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As salas de cinema do Centro de Manaus

1895 é o início oficial do cinema, quando os irmãos Louis e Auguste Lumière projetaram um filme pela primeira vez, em um café, em Paris. Pouco tempo depois a invenção chegava a Manaus, em 11 de abril de 1897, quando películas de poucos minutos foram exibidas no Teatro Amazonas.

O cinema, nos moldes que conhecemos hoje, começou em 1907, com a inauguração do Cassino Julieta, pelo engenheiro Lauro Bittencourt. O prédio foi projetado por ele mesmo na esquina das avenidas Getúlio Vargas com Sete de Setembro. Pelo nome, pode-se presumir que o empresário apostou na novidade, mas com os pés seguros num cassino, então, na moda. Em 1912 o Julieta mudou de nome para Theatro Alcazar, e continuou a exibir filmes. O nome que consagraria o prédio para a história surgiu em 6 de agosto de 1938 quando ele passou a se chamar Cine Theatro Guarany. O prédio foi demolido em 1984.

“Nunca a demolição de um prédio causou tanta comoção na população manauara quanto a do Guarany. Acho que porque aquelas pessoas que lamentavam o seu fim tinham vivenciado momentos de grande felicidade nas exibições acontecidas naquela sala por quase 80 anos”, explicou Ed Lincon Barros, pesquisador das histórias dos cinemas de Manaus.

Guarany, comoção popular pela demolição do prédio – Foto: Divulgação

A partir do Julieta, outros cinemas surgiram no Centro. Em 1912 foi a vez do Cine Theatro Polytheama, também na esquina das avenidas Getúlio Vargas com Sete de Setembro, de frente para a lateral do agora Theatro Alcazar. Fechado em 1973, o Polytheama mantém até hoje a fachada original dos tempos em que foi uma das maiores salas de cinema do Centro.

Salas na avenida

Em 1912 surgiram as grandes produtoras cinematográficas em Hollywood e Manaus se preparou para receber seus filmes. Em 1913 foi inaugurado o Cine Odeon, na esquina das avenidas Saldanha Marinho e Eduardo Ribeiro.

“Esta avenida, inaugurada há pouco mais de dez anos, se tornara o centro das atenções da cidade e o comércio para lá convergia. O primeiro prédio do Jornal do Commercio, inaugurado em 1904 e demolido em 1942, ficava a poucos metros do Cine Odeon. Um segundo prédio foi construído no ano seguinte e demolido em novembro de 1982”, lembrou Ed Lincon.

“Esta sala de cinema ficou conhecida como ‘a pérola da Avenida’, porque estava situada numa posição privilegiada e era um belo prédio. Depois sofreu uma reforma e adquiriu um visual de gosto duvidoso. O cinema deixou de funcionar em 1973. Hoje, no local, está o edifício Manaus Shopping Center, o primeiro shopping de Manaus, inaugurado em 1976.

Por mais de 20 anos essas três salas de cinema foram os locais de diversão dos manauaras cinéfilos. Nos anos de 1930 a indústria cinematográfica de Hollywood começou a produzir os grandes clássicos: ‘A dama das camélias’, ‘E o vento levou’, ‘O mágico de Oz’ e ‘O morro dos ventos uivantes’, entre vários outros. Em Manaus, em 1936, foi inaugurado o Cine Avenida, também na Eduardo Ribeiro.

“Existiram dois outros Cine Avenida, um de 1909 e outro de 1912, mas duraram pouco tempo. O que se perpetuou mesmo foi o de 1936, que se tornou o cine da elite baré. O Avenida fechou suas portas, em 1973, mas nas suas telas foram exibidos sucessos mundiais do cinema. Apesar de o Avenida ser considerado uma sala frequentada pela elite da cidade, como as demais, nada tinha de especial ou confortável, com cadeiras de madeira e ventiladores para refrescar o ambiente”, revelou.

Marinho e a segunda fase

“Considero que, em 1984, com a demolição do Guarany, se encerrou o primeiro ciclo das salas de cinema do Centro de Manaus, combalidas e fechando uma a uma após o surgimento da televisão, em 1970. No início da década de 1980, porém, as pessoas já estavam acostumadas com o novo veículo de comunicação e se voltaram novamente para o cinema, até porque o empresário Joaquim Marinho, começou a inaugurar uma sala atrás da outra e lançando simultaneamente, em Manaus, grandes filmes lançados no Brasil”, contou.

Em 1977 foi inaugurado o Cinema Dois, na rua José Clemente e, dez anos depois, em 1987, o Cine Qua Non, na avenida Joaquim Nabuco, ambos do empresário Jesus Woo Leong. Também, em 1977, no Manaus Shopping Center, foi inaugurado o Studio Center, sala que funcionou até 1989, mas foi com a inauguração do Cine Chaplin, em 1980, que surgiu, segundo Ed Lincon, a segunda fase das salas de cinema da cidade.

“Marinho chegou a ter dez salas de cinema, sempre homenageando artistas da sétima arte colocando seus nomes nas salas: Chaplin (ele solicitou autorização de Geraldine Chaplin, filha de Chaplin, para usar o nome de seu pai, no que ela autorizou), Grande Otelo (o ator veio a Manaus para a inauguração), Oscarito, Carmem Miranda, Cantinflas (o ator mexicano não veio a Manaus porque tinha medo de viajar de avião), e Renato Aragão (que veio a Manaus meses após a sala ser inaugurada)”, informou.

Em 1991, com a abertura de três salas de cinema no Amazonas Shopping, o público cinéfilo do Centro passou a se direcionar para lá. Marinho ainda aguentou mais dez anos. Em 2002 ele fechou a última das suas dez salas, exatamente a primeira que inaugurara, o Chaