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Áureo Nonato, 100 anos atrás

Se vivo estivesse, Áureo Nonato dos Santos estaria completando 100 anos no dia de hoje. Mas quem foi Áureo Nonato dos Santos, ou simplesmente Áureo Nonato?

“Foi um dos grandes nomes da literatura amazonense. Sua contribuição foi ímpar através de seus livros, músicas, crônicas  e poesias. Ele nos deixou uma obra exemplar”, falou Geraldo dos Anjos, que desde 2011 ocupa a cadeira de nº 17, que pertenceu a Áureo Nonato, na Academia Amazonense de Letras.

Um dos livros mais conhecidos de Áureo Nonato, ‘Os Bucheiros – um memorial de infância’ é formado por crônicas, que ele publicou entre 3 de março e 24 de junho de 1981, no Jornal do Commercio. Quem quiser conhecer um pouco de como era a vida em Manaus na década de 1930, vale a pena ler ‘Os Bucheiros’. Nas crônicas, Áureo Nonato narra fatos de sua infância no bairro de ‘São Raymundo’, onde nasceu e conviveu com os bucheiros, moradores do bairro que viviam de vender as vísceras (o bucho) dos animais ali abatidos, no Curro Municipal.

Na infância, ainda em Manaus
Foto: Divulgação

Mas o Jornal do Commercio aparece bem antes na vida de Áureo Nonato. Foi nas páginas do impresso secular que o menino aprendeu a ler tendo como professor o pai, o cearense Antônio Branquinho, que era analfabeto, mas fez o que pode para que os filhos Áureo e Aurélio tivessem uma vida melhor do que a dele. Escreveu Áureo, em ‘Os Bucheiros’.

Aprendeu a ler no JC

“Lembro-me bem como o ‘seu’ Antônio Branquinho nos incutiu uma das coisas mais importantes para as nossas vidas: o hábito da leitura. Todas as noites, depois das verdadeiras sabatinas que nos impunha com as cartilhas do ABC e de Aritmética e do Primeiro Livro de Leitura, ele nos ‘obrigava’ a ler o Jornal do Commercio à época contendo 4 páginas. Numa noite eu lia a primeira e a segunda página; o Aurélio, a terceira e a quarta. Na noite seguinte ele fazia a troca. Quando não sabíamos o significado de uma palavra, ele nos dizia, com um ar bonachão e um tanto severo, apontando o dicionário em cima de sua mesa de trabalho: procure aí no ‘pai dos burros’. Ele que não sabia ler, era possuidor de uma memória prodigiosa. Eu o olhava com olhares de admiração”.  

Áureo Nonato fez seus estudos primários no Grupo Escolar Olavo Bilac, no São Raimundo, e cursou o primeiro ano ginasial no Colégio Dom Bosco.

Adolescente, com 17 anos, Manaus ficou pequena para Áureo Nonato. Essa trajetória ele conta em ‘Porto das catraias – um memorial da adolescência’.

‘O espírito de aventura do menino amazonense, já tendo completado dezessete anos, se aguçara a ponto de ter enfrentado o pai, olho no olho, fazendo-o ver que não era um simples empregado seu e sim seu filho, portanto, não iria mais, daquele dia em diante, trabalhar nos seus negócios de miúdos, no Matadouro e no Mercado Público de Manaus. Isto custou-lhe uma surra”.  

Não adiantou. O rapazola, com um documento falso que atestava ter 18 anos, se alistou no 27º BC (Batalhão de Caçadores) e, em 6 de fevereiro de 1938, dois meses antes de completar 18 anos, partiu de Manaus rumo a Santos, no navio Prudente de Moraes, junto com 96 outros rapazes de sua faixa de idade.

“Em 1940 mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou na Academia de Comércio Cândido Mendes. Entre 1941 e 1944 recolheu-se ao Convento dos Padres Franciscanos, em Petrópolis, mais tarde transferindo-se para o Seminário dos Padres Sacramentinos de Nossa Senhora, em Manhumirim/MG, mas desistiu da vida religiosa”, contou Geraldo.

50 anos depois

Em 1945 Áureo Nonato rumou para São Paulo, iniciando no jornalismo, no jornal ‘A Noite’. Trabalhou como revisor da Imprensa Oficial de São Paulo, e dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, onde também fazia reportagens. Em 1946, voltou para o Rio de Janeiro, exercendo o cargo de secretário geral do Teatro do Estudante do Brasil, fundado por Paschoal Carlos Magno. Foi secretário das seguintes companhias de teatro: Companhia Dramática Nacional, Companhia Dulcina-Odilon, Companhia Bibi Ferreira, Companhia Nicette Bruno e Paulo Goulart, além de redator teatral do jornal  ‘Diário Trabalhista’, e da revista ‘Vida’, tendo publicado reportagens, artigos e poemas em vários jornais e revistas cariocas.

Na juventude, vida agitada entre São Paulo e Rio de Janeiro
Foto: Divulgação

Depois de 22 anos, em 1960, veio a Manaus, onde promoveu o 1º Salão de Arte Moderna. Em 1963, idealizou e coordenou o 1º Fórum Sobre Amazônia, promovido pela Fundação Casa do Estudante do Brasil, sob a direção de Arthur Reis. Nesse período compôs as músicas ‘Manaus’ (1964), um segundo hino de Manaus, e ‘Tarumã’ (1966).

Em 1988, depois de ter partido 50 anos antes, Áureo Nonato voltou em definitivo para Manaus.

“Ele passou esses 50 anos em meio a intelectuais, escritores, teatrólogos e músicos, sendo um autêntico embaixador do Amazonas”, concluiu Geraldo.

Virgília, mãe; e Antônio, pai, analfabeto, mas ensinou aos filhos o gosto pela leitura
Foto: Divulgação

Áureo Nonato faleceu na capital amazonense no dia 23 de março de 2004, aos 83 anos, no asilo Dr. Thomas.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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