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Capital tem menor endividamento, na contramão nacional

Capital tem menor endividamento, na contramão nacional

O percentual de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês, entre outros meios de pagamento, caiu pelo nono mês seguido, entre novembro e dezembro, na contramão da média nacional. O mesmo não se deu entre as famílias inadimplentes e as que já admitem que não podem pagar. O endividamento segue maior para quem ganha mais, enquanto a inadimplência ainda castiga mais os que recebem menos. É o que mostram os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Na sondagem, 68,4% das famílias manauenses (441.268) se dizem endividadas, número inferior aos 69,8% de novembro e aos 76,9% de 12 meses atrás. Foi o menor percentual do ano registrado em nível local e também o valor mais baixo em 13 meses. Mas, só 11,9% do grupo esperam poder quitar a dívida totalmente e 32,2%, parcialmente – contra os respectivos 14,6% e 31,3% do mês anterior. Em âmbito nacional, o indicador subiu de 66% para 66,3%, na variação mensal, ficando também superior aos 65,6% de dezembro de 2019. 

Após o repique registrado no mês anterior, o índice de inadimplência na capital foi a 26% (163.126 famílias), subindo um pouco ante os 25,8% de novembro (162.947), embora tenha ainda ficado bem aquém do patamar de dezembro de 2019 (27,8% e 173.660). Em contraste, a taxa encolheu na média do país pela quarta vez, ante novembro de 2020 – de 25,7% para 25,2% –, embora tenha subido 0,7 ponto percentual na variação anual.

Após se manter estável, em novembro (13,8% e 86.932), a fatia correspondente às famílias que declararam não ter condições de quitar suas dívidas em atraso voltou a embicar para cima, em dezembro (14,5% e 87.028), registrando o pior número de 2020. A retração foi renovada, contudo, em relação à marca de um ano atrás (14,8% e 92.116). Em todo o país, o índice teve nova retração, passando de 11,5% para 11,2% – mas, seguiu maior do que o número do mesmo período de 2019 (10).

Tempo e dependência

A maioria dos manauenses entrevistados (45,4%) se assume “muito endividada” – contra os 37% registrados em novembro. São seguidos bem de longe pelos que se dizem “pouco endividados” (11,7%) e os “mais ou menos endividados” (11,3%), com níveis melhores do que os capturados na sondagem anterior (19% e 13,7%, respectivamente). Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos predominam na média do indicador.

O tempo de inadimplência mostrou aumento nos extremos, em Manaus. Em torno de 34,3% devem há mais de 90 dias – com destaque para os que ganham até dez mínimos (35,9%). A fatia de consumidores com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (48,6%) ainda é a maior e também subiu. Em último lugar está o grupo pendente há menos de um mês (17,1%), que também expandiu. Em novembro, os números foram 34,1%, 48,3% e 17,6%, respectivamente.

Uma redistribuição em menor grau se deu na estimativa de tempo para quitar as dívidas. Caiu o percentual que estima permanecer comprometido com dívidas por mais de um ano (33,8%). Em contrapartida o mesmo não se deu entre aqueles que dizem que levarão entre seis meses e um ano (38,7%) e os que estão pendurados entre três e seis meses (12,9%). Em contrapartida, o grupo que tem compromissos por até três meses (8,8%) aumentou. Os números da sondagem anterior foram 34,1%, 37,9%, 13,4% e 8,6%, na ordem.

Cartão e comprometimento

Em Manaus, o maior vilão do endividamento e da inadimplência ainda é o cartão de crédito. Mas, diferente da média nacional – que registrou alta –, sua participação no bolo se manteve estável em 79,3%, entre um mês e outro. Assim como em novembro, o percentual foi maior para os que ganham mais de dez mínimos (94,8%). Carnês (67,9%) estão na segunda posição, com predominância entre os mais pobres (70,3%). Crédito pessoal (35,8%), crédito consignado (13,7%), financiamentos de carro (4%) e de casa (1,3%), assim como cheques especial (1,2%) e pré-datado (0,6%), vieram em seguida.

Em média, as famílias da capital amazonense consomem 42,8% de sua renda para pagar dívidas – quase os mesmos 42,7% anteriores. Houve uma relativa piora na distribuição por níveis de comprometimento. A maioria (62%) já gasta mais da metade dos ganhos mensais com dívidas. São seguidos de longe pelos que gastam de 11% a 50% (27,7%) e pelos que limitam os dispêndios a 10% (3,1%). Em novembro, essas fatias foram de 60,7%, 28,5% e 2,9%, respectivamente.

A despeito do repique na inadimplência, o assessor econômico da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), José Fernando Pereira da Silva, considera que a retração no nível de endividamento e a estabilização na proporção global do uso do cartão de crédito para fechar as contas é um dado que motiva otimismo para 2021.

“De um modo geral, podemos asseverar que os dados apresentados pela pesquisa da CNC mostram, de uma forma bastante clara, que a economia amazonense ainda está se recuperando, embora lentamente. E, o que é mais importante, trata-se de um processo sustentável e efetivo, que nos remete a projetar um ano muito favorável para nossa retomada”, afiançou.

“Recomposição de renda”

Em material distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista da entidade responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, ressalta que o fim do auxílio emergencial, em janeiro, deve levar as famílias de menor renda assistidas pelo benefício a adotarem maior rigor na organização dos orçamentos domésticos. “O crédito pode voltar a funcionar como ferramenta de recomposição da renda, ainda no contexto de incertezas sobre a evolução do mercado de trabalho”, alerta.

No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, avalia que o crédito deve ganhar destaque na retomada da economia, em 2021. “É importante não só seguir ampliando o acesso aos recursos com custos mais baixos, mas também alongar os prazos de pagamento, para mitigar o risco da inadimplência no sistema financeiro. (…) Grande parte do crédito ofertado durante a pandemia foi concedido com carência nos pagamentos e deve começar a vencer no início deste ano”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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