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Bancas de revistas ainda resistem

Houve uma época, e não faz tempo, que ‘todo mundo’ comprava gibis e revistas publicadas semanal, quinzenal ou mensalmente. As bancas, estabelecimentos que as vendiam, faturavam alto. Mas isso foi passando, passando e passou. Atualmente as últimas bancas existentes no Centro de Manaus, resistem vendendo água e refrigerantes, sorvetes, cigarros, cartões telefônicos… e alguns gibis e revistas.

Alberto Amaral do Nascimento é paraense. Veio para Manaus com dez anos de idade, há 62 anos. É proprietário de uma banca de gibis e revistas, o mais antigo ainda em atividade, há 45 anos no mesmo local.

“Eu trabalhei como chefe de balcão nas Pernambucanas e depois gerente na Importadora Havaí, loja de roupas do Josué Cláudio de Souza. Em 1976 comprei esta banca aqui (quase na esquina da av. Eduardo Ribeiro com a rua Henrique Martins) e deixei meu cunhado tomando conta”, lembrou.

Antes, gibis e revistas eram vendidos, em pequena escala, nas Livrarias Acadêmica e Brito, ambas na rua Henrique Martins. Em 1971, o empresário carioca Joaquim Margarido trouxe o conceito de bancas de revistas para Manaus, dinamizado a partir de 1974. Ele era sócio de Phelippe Daou e Milton Cordeiro, na Distribuidora Amazonas, empresa que representava as grandes editoras do país, localizadas principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. O arquiteto Severiano Mário Porto chegou a projetar bancas feitas com madeira.

“Durante dez anos meu cunhado tomou conta da banca, mas eu sempre estava aqui, trazendo as revistas, ficando quando ele não podia vir. Vendia muito. Na década de 1980 comprei outra banca aí do outro lado da rua”, contou. 

Campeãs de vendas

Amaral também comprou sua casa e sempre mudava de carro com o dinheiro que ganhava com as vendas de gibis e revistas.

“Todos os títulos vendiam bem, uns mais, outros menos, mas todos vendiam. Acredito que o título que mais tinha saída era a Veja. Ela era semanal e quando vinha com aquelas ‘capas bomba’ vendia 300 exemplares, rapidamente. Aí se politizou e perdeu a credibilidade”, explicou.

Entre as décadas de 1970 e 1980 outros títulos deixaram suas marcas pela grande vendagem que tinham. As semanais Placar, somente sobre esportes, e Amiga, com fofocas sobre os artistas da TV e novelas, vendiam 150 e 100 exemplares, respectivamente, cada vez que chegavam à banca de Amaral.

Outro segmento que fazia sucesso, principalmente entre os ‘marmanjos’, eram as chamadas revistas masculinas, com belas mulheres nuas, ou seminuas, nas capas já insinuando o que se apresentava nas páginas internas. Eram mensais.

“Se destacavam a Ele e Ela, com uma média de 100 exemplares vendidos a cada edição, e a imbatível Playboy. A Playboy chegava a vender 200 exemplares, dependendo de quem estivesse na capa”, revelou.

Mas imbatíveis mesmo eram os gibis, tanto da Disney quanto do Maurício de Souza. Muita gente aprendeu a ler, ou tomou gosto pela leitura, através daquelas pequenas revistinhas.

“Todos os títulos vendiam muito. Tinha cliente que chegava aqui e comprava todos os títulos lançados naquela semana, e não eram crianças não. Eram adultos mesmo”, disse.

Apenas um passatempo

Em 1991, com a inauguração do Amazonas Shopping, o primeiro ‘baque’.

“O Centro deixou de ser o centro das atenções. As pessoas passaram a ir para o shopping, e compravam seus gibis e revistas na única banca que existia lá”, contou.

Desde então, cada shopping que abria atraía mais público, e não faltava a banca de gibis e revistas. Ano a ano as vendas de Amaral, e com certeza as dos outros proprietários de bancas da av. Eduardo Ribeiro, foram caindo. A popularização do Iphone, a partir de 2007, com as informações a cada segundo, na palma da mão, no celular, foi o golpe de misericórdia no segmento.

“No auge das vendas, o portfólio da Distribuidora Amazonas chegou a ter entre 3.000 e 3.500 títulos. Hoje, tenho uns 20 títulos na banca e vendo uma média de 20 itens por semana. A pandemia nos quebrou de vez”, lamentou.

Até os extintos cartões de Natal faziam a festa dos donos de bancas.

“Só as vendas dos cartões de Natal, entre novembro e dezembro, representavam o faturamento de três meses da banca. Hoje não vende mais nenhum”, lastimou.

Para complicar ainda mais, sob o pretexto de padronizar as bancas na reforma feita na av. Eduardo Ribeiro, em 2016, pelo prefeito Arthur Neto, as antigas foram substituídas por outras.

“As bancas antigas eram do tempo do Joaquim Margarido, galvanizadas com forro protetor contra o calor. Essas padronizadas são de ferro, sem nenhuma proteção contra o Sol, têm goteiras, e são menores. As de antes mediam 5mx2m; estas medem 3mx1,25, e continuamos pagando o mesmo valor do Alvará para utilizar o espaço na rua”, informou.

“Hoje, vir para cá é apenas um passatempo para mim. Já estou aposentado. Enquanto der para eu vir pra banca, vou mantê-la aberta”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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