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Bancos aumentam ainda mais os juros

Impulsionados pelos aumentos da taxa Selic e pelas incertezas na economia, os juros bancários voltaram a escalar em março. Segundo a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) foi a 15ª alta consecutiva e, mais uma vez, se deu em todas as modalidades de crédito. O aumento foi puxado pelo capital de giro (+4,94%) direcionado às pessoas jurídicas e pelo empréstimo pessoal em financeiras (+1,45%) voltado às famílias. O CDC para aquisição de veículos (+1,04%), por outro lado, teve reajuste arrefecido.

A nova rodada de reajustes foi precedida por aumento na inadimplência em operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional. Dados do BC (Banco Central) confirmam que a taxa geral avançou de 3% para 3,04% no Amazonas, entre fevereiro e março. Para as pessoas jurídicas, a taxa foi a 1,58% ao mês. No caso das pessoas físicas, ficou em 4,07% mensais. Mas o saldo das mesmas operações praticamente estagnou, com evolução de 0,13% para as famílias (R$ 25,44 bilhões) e recuo de 0,34% para as empresas (R$ 17,79 bilhões). 

O afunilamento na oferta de crédito contribuiu para que os saques à poupança batessem recorde em todo o país, de acordo com o mesmo BC. Apenas em março, os brasileiros sacaram R$ 15,36 bilhões a mais do que depositaram na poupança. A retirada líquida é a maior registrada para o mês, desde o início da série histórica, em 1995. Nos 14 primeiros dias de abril, os saques superaram os depósitos em R$ 5,92 bilhões. 

Diante desse quadro, a Anefac estima que o Copom deve promover um novo reajuste de 1 ponto percentual na Selic, na reunião desta quarta (4), elevando a taxa para 12,75% ao ano. Consideradas todas as elevações promovidas pelo BC, entre janeiro de 2021 (2%) e março de 2022 (11,75%), a taxa básica de juros avançou 487,50% (+9,75 pontos percentuais). No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas físicas ficou 23,756% (+22 p.p.) mais caro, ao passar de 92,59% para 114,59% anuais. Para as pessoas jurídicas, a elevação foi de 31,77% (+13,09 p.p.), saltando de 41,20% para 54,29% ao ano.

Alta generalizada

De acordo com a Anefac, o acréscimo médio no custo de dinheiro para as pessoas físicas foi de 0,92% (+0,06 p.p.). A taxa mensal foi reposicionada para 6,57% e os juros anuais ficaram 114,59%. Embora os juros cobrados em financeiras tenham registrado a maior correção, a modalidade mais cara de crédito voltado para as famílias segue sendo o cartão de crédito (+13,58% mensais) e a mais barata, o CDC para veículos (+1,95%).

No caso das pessoas jurídicas, o incremento no custo dos financiamentos foi de 2,22% (+0,08 p.p.) em março, em média. Com isso, os juros passaram para 7,57% ao mês e 140,05% ao ano. Apesar de ter registrado o maior reajuste, o crédito para capital de giro continua sendo a modalidade com menor remuneração mensal (1,70%). Na outra ponta está a conta garantida (7,57%), seguida de longe pelo desconto de duplicatas (1,78%). 

“Momento econômico”

O vice-presidente de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reafirma que os empréstimos bancários estão ficando mais caros em virtude da alta dos juros futuros no mercado financeiro e das expectativas de mais aumentos da Selic diante da inflação. Pressionada pela gasolina, a prévia da inflação de abril acelerou para 1,73%, ficando de março (0,95%). Segundo o IBGE, foi a maior variação do indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%) e o maior número para o mês desde 1995 (1,95%).

O ponto nevrálgico, no entanto, está nas perspectivas de piora nas taxas de inadimplência nos próximos meses. Segundo o vice-presidente de estudos e pesquisas da Anefac, essa expectativa seria favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, fim dos benefícios do auxílio emergencial, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos para emprestar. 

Indagado pela reportagem do Jornal do Commercio a respeito dos saques na poupança, Oliveira lembra que há vários fatores para tanto, mas assinala que a maior dificuldade para obter crédito, assim como o comprometimento da renda média pela inflação, tem levado as pessoas a resgatarem economias, ou até mesmo solicitar empréstimos de familiares e amigos para fazer frente ao dia a dia doméstico. 

“Os bancos estão muito seletivos nos créditos, por conta do endividamento muito elevado das famílias, com a inflação e os juros corroendo parte da renda. Mas, a questão está no momento econômico. Com essa subida de juros, a economia tende a crescer menos, e o desemprego também é um dos componentes. As pessoas precisam resgatar recursos guardados para sua sobrevivência e acabam recorrendo à poupança, entre outras opções. Há o fato também de que a aplicação passou a render menos”, explicou.

Risco repassado

A conselheira do Corecon-AM, ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, concorda que o aumento dos saques da poupança revela um panorama negativo para as pessoas físicas –e até certo ponto também jurídicas. “Isso reflete o cenário de comprometimento da renda das famílias e do elevado e persistente nível de endividamento. A tendência é que essas retiradas continuem em patamares elevados por causa da inflação e do cenário de incerteza”, prognosticou.

Na análise da Michele Lins Aracaty e Silva, os indicadores elevados de inadimplência pressionam os juros bancários, dado que os bancos repassam o risco de não receber os pagamentos em dia. “Constitui em uma relação diretamente proporcional que regula o mercado: juros bancários elevados inibem novos empréstimos no que tange ao atendimento da demanda da pessoa jurídica. Infelizmente, este cenário persistirá no próximo trimestre em função da instabilidade da economia e da inflação”, lamentou.

Consignado e penhor

Já o também conselheiro do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Júnior, reforça que o aumento dos juros bancários se deve essencialmente à alta da inflação, embora o aumento da Selic tenha ajudado a atenuar esse efeito ao refrear o câmbio. “Mas o encarecimento das commodities, em razão da guerra na Ucrânia, vai continuar pressionando os preços e vamos ter um ambiente de inflação e juros elevados, neste semestre. Infelizmente, isso provoca a diminuição do consumo, atividade econômica e geração de empregos”, considerou.

O economista lembra que o impacto da inadimplência é maior entre as pessoas jurídicas, refletindo também em uma subida mais forte nas taxas cobradas para estas –e possivelmente em um número mais elevado de encerramentos de negócios. Francisco de Assis Mourão Júnior também concorda que o quadro está levando as famílias a se desfazerem de patrimônio e retirarem dinheiro do banco. “Nesse momento em que os juros se encontram nesse patamar, as saídas são aquele empréstimo consignado, onde as taxas são mais baixas. Mas a modalidade é voltada apenas para funcionários públicos e aposentados. O jeito é recorrer ao capital investido, ou penhorar bens”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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