmo, ou futuros atores, pessoas que estão participando de cursos de teatro em Manaus.

“Vou aos cursos e fico olhando se determinado ator, ou atriz, se encaixa nos meus filmes, aí vou lá e os convido. Ninguém ganha nada. Meu trabalho é experimental. Não tenho nem computador para editar meus filmes, quanto mais para pagar alguém”, riu.

Nas filmagens o ‘cineasta’ vai acompanhado de ao menos três amigos para ajudá-lo na parte técnica, principalmente com o som, quando é necessário ajustar o microfone de lapela nos atores, ainda que em muitas cenas o som seja o do próprio celular.

Impressionam os vários ângulos usados por ele nas filmagens. Nada de câmera fixa. Tudo filmado com um único celular.

Na edição é que Juan mostra suas verdadeiras qualidades. Efeitos do começo ao fim e músicas sinistras que ampliam o suspense do filme.

“Pesquiso na internet para saber se aquelas músicas não têm direitos autorais, então as utilizo”, explicou.  

Juan gostaria de cursar uma faculdade de cinema, mas elas não existem em Manaus, então pretende fazer jornalismo para, ao menos, ficar mais próximo da arte que tanto gosta.

“Pretendo trabalhar com cinema. Atualmente ganho algum dinheiro fazendo edições para outras pessoas, mas o meu grande sonho é produzir webséries, e vou investir nisso”, avisou.

Produtora ele já tem, a Sr. Lopes Produções, com um canal no YouTube onde publica seus trabalhos. 

“Agora o caminho é me profissionalizar cada vez mais e realizar filmes de sucesso”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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