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Cadê a defesa dos que já produzem orgânicos no Amazonas?

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Tenho observado um grande debate sobre projeto de lei que tramita no Congresso chamado de “pacote do veneno”. Entretanto, não vejo o mesmo movimento, não vejo qualquer debate para tirar da pobreza e melhor remunerar os agricultores familiares do Amazonas que já produzem sem agrotóxicos, sem “veneno”, o cacau, borracha, andiroba, piaçava, pirarucu de manejo, açaí, buriti, entre outros. O órgão que mais conhece de setor primário no Amazonas é indiscutivelmente o Idam, e foi justamente o Idam que, no auditório da FCA/Ufam, durante a Semana de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos no Amazonas, disse claramente que a “maioria dos agricultores do Amazonas não usa insumos químicos”. Então, o que estamos fazendo por esses produtores orgânicos que estão recebendo valor abaixo do custo de produção?

Com relação ao “pacote do veneno” seguirei sempre a ciência, em especial o que dizem os pesquisadores da Embrapa, empresa respeitada internacionalmente e responsável pelo avanço da produtividade no campo brasileiro. Contudo, regionalizando o debate sobre o uso de agrotóxicos ao Amazonas, Estado que tem 97% de seu território intacto, ou seja, sem “veneno”, aproveito as páginas do nosso centenário Jornal do Commercio para fazer algumas reflexões sobre o assunto. Repito, temos 97% do nosso Estado preservado com milhares de pessoas vivendo e produzindo nesse espaço sem uso de defensivos químicos, “venenos”, agrotóxicos, remédios, enfim, cultivando e colhendo alimentos orgânicos, mas sendo mal remunerados e absurdamente vivendo na pobreza, segundo dados do IBGE (49,2% na pobreza), Idam (maioria não usa insumos químicos) e o recente IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

Algumas reflexões

O principal órgão de Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural) no Estado é o Idam. É o único presente em todos os municípios do Amazonas. Pois é, o Idam já disse, claramente, durante a Semana do Combate aos Agrotóxicos, que a “maioria dos agricultores do Amazonas não usa insumos químicos” por não ter acesso nem dinheiro para comprar;

Só que esses agricultores estão vivendo na pobreza, mal remunerados pelo que produzem, com o pior IFDM entre os Estados do Brasil. Preservaram 97% da floresta em pé para viver em péssimas condições de saúde, educação e renda. Isso é justo? Claro que não, mas porque só o debate sobre o “pacote do veneno”?

O que tem feito o Amazonas, Brasil e o mundo com essa população que preservou 97% da floresta e que já produz alimentos orgânicos para que saiam da pobreza constatada pelo IBGE e IFDM?

Só observo um gigantesco debate (necessário) no Brasil, no Amazonas e no mundo em torno do “Pacote do Veneno” que tramita no Congresso, mas nunca vi no Amazonas, Brasil e em outros países a mesma força para defender a nossa gente que já vem produzindo, há décadas, alimentos sem agrotóxicos no Amazonas, mas que estão vivendo na pobreza. Isso não é justo, eles merecem o mesmo tratamento, a mesma defesa, ou não?

É inaceitável o atual preço pago ao produtor extrativista de borracha, cacau, açaí, andiroba, buriti, piaçava, pirarucu de manejo em nosso Estado. Todos esses produtos estão sendo comercializados com preço abaixo do custo de produção, repito, abaixo do custo de produção, sem agrotóxicos, sem “veneno”, portanto, é uma produção orgânica pessimamente mal remunerada. É só entrar no site da Conab para constatar esses preços. Não identifico, mas queria o mesmo movimento nacional e internacional para defender essa população que já vem produzindo sem agrotóxicos, mas estão na pobreza e mal remunerados;

No Amazonas, todo esforço deveria estar concentrado para remunerar dignamente esses produtores que o IDAM já sabe que não usam insumos químicos para que não mudem o modo de produção, caso contrário vão passar a usar por uma questão de sobrevivência. O segundo esforço deveria ser nos produtores que já usam agrotóxicos para que só usem produtos autorizados pelo Ministério da Agricultura (sabemos que isso não acontece, e bem perto de Manaus) e com o receituário agronômico (também sabemos que isso não acontece como deveria). Além desses dois pontos, o terceiro foco seria um esforço concentrado para ampliar o mercado das compras públicas, ainda inaceitavelmente pequeno e não remunerando como deveria. Nesses três pontos é que deveríamos concentrar nossos esforços, mas não é o que vem acontecendo. Qual será a razão?

Thomaz Meirelles

Servidor público federal aposentado, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected]
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