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Caio Prado Jr. e a dialética da história, II

O pensamento social de Caio Prado Jr. tem por princípio solucionar um desafio: “compreender as condições, as características e tendências da revolução brasileira” (Octávio Ianni, 1994, A Ideia de Brasil Moderno).

Para Caio Prado Jr. o caráter central da revolução brasileira é compreender que o passado está impregnado no presente, são dimensões que se constituem no mesmo contexto à medida que não existiu uma superação histórico-estrutural de nossos dilemas nacionais. Não existiu um processo de superação radical e total. Mas “o Brasil Moderno, ao mesmo tempo em que se desenvolve e diversifica, preserva e recria traços e marcas do passado recente e remoto, neste e naquela região” (Idem, Ibidem).

Caio Prado Jr. destaca o aspecto do encontro entre o Fazendeiro e o Imigrante. Com o processo de abolição da escravatura, e a automática supressão da “força de trabalho escrava do negro”, é introduzida na formação social brasileira a figura do imigrante.

Ou seja, da força de trabalho que vinha da Europa e que trazia novas concepções de mundo, que de uma forma mais ou menos orgânica, que promoveria a revolução brasileira na sua totalidade. Quanto ao fazendeiro são introduzidas novas modalidades de trabalho social, como, por exemplo, o trabalho assalariado, redução da jornada de trabalho, alguns direitos, ou seja, direito que não eram considerados no período escravocrata anterior.

O processo de transformação passava a ter seu ambiente mais fértil na região do estado de São Paulo, onde a economia cafeeira estendia mais intensamente sua área de concentração e centralização.
Assim, estendia o desenvolvimento capitalista-acumulador propriamente dito. “A fazenda era gerenciada segundo as exigências da rentabilidade do capital, medida em termos de cálculo e perspectivas de ganhos. Desenvolvia-se o mercado interno e formavam-se as classes sociais no campo e na cidade. A forças produtivas e as relações de produção cresciam de forma acentuada nas regiões mais prosperas da cafeicultura” (Idem, Ibidem).

Com efeito, toda esta dimensão, desenvolvimento das forças do capital, compromete-se e articula-se com a formação de uma burguesia nacional. Caio Prado Jr. analisa que a burguesia brasileira em determinadas situações não comungava objetivos comuns e concretos, tendo em vista a não criação de um projeto comum, articulado e nacional. “A burguesia brasileira faz lembrar algumas características da burguesia prussiana, nos tempos das lutas pela unificação alemã, quando se acentua o desenvolvimento capitalista que ficará simbolizado na figura de Bismarck” (Idem, Ibidem).

Dada a peculiaridade da formação e consolidação do capitalismo no Brasil, que não contou com uma primazia e direção hegemônica da classe burguesa, uma vez que a burguesia era submissa ao imperialismo e aos interesses internacionais, Caio Prado Jr. destaca a função do proletariado e seu papel histórico e protagonista na direção da revolução brasileira; a aliança entre operários do setor urbano e os camponeses, enquanto força propulsora da revolução brasileira.

Assim, o processo revolucionário nasceria levando em conta a urbanização da economia; no movimento dos trabalhadores em âmbito local, regional e nacional; e no ponto de ruptura as relações internas e externas a partir de uma plataforma política revolucionária.

Por todos os motivos, isto é, devido à formação social brasileira, Caio Prado Jr. propõem um esboço do que caracterizaria uma revolução social brasileira: (i) diminuir e eliminar as desigualdades abertas pelas relações e estruturas sociais; (ii) eliminar as ambivalências entre classes sociais e composição racial; (iii) conter as desigualdades entre as regiões; (iv) superar os impasses movido pelo desenvolvimento desigual e combinado; (v) integrar o Brasil ao mundo moderno; (vi) socializar as conquista visando atingir a maioria do povo.

Com Caio Prado Jr., o pensamento social brasileiro toma fôlego, intensidade e renovação crítica, num processo de transformação intelectual, a fim de criar novas interpretações para a história e a sociedade brasileira como um todo. Caio Prado Jr. introduziu o método e teoria política do marxismo no Brasil com o propósito claro de interpretar a realidade nacional e criar possibilidade de uma transformação revolucionário-socialista comandada pela classe operária e trabalhadora.

Nesse sentido, Caio Prado Jr. aglutina a possibilidade de estabelecer um pensamento crítico; introduzir o pensamento marxista no horizonte intelectual brasileiro; incrementar novos esforços interpretativos no âmbito da historiografia; desafios práticos e teóricos no espaço da sociedade; e colocar a dimensão da militância e do ativismo político.

Caio Prado Jr. foi o pioneiro na introdução do pensamento marxista no Brasil, e com este fato foi mestre de um conjunto de intelectuais que ajudaram a pensar o Brasil e um projeto alternativo. Um projeto onde exista uma integração plena dos indivíduos a um modelo econômico coletivo, que leve em consideração a participação política, numa democracia substantiva; na possibilidade de uma cultura que leve em conta a diversidade e pluralidade no sentido de minimizar as alienações dos indivíduos e dos grupos e criar uma sociedade livre de toda espécie de exploração humana.

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]
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