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As trapalhadas federais na floresta

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Sem credibilidade junto à população nem propósitos cívicos em suas medidas, os ocupantes do Planalto voltam a pilhar a Amazônia e a atividade econômica que aqui teima em resistir, há 50 anos, sob critérios legítimos de sustentabilidade e geração de emprego. Dessa vez, o ataque se deu através do Decreto nº 9.394, de 30 de maio de 2018, que altera a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados – TIPI. A compulsão tributária busca na região mais remota e empobrecida do país confiscar recursos para a máquina pesada, perdulária e falida de um Brasil travado pela inépcia e contravenção. A vítima é o setor de concentrados, de alimentos e bebidas não alcoólicas que congrega 25 empresas, faturou R$ 8,7 bilhões em 2017, com aquisição de insumos na ordem de R$718 bilhões, com robusta participação do mercado regional. O empreendimento utiliza extratos, aromas e açúcares de espécies regionais, com ênfase no guaraná e açaí, mobilizando uma cadeia que passa de 100 mil empregos, na capitaL e no interior, com seguidos recordes de desempenho na pauta de exportação.

Que outro segmento espalha mais oportunidades e benefícios nesta região esquecida? E se mais não diversifica e interioriza o desenvolvimento é porque o confisco federal tem usurpado em torno de 60% da riqueza aqui gerada. O Decreto sinistro inviabiliza um segmento agroindustrial que mais compartilha o desenvolvimento, diversifica a economia e gera mão-de-obra, sem depredar a floresta. Estudos da Suframa, em parceria com a UFAM, descrevem cenários sombrios dessa arbitrariedade. O segmento possui fortes encadeamentos econômicos com setores intensivos no fator geração de emprego. A sociedade brasileira se sente sufocada e abomina tantas mazelas e mal-feitos na gestão pública, na rotina exaustiva do cidadão que trabalha, que investe e recolhe taxas, impostos e os achaques mais abusivos do planeta. Por que precisamos pagar uma conta que este paradigma perverso de gestão do Brasil contraiu?

A biondústria dos concentrados nos remete ao início dos anos 70, com dois pioneiros da resistência, Antônio Simões e Petronio Pinheiro, discípulos de Cosme Ferreira e alunos da pedagogia salesiano de São João Bosco. Eles foram escolhidos pela Coca-Cola Company para gerir essa grife simbólica na Amazônia, que se transformaria na 3ª maior fábrica do mundo. Depois, com o ingresso de Osmar Pacífico, eles apontaram o rumo de uma economia inteligente, regional, geração intensiva de empregos e atenta aos critérios ambientais. Ambos fizeram escola na Associação Comercial, a árvore mãe das entidades e a escola de empreendedorismo, que se materializou na Companhia Nacional de Borracha, Companhia Nacional de Guaraná, e de Plantações, embriões futuristas do mestre Cosme Ferreira que estimulam as bases de uma discussão essencial: o investimento em inovação tecnológica para implantação da bioindústria, que diversifique o parque fabril, com integração urgente e inteligente entre academia e setor produtivo, a revisão de uso dos recursos das empresas para Pesquisa & Desenvolvimento, a qualificação técnica e o fomento de novas cadeias produtivas. E assim se descreve o tamanho da trapalhada federal em deletar o setor de concentrados e alimentos. Depois de recolher das empresas de Informática R$2,4 bilhões nos últimos 5 anos, e deixar na região menos de 1% dessa preciosa e decisiva riqueza, o Planalto Central, vesgo e inepto, na caça e captura de recursos para disfarçar seus estragos, ataca o sonho empreendedor de nossos pioneiros, fortalece a economia do narcotráfico e confirma que este país vive de costas e de cócoras para nossa gente.

*é escritor e consultor do Cieam – [email protected]

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
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