Segundo dados da Semasc (Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania), até o início deste ano, aproximadamente 800 pessoas viviam em situação de rua, em Manaus. Mas, o que leva uma pessoa a deixar o aconchego de um lar para viver ao relento, sob sol e chuva, dormindo nos bancos das praças ou diretamente no chão, sem poder tomar um bom banho e se alimentando de restos? Ainda, de acordo com a Semasc, são vários os motivos que culminam nessa situação, seja homem ou mulher, mas os principais são: desemprego; uso de bebidas e drogas e, por esse motivo, a rejeição da família.
Incomodadas com essa situação, quatro amigas resolveram se unir e fundar, em 22 de março desse ano, a Associação Albergue o Bom Samaritano Em Casa, no bairro de Aparecida, onde acolhem moradores de rua e fazem muito mais do que apenas acolhê-los.
Lúcia Sales do Nascimento, a presidente da Associação, Lucinalva Moreira de Medeiros, Rosemary Assunção Mello e Maria das Graças Abreu Silva têm algo em comum. Elas são voluntárias num trabalho de acolhimento, na Fundação Allan Kardec, que ocorre todas as segundas e quintas-feiras, quando há a distribuição de sopa para moradores de rua, na sede da Fundação, em Adrianópolis.
“Após essa refeição, é lido o Evangelho e depois conversamos com essas pessoas para saber mais sobre elas e se, de alguma forma, podemos ajudá-las. Um dia perguntei a um morador onde ele iria dormir naquela noite, após a sopa. Triste, ele respondeu que em alguma rua da cidade. Pedi a Deus que me desse uma luz para encontrar uma maneira de ajudar aquelas pessoas. Foi quando surgiu a ideia do Albergue, e desde então comecei a trabalhar nesse projeto. Isso foi há cinco anos”, contou Lúcia.
150 sopas
Em 2019 Lúcia estava com tudo organizado para inaugurar o Albergue, quando veio a pandemia e as ações permaneceram na estaca zero.
“O trabalho parou em 2020 e 2021. Somente em janeiro deste ano, voltamos com todo o gás. Em fevereiro alugamos este espaço, aqui na rua Xavier de Mendonça, 236, e o Albergue o Bom Samaritano Em Casa finalmente começou a funcionar. Tudo o que temos aqui dentro foi conseguido com doações de amigos”, revelou.
O Albergue está localizado por detrás do prédio da antiga Faculdade de Farmácia.
“O mesmo trabalho de distribuição de sopa, que fazemos na Fundação Allan Kardec, também é realizado por nós às quartas-feiras, à noite, nas proximidades do Relógio Municipal, quando atendemos cerca de 150 pessoas. Distribuímos de 150 a 170 sopas, 200 pães e 25 litros d’água. No Albergue atendemos todas as noites”, informou.
Lucinalva é a mais antiga do grupo atuando no preparo e distribuição de sopas. Há mais de doze anos ela faz isso na Fundação Allan Kardec, depois vem Lúcia, seguida por Maria das Graças, há oito anos, e Rosemary, há três. Maria das Graças é a única que ainda é empregada. As demais amigas são aposentadas e seu trabalho, agora, é deixar um legado de ajuda aos mais necessitados.
No Albergue foram criadas regras, que todos precisam seguir. A capacidade do espaço é para dez pessoas, por enquanto somente homens, mas um específico para mulheres já está sendo pensado pelas amigas.
“Começamos a atendê-los às 19h, e logo seguem para o banho recebendo toalha limpa e sabonete. Quando acontecem doações, também oferecemos shampoo, pasta e escova dental”, falou Lúcia.
Jantar beneficente
“Às 19h30, após o banho, conversamos com eles e lemos trechos do Evangelho. Às 20h é servido o jantar, cada noite um prato diferente. Depois, quem quiser pode ir dormir. Às 7h da manhã seguinte, precisam sair”, disse.
Cada albergado passa por esse processo de 90 a 120 dias quando, através de conversas, é realizado um trabalho de melhora de sua autoestima, de pertencimento, que possibilite seu retorno à família e de reinserção no mercado de trabalho.
“Começamos com cinco albergados, para três, com mais de 65 anos, conseguimos o Benefício de Prestação Continuada; um, estava nas ruas há 27 anos por achar que a família, lá do Sul, não o queria mais. Fizemos contato com a família, descobrimos que nunca o desprezaram, e ele voltou para sua cidade; outro se desligou. Um desses cinco, hoje, nos ajuda na distribuição de sopa”, lembrou.
Em busca de mais apoio e doações, as meninas do Albergue irão realizar o primeiro grande evento da instituição, um jantar beneficente, na sexta-feira, 18, a partir das 19h, na Fundação Allan Kardec (av. Mário Ypiranga, 1507). O valor do ingresso são R$ 50.
“Será um jantar, preparado por nós, para arrecadar recursos para o Albergue. Os interessados podem solicitar informações pelo fone: 3611-0458, das 8h às 18h”, concluiu.
Lúcia confirmou que várias pessoas e instituições já ajudam o Albergue, mas que doações são sempre bem-vindas, então, habilite-se doando roupas, alimentos, e material de higiene pessoal.
Evaldo Ferreira
Insta: @evaldo.am
Foto: Arquivo particular