Pesquisar
Close this search box.

Bares e restaurantes registram alta de vendas, mas reduzem margem de lucro

Apesar de ainda sentir as dívidas acumuladas no período da pandemia, o setor de alimentação fora do lar vem registrando recuperação no Estado. A Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seção Amazonas) espera que os negócios continuem a receber mais clientes nos próximos meses, mas avalia que o ticket médio deve encolher, em virtude da inflação. Lojistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio relatam altas de até 30% nas vendas para o Dia das Mães, em virtude do declínio das estatísticas de Covid-19. Mas, o crescimento projetado para o Dia dos Namorados é três vezes mais baixo. 

Pesquisa divulgada nesta quarta (25), pela Abrasel nacional, confirma que 35% dos bares e restaurantes de todo o país trabalharam com lucro em abril, contra 28% que registraram prejuízo. E 73% disseram ter tido desempenho melhor no mês passado, quando comparado ao resultado de um ano atrás. O mesmo estudo revela, entretanto, que 78% dos estabelecimentos não estão conseguindo acompanhar o ritmo do aumento dos custos e queimando margem de lucro no processo. Ao menos 33% não promoveram reajustes no menu, e os outros 45% fizeram reajustes abaixo da inflação. 

Outra pesquisa da Abrasel mostra esse descolamento. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ficou em 1,06% em abril, segundo o IBGE. Houve uma desaceleração em relação a março (+1,62%), mas a diferença de custo entre a alimentação dentro e fora do lar continua ficando menor. A alta acumulada em 12 meses foi de 16,12%, no primeiro caso, mas não passou de 6,63%, no segundo.

Quando analisada a inflação dos alimentos e bebidas, que são os principais insumos para os bares e restaurantes, a diferença também é grande: eles aumentaram 13,47% no acumulado de 12 meses. No último mês, os alimentos subiram 2,06%, mas os estabelecimentos do subsetor seguraram o repasse. A média da inflação na alimentação fora do lar foi de 0,62%. A entidade ressalta que algumas capitais apresentaram deflação e chegaram a baixar os preços dos cardápios, a exemplo de Brasília (-0,10%), Fortaleza (-0,32%) e Rio de Janeiro (-0,38%).

“Ritmo de aquecimento”

Sem mencionar números, o presidente da Abrasel-AM, Rodrigo Zamperlini, avalia que os estabelecimentos de alimentação fora do lar tiveram um aumento progressivo no número de clientes nos salões. “Em janeiro o impacto da variante ômicron fez cair o faturamento no atendimento presencial, sem afetar o delivery. Mas, seguiu se recuperando até culminar com o Dia das Mães, quando houve um acréscimo expressivo, comparado com o mesmo período de 2021, sem esquecer que ainda existiam restrições de funcionamento no ano passado”, analisou. 

Zamperlini diz que a atividade segue “em ritmo de aquecimento”, e isso ocorre “em grande parte” pela sensação de segurança proporcionada pelos “bons indicadores no sistema de saúde relacionados à Covid-19”. O presidente da Abrasel-AM, reforça que isso trouxe mais público às casas e o retorno de atividades presenciais, que antes estavam em trabalho remoto. Também teria contribuído para o aumento da vontade da clientela de voltar a sair de casa e frequentar seus lugares favoritos, após dois anos de “muitas limitações de convívio”. 

Mediante a manutenção dos indicadores de saúde do Amazonas, a expectativa da Abrasel-AM é que os negócios continuem a receber mais clientes nos próximos meses, com o retorno do movimento no nível pré-pandemia. Mas, Rodrigo Zamperlini salienta que a instabilidade no cenário econômico vai comprometer os lucros e obrigar os empresários a se adequarem para sobreviver no mercado. 

“Com impacto na capacidade de consumo, ou seja, com a inflação e, principalmente, o reajuste nos preços dos alimentos, o ticket médio deve diminuir. Isso vai exigir dos empresários muita atenção na remarcação dos preços, que o nosso setor tem segurado como pode. Terá de haver adequações nos cardápios e promoções para atrair clientes com desejo de consumir, mas que estão com menos dinheiro no bolso”, avaliou.

“Demanda reprimida”

Na mesma linha, o sócio-proprietário do grupo Alemã, Raul Andrade, destaca que o Dia das Mães foi “excepcional”. No entendimento do empresário, o fator que pesou mais para esse resultado foi o efeito pandemia como válvula de escape para o consumidor. “Não tenho o número exato do crescimento agora, mas ele superou nossas expectativas. Havia muita demanda reprimida nos dois últimos anos. Neste ano, as pessoas estavam querendo, precisando mesmo, comemorar”, asseverou.

Andrade avalia que o cenário segue incerto para o segmento, mas ainda aposta em alta de vendas para a próxima data comemorativa. “Há muitas incertezas no cenário, como a inflação, que anda mais alta ainda nos alimentos. Temos quebra na cadeia produtiva e falta de produtos, além da guerra na Ucrânia, eleições e desemprego. Tudo isso assusta e inibe o consumidor. Esse Dia dos Namorados, caindo em um domingo, pode atrapalhar um pouco. Mas, acredito em um bom crescimento em relação aos últimos anos”, ponderou.

Proprietário do Salomé Bar e do All Night Pub, e suplente do Conselho Fiscal da Abrasel-AM, Rodrigo Silva, confirma que o Dia das Mães foi “muito bom” para a empresa. “Registramos um crescimento acima de 30% nas vendas, mas eu acho que ano passado ainda tinha um pouco de retração pela pandemia. Acho que, para o Dia dos Namorados, não vai ser tão bom assim, embora a gente ainda espere alta de 10%. Ao longo dos anos, ainda não sentimos redução do ticket médio. Mas, talvez descontando a inflação, tenha caído realmente”, arrematou.

Boxe ou coordenada: Dívidas atrasadas ainda pesam sobre as empresas

Outro fator de pressão sobre as empresas são as dívidas bancárias. Quase três em cada quatro estabelecimentos (71%) tiveram de contrair empréstimos durante a crise. Destes, 60% pegaram dinheiro de linhas regulares dos bancos e 65% captaram empréstimo via Pronampe. A Abrasel explica que há uma sobreposição, por causa de restaurantes que fizeram os dois tipos de empréstimos. Entre os que captaram dinheiro a taxas de mercado, há um índice de inadimplência de 32%, contra 17% dos que fizeram empréstimo via Pronampe.

“Mesmo com o faturamento voltando, ainda corremos riscos, em função do endividamento e da pressão dos custos. Muitos ainda estão pagando o preço das restrições e fechamentos durante a pandemia e precisam de ajuda para poder seguir com a retomada. Em função disso tudo, 45% têm atrasos com o Simples e a adesão ao programa de reescalonamento de dívidas, o Relp, tem sido boa”, concluiu o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, lembrando que o prazo de adesão ao “Relp (ou “Novo Refis”) se encerra em 31 de maio.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar