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Barbeiro à moda antiga

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Nos últimos anos as barbearias, ou salões masculinos, durante décadas sufocadas pelos cabeleireiros, mais direcionados para a estética feminina, sofreram um up, se modernizaram, ficaram na moda e voltaram a ser um bom negócio para os barbeiros e para quem deseja investir num empreendimento seguro. Para o barbeiro Edmilson da Costa Barreiros, a barbearia nunca deixou de ser um bom negócio. E ele já está no ramo há 61 anos.

Edmilson chegou a Manaus junto com os pais, em 1953, vindos de Manacapuru fugidos daquela que foi a maior enchente dos rios da Amazônia por 56 anos até ser superada em 2009. Então com 16 anos, no ano seguinte se alistou no Exército. “Foi lá que comecei na profissão de barbeiro. Um dia o comandante chegou e perguntou quem sabia cortar cabelos? Eu não sabia, mas me ofereci, afinal, no Exército, naquela época, era só cortar no zero”, riu.

Mas Edmilson se aperfeiçoou e quando deu baixa, numa Manaus de poucas oportunidades de emprego, resolveu seguir na profissão. “Tinha um amigo que estava vendendo uma barbearia, no Beco do Macedo. Era uma portinhola com uma cadeira de barbeiro e cinco bancos. Eu comprei. Fiquei lá um ano e meio até que foi inaugurado, em 1958, o Salão Paris, então o mais moderno de Manaus, no edifício Sombra, no famoso Canto do Quintela, na esquina da Sete de Setembro com a Joaquim Nabuco. Me convidaram para trabalhar lá e eu fui. Naqueles tempos a energia era racionada. Cada semana tinha energia numa determinada região da cidade. Na semana que tinha energia no centro, ligávamos o ventilador e usávamos as máquinas elétricas. Nas outras semanas o salão ficava com as portas abertas, para ventilar, e usávamos a máquina manual”, lembrou.

Seis anos depois, em 1964, Edmilson foi convidado para ir trabalhar num novo salão, o Imperial. “Ficava na Sete de Setembro, quase na esquina com a Getúlio Vargas. Nessa época já tinha energia em Manaus e esse salão possuía até ar-condicionado. Fiquei lá uns três anos até ser chamado para trabalhar num novo salão”, recordou.

Barbeiro há 61 anos

O novo salão ficava na rua Guilherme Moreira, quase esquina com a rua José Paranaguá. “Se chamava Salão Expedicionário, porque seu proprietário, Carlos Jovino Ribeiro, havia integrado a FEB (Força Expedicionária Brasileira), na Segunda Guerra Mundial. O prédio onde ficava o salão era dele e um dia, em 1968, ele recebeu a proposta do Bradesco para alugar o prédio, e alugou. Foi a primeira agência do banco, em Manaus. Então o Carlos Jovino alugou outro local, na Rui Barbosa com a Henrique Martins, e mudou o Salão Expedicionário para lá, mas há algum tempo eu já estava pensando em abrir meu próprio negócio”, revelou.

Pouco mais de um ano depois, em 30 de dezembro de 1969 (ele guarda a data), Edmilson comprou seu próprio salão, o Tropical, na rua Tapajós, onde continua até hoje, aos 80 anos de idade e ainda atuante. Ele mantém com orgulho o primeiro alvará de funcionamento do salão, de 1970, renovado anualmente até os dias de hoje. “O Carlos Jovino estava vendendo os móveis de seu salão e eu não perdi a oportunidade de montar o meu. Comprei esse espaço aqui e depois, em 1983, o andar de cima, ampliando o local”, explicou.

“Atuo na profissão há 61 anos e, se tivesse que recomeçar tudo de novo, escolheria a mesma profissão. Nunca me arrependi de ser barbeiro. Diria que é uma profissão com a qual você pode nunca ficar rico, mas também nunca vai faltar clientes e você pode ter uma vida satisfatória, se for profissional. Profissional é aquele que está diariamente no salão, bem arrumado, cheiroso, de bem com a vida, tratando cada cliente como se fosse um amigo seu, e realmente você acaba se tornando um amigo de seus clientes. Com o tempo gravamos o tipo de corte de cada cliente sem ele precisar explicar”, garantiu.
“Num salão de barbeiros muitas vezes o cliente vem para conversar, falar de coisas amenas, ou contar sobre algum problema, e você precisa estar preparado para simplesmente ouvi-lo, ou dar alguma opinião, se ele assim quiser. Tenho um cliente que começou a cortar os cabelos comigo quando era um bebê de um ano de idade. Hoje ele tem 61 anos e nunca deixou de vir aqui. Tenho outros que começaram adolescentes, ou adultos, e continuam até hoje, com mais de 70 anos”, revelou.

“Criei e encaminhei na vida meus quatro filhos: uma é delegada da Polícia Civil, e os meninos são procurador da república, jornalista e engenheiro elétrico. Sobre esses novos salões que têm surgido, são uma evolução do que já existia. Ao longo dos meus 61 anos de profissão também vi evoluções, sempre houveram evoluções, porque isso de o homem querer ficar ‘mais bonito’ não é coisa de hoje. Os barbeiros sabem muito bem disso”, concluiu.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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