11 de dezembro de 2024

Beiradão, ritmo do Amazonas

O beiradão surgiu de guitarristas e saxofonistas que se apresentavam nas festas dos beiradões do Amazonas, e se consagrou com Teixeira de Manaus.

Pelo mundo, nas mais diversas regiões do planeta, existem variados ritmos musicais. E não é que o Amazonas tem o seu próprio, o beiradão, como os demais, surgido por acaso. Na década de 1970, alguns músicos, de posse de uma guitarra ou de um sax, se aventuravam pelas comunidades do interior do Amazonas animando festas, e como se sabe, o ribeirinho vai para as festas com toda a disposição para dançar. Assim começou a formação do beiradão a partir de outros ritmos dançantes. Ícones desse período são Oséas da Guitarra e Magalhães da Guitarra, além de Chico Caju, com seu sax, entre outros, que se tornaram verdadeiros astros da música onde quer que chegassem, porém, só nos interiores, longe dos holofotes de Manaus. Quem realmente trouxe o beiradão para a capital foi o saxofonista Rudeimar Soares Teixeira, o Teixeira de Manaus. Quem ao menos não balançou o corpo ao ritmo contagiante que Teixeira de Manaus tirava de seu sax? Durante a década de 1980, o saxofonista, nascido na Costa do Catalão, atual Iranduba, invadiu as rádios de Manaus, e consolidou seu nome. Interessante que até aquele momento não se fazia distinção do ritmo, e era apenas mais um ritmo dançante. O tempo mostrou que o beiradão era único saído de uma mistura do carimbó, com o forró e ritmos caribenhos.

Nos últimos anos o ritmo tomou tal proporção que, em março deste ano, ganhou até uma data, 3 de outubro, instituída pela Lei nº 6.797, de 22 de março de 2024, pela Assembleia Legislativa do Amazonas. No ano anterior, através da Lei nº 6.448, de 22 de setembro de 2023, a mesma Assembleia Legislativa já havia declarado o beiradão Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Amazonas.

 

Inspirado no Teixeira

Roberto Rios, o Pop do Beiradão, junta-se às dezenas de cantores e bandas cujo repertório, em sua maioria, é de beiradão.

“Passei por vários ritmos. Comecei tocando guitarra, numa igreja evangélica, em 1984. Quando a lambada estourou, no início da década de 1990, conheci uns músicos (Alberlan/sax; Charles/teclado; Robertinho/guitarra) que queriam tocar lambada, então formamos a banda Atrasom, da qual fui o cantor. Nos apresentávamos naqueles barcos que vão para a praia do Tupé, no domingo, e no interior, Careiro, Terra Nova, Curari, Baixio, Puru-puru, tocando lambada, xote, brega. Foram cinco anos fazendo isso”, lembrou Roberto. 

Um dia, Roberto Rios estava tomando uma cerveja num Clube de Idosos animado pelo Grupo Rios, que só tocava boleros.

“Me ofereci para cantar com eles e acabei ficando oito anos no Grupo, de onde adotei o sobrenome Rios e o bolero, além do carimbó”, contou. 

Somente a partir de 2000, Roberto Rios incluiu o beiradão no seu repertório.

“Mas acho que o ritmo estava latente em mim desde a época do Teixeira de Manaus. Eu o via se apresentar, com sua banda, no Parquinho 2.000, na década de 1980, e achava tão bacana como eles tocavam bem”, recordou.

Hoje Roberto Rios tem um estúdio de gravação em sua casa, e como ninguém mais compra CD, ele grava clipes das suas composições e publica no seu canal, no YouTube ‘Roberto Rios no pop do beiradão’, inclusive tendo as músicas ‘Telezé’ e ‘Perfume da bota’ regravadas por outras bandas.

“É assim que divulgo meu trabalho e sou convidado para shows. Este ano completo 40 anos como cantor, mais de 20 dando destaque para o beiradão.

 

Portal do Beiradão

Hadail Mesquita, além de cantor e compositor de beiradão, foi além criando o Portal do Beiradão, no YouTube, para divulgar o ritmo amazonense.

“Sempre vivi da música. Cheguei a ter as bandas de forró Xacoalha e Bom de Pegada. Queria o forró, mas o forró não me queria. Na época da Copa de 2014, quando o pessoal de fora veio para cá perguntei o que tinha de cultura do Estado, aí fui pesquisar e existia o termo beiradão. O Governo do Estado vende o boi-bumbá como se fosse nossa cultura, mas sabemos que a brincadeira vem do Maranhão e do Nordeste”, falou.

“Naquele ano algumas bandas de rock começaram a entrar nesse nicho, mas não eram artistas natos, que cantavam na beira do rio. Eram da capital. Eu mesmo quando gravava meus CDs de forró colocava as músicas do Carrapicho e do Teixeira no final. O ritmo era chamado de forró beiradão”, disse.

“Foi então que o pessoal do interior começou a me ligar dizendo que havia gostado exatamente das músicas do Carrapicho e do Teixeira”, completou.

Hadail, ainda querendo ser famoso como cantor de forró, lançou, em 2018, o CD ‘Forrozão do Beiradão’, mas logo percebeu era o beiradão que o público queria e, no mesmo ano lançou o CD ‘Amazonas, o país do beiradão’, e não mais parou de se dedicar ao ritmo.

“Desde então venho me empenhando em divulgar o beiradão, congregando cantores e bandas. Hoje, entre 150 e 200 bandas têm clipes no meu canal, já realizei dois festivais e o Dia do Beiradão, 3 de outubro, foi uma conquista nossa. Nós lutamos para ter esse dia, que homenageia a data de nascimento do Chico Caju. Enquanto o público pedir, lutaremos por esse ritmo amazonense”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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