Estamos mesmos à mercê de criminosos. Assusta a quantidade de assassinatos que ocorrem a cada dia em Manaus. Corpos são encontrados esquartejados em igarapés, outros boiando, com sinais presumíveis de execuções. A população fica estarrecida com tanta violência, que prolifera nas áreas centrais e periféricas da cidade.
A morte foi banalizada. Ela ocorre em qualquer esquina. Pistoleiros chegam sempre na hora exata para fuzilar suas vítimas. São homicídios recorrentes que atingem adultos e crianças, em especial adolescentes cooptados como mulas e soldados do crime.
A situação mais ousada, estarrecedora, aconteceu no Parque dos Bilhares, onde seis pessoas foram encontradas desmembradas. Provavelmente, uma resposta das facções desafiando os aparatos policiais, espalhando o terror. O sentimento de insegurança é muito grande.
Quem não se lembra do pânico que atingiu Manaus e pelo menos três municípios do interior? Não faz muito tempo. Os bandidos sitiaram praticamente a cidade. Atearam fogo em logradouros públicos, incendiaram ônibus, enquanto a polícia (totalmente desnorteada), despreparada, manifestava impotência para controlar a situação.
As facções impõem um Estado paralelo, que mata, vilipendia e intimida até autoridades. Além do poder econômico, que corrompe representantes de instituições públicas, acima de qualquer suspeita, têm como trunfo uma outra carta na manga – a ameaça velada a familiares de quem ousa cruzar os seus caminhos.
Outro agravante. Os criminosos ditam suas próprias ordens. Um tribunal mata literalmente quem se opõe às suas regras. Cabeças são roladas. E o número de decapitados cresce assustadoramente.
A execução do filho de um traficante famoso ainda repercute em Manaus. Seu corpo foi encontrado sem a cabeça. As forças de segurança ocuparam as ruas da cidade para impedir a guerra anunciada por uma das facções rivais. O caso parece adormecido, mas a qualquer momento a situação pode explodir. Ou provavelmente já começou.
Estima-se que a nova onda de decapitados seja uma resposta a uma facção rival em retaliação à morte do filho do traficante. Com a polícia em prontidão, os criminosos reveem suas ações para continuar cometendo barbáries.
A Polícia Militar tem um déficit considerável em seus efetivos. Seriam necessários pelo menos 6 mil novos soldados só para patrulhar as ruas. O problema é que nem sempre o Estado está presente nas situações mais adversas, corroborando para o aumento da violência na região.
Vivemos momentos de muitas atrocidades. Manaus já está tomada pelo crime, a exemplo do Rio de Janeiro, onde nem a polícia, os aparatos policiais e as Forças Armadas são capazes de combater o crime.
Nessa guerra que se apresenta muito desigual, chegamos à constatação de que a criminalidade realmente venceu. Infelizmente, nada parece deter a ousadia de milicias, facções, que solapam e mantêm refém o poder instituído.
Perfil
Quem vai pagar a conta?
Já estão muito claras as articulações pró-Bolsonaro como estratégias pela reeleição. E isso é um fato. A PEC dos Auxílios, uma das bondades que antecedem as eleições deste ano, deixará como herança um gasto de R$ 7,7 bilhões ao próximo governo, impactando no Orçamento 2023. Os números são da IFI (Instituição Fiscal Independente), um órgão filiado ao Senado. Já céticos com a crise institucional, corroborando mais ainda para o descrédito nos políticos, grande parte dos eleitores não sabe ainda em quem votar, ora pendendo para o atual chefe do Planalto, ora para Lula, que mantém o favoritismo nas intenções de voto, apontam pesquisas.
E quem vai pagar a conta de todo esse rombo? Como sempre, a população brasileira, hoje massacrada por uma inflação galopante, que diminui o poder de compra até da classe média alta, teoricamente mais abastada economicamente. O arrocho se reflete a cada ida ao supermercado. O reajuste de preços nos alimentos já lembra a ciranda financeira que imperou nos anos 1980. Em Manaus, há pessoas que sobrevivem ganhando R$ 31 por dia (dados oficiais) – ou melhor, enganam o estômago. Felizmente, a redução do ICMS para 18% dá um certo alívio no varejo de combustíveis. Agora, a expectativa e se essas vantagens terão continuidade após a disputa eleitoral.
