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Aspectos centrais sobre TI na gestão estratégica – parte 8

A complexidade de uma organização de ciência e tecnologia é tanta que dificilmente resultados satisfatórios podem ser obtidos sem o auxílio robusto da tecnologia da informação (TI). O desafio que os gerentes estratégicos têm é ver o panorama que se descortina no horizonte com desdobramentos futuros, ao mesmo tempo em que direciona a organização para o destino futuro desejado. Como a organização é a somatória de suas atividades meios e fins, é necessária tanto uma visão das diversidades que formam a unidade organizacional ao mesmo tempo em que coaduna essa visão com as necessidades do ambiente externo. Para quem imagina que dirigir uma instituição seja o mesmo que mandar, o papel da TI é relegado a apenas atividades simplórias de olhar cabos de dados, máquinas, equipamentos e softwares, desperdiçando a enorme potencialidade desses profissionais. Este artigo tem como objetivo mostrar como organizações de ciência e tecnologia de excelência usam a TI para se destacar de suas congêneres.

O desafio de toda gerência é definir o destino a que toda embarcação organizacional pretende ancorar. Em termos técnicos, é decidir que objetivo de longo prazo e a estratégia correspondente será seguida para que ali se aporte sem riscos desnecessários e com eficiência. Significa, portanto, definir hoje como o futuro será, apesar de toda a aparente presunção, por parte de quem não tem intimidade com a prática gerencial, de que os dirigentes institucionais queiram se colocar na posição de deuses.

A ciência tem demonstrado de diversas formas que o presente é a consequência de tudo aquilo que fizemos no passado – ou deixamos de fazer. Evidentemente que a força de ação humana é circunscrita pelas ameaças e oportunidades que o ambiente externo oferece, assim como os pontos fortes e fracos das organizações. É por isso que se diz que os gerentes constroem o futuro, mas o fazem de acordo com as possibilidades desses dois conjuntos de forças ambientais, de fora e de dentro da organização. Mas lidar com centenas e às vezes milhares de variáveis diariamente é sobrehumano. É aqui que entra o desafio que apenas pessoas com a formação e o conhecimento do pessoal de TI conseguem lidar.

Organizações de excelência têm o suporte do pessoal de TI para desenhar o futuro desejado e monitorar o comportamento de variáveis-chave do ambiente externo. Isso permite aos gestores tomar as decisões mais adequadas, agindo sobre as variáveis do ambiente interno, de modo que estas permitam o aproveitamento das oportunidades ou amenizem o impacto das ameaças que o ambiente externo geralmente provoca nas organizações. Apesar de profissionais de gestão terem conhecimentos e habilidades para lidar com essas situações,, os recursos, os meios, de que necessitam só podem poder ser disponibilizados pelo pessoal de TI.

Vejamos um exemplo. Certo instituto federal do Sul do Brasil elaborou um painel com várias variáveis que lhe permitia gerenciar com adequação o seu quadro de pessoal. O painel apresentava cenários resultantes daquelas variáveis em termos de questões cruciais para os gestores, como quantos professores se aposentariam ano a ano, quantos se afastariam, que disciplinas seriam as mais afetadas e assim por diante. Um docente de outro instituto federal queria saber sobre a possibilidade de redistribuição para um daqueles campi. A resposta foi clara e precisa: para a área que o professor se candidatava, um código de vaga só estaria disponível a partir de agosto de 2019 em certa cidade do planalto do estado.

Outro exemplo, agora de uma universidade municipal. O pessoal de TI criou um sistema que lhe permitia cruzar diversas variáveis do ambiente externo que permitissem aos dirigentes saber, hoje, com certo grau de probabilidade aceitável, quais as necessidades de seu ambiente de atuação para 20 anos no futuro. A partir dessas orientações os dirigentes fariam a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação, descontinuariam certos cursos que o sistema indicasse, investiria em infraestrutura para pesquisa e ensino, obteria competência em certas áreas e, com isso, ofereceria um leque de produtos e serviços para a comunidade, de maneira que pudesse obter as receitas necessárias para o financiamento dessas ações.

A gestão estratégica, como se pode notar, é a responsável por tudo o que acontece na organização a partir de seu relacionamento com o ambiente externo. É papel do diretor de campus e do reitor, por exemplo, fazer grandes parcerias e contratos de prestação de serviços, geralmente com prazos superiores a cinco anos. Essas decisões quase sempre envolvem o investimento de altas quantidade de recursos e dinheiro e os resultados a serem auferidos são muito superiores ao horizonte de cinco anos. Dito de outra forma, o futuro a ser construído é resultado de altos investimentos, com determinado nível de risco, para serem auferidos retornos em prazos superiores aos do investimento, mas quase sempre altamente significativos tanto em termos financeiros quanto de posicionamento.

Ora, sem que informações e dados precisos possam ser manuseados com adequação, as decisões tomadas correm sérios riscos de levar a resultados desastrosos. É por isso, por exemplo, que se multiplicam casos de prédios e instalações que ficam pela metade, obras pagas que nem saíram do papel, pessoal desmotivado, baixa produção técnica-científica-instrucional, indiferença do ambiente externo pela organização, dentre inúmeros outros exemplos de amadorismo gerencial. A razão disso, mais uma vez, é que o principal recurso não humano para o aperfeiçoamento gerencial está sendo deixado de lado, que é a TI.

TI não é mais sinônimo de mexer com objetos físicos ou virtuais. TI é lidar com inteligência, superdimensionamento da capacidade cognitiva humana com o auxílio da inteligência artificial, ambas direcionadas para a nebulosidade que é o futuro enquanto caminho que precisa ser aberto, iluminado e que permita ser trilhado pela organização e seus membros. O pessoal de TI é de uma importância fundamental que apenas as organizações do fracasso não conseguem perceber. Afinal, elas se contentam com as senhas e próxis que esse pessoal coloca por aí e não se incomodam se eles deixam os sinais de internet desligados nos finais de semana de trabalho…

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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