Fiscalizando
Ontem, o Procon-AM constatou uma redução de 4,9% na gasolina em postos fiscalizados nas zonas Centro-Sul e Norte de Manaus. O litro chegou a ser vendido a R$ 6,99 com o novo ICMS, cuja alíquota baixou de 25% para 18%. O Amazonas é um dos Estados que seguem a política federal para baixar os preços dos combustíveis. No entanto, outras regiões ainda continuam intransigente, não aceitando as recomendações, argumentando que a medida é eleitoreira. Mas o consumidor parece estar satisfeito.
Medidores
Mais um round na questão dos medidores, mas desta vez favorece à Amazonas Energia. O desembargador Airton Gentil, do TJAM, proibiu a Assembleia de enviar o projeto de lei que impede a instalação dos novos aparelhos para ser sancionado pelo governador Wilson Lima (UB). O magistrado atendeu a um recurso da concessionária. Ele alega que a proposta foi aprovada no legislativo estadual “de forma passional e açodada”, sem debates e atropelando etapas previstas no regimento. Complicado.
Fundeb
Mesmo com a bolada de R$ 1,3 bilhão em recursos do Fundeb, alguns prefeitos alegam que ainda não podem pagar o piso nacional dos professores, segundo o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB). A classe passou a ganhar R$ 3.845,63. Os municípios acumulam repasses de R$ 1,7 bilhão, disse o parlamentar, ontem, durante a sessão plenária da Assembleia Legislativa. Existe dinheiro, mas nem sempre os recursos chegam às mãos de quem realmente tem direito, engordando o bolso de gestores corruptos.
Reajuste
Ontem, a Câmara aprovou o reajuste dos subsídios dos servidores públicos da saúde e dos especialistas da área do quadro de pessoal da Semsa, do regime estatutário. Na mesma sessão, foi aprovado também o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração dos funcionários públicos efetivos da Área Não Específica de Manaus. A prefeitura alega que o objetivo é assegurar a “continuidade administrativa, a eficiência e a efetividade do serviço público”. Temos que reconhecer. A cidade tem se destacado no setor.
Javari
Criada para investigar as causas do aumento da criminalidade e de atentados na Região Norte, a Comissão Temporária Externa aprovou o relatório do senador Fabiano Contarato (PT-ES) sobre a diligência no Vale do Javari, no Amazonas, onde ocorreram os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo. O documento aponta que os crimes devem ser investigados de forma interligada e pede que a investigação seja federal. O mundo ainda cobra esclarecimentos sobre a barbárie.
Vacinação
A prefeitura reforça as medidas contra a Covid-19. Em vários pontos estratégicos de Manaus, haverá pelo menos quatro postos para vacinar a população contra a doença, que nos últimos dias vem registrando novas infecções. O prefeito chegou, inclusive, a divulgar um vídeo fazendo apelo para que as pessoas atendam ao chamado das autoridades, indo aos locais de imunização. O problema é que os negacionistas atrapalham o meio de campo, negando-se a serem imunizados. Muita ignorância.
Musical
Faltam poucos dias para a realização do maior evento sobre a Paixão de Cristo da Região Norte. O Musical Paixão pela Vida, da Igreja Presbiteriana, será apresentado de hoje a 10 de julho, às 19h, no Pedras Vivas, na avenida Pedro Teixeira, Chapada. O espetáculo é interpretado em Libras, com entrada gratuita. Pelo menos 800 voluntários estão envolvidos nos trabalhos. A apresentação retrata cenas da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Um bom momento para muita reflexão.
Inacreditável
Há gestores que continuam defendendo o garimpo ilegal na Amazônia. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), acaba de sancionar a lei que proíbe a destruição de equipamentos de garimpeiros apreendidos durante operações. O MPF avalia, porém, a medida como inconstitucional e acionou a PGR para deliberar sobre o caso. A proposta é do deputado estadual George Melo (Podemos). Tanto o parlamentar quanto Denarium são seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Está explicado.
FRASES
“Quem não deve não teme”.
Tony Medeiros (PL), deputado, cobrando explicações de gastos no Festival de Parintins.
“Ficamos particularmente impressionados”.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador, sobre visita ao Vale do Javari, no Amazonas.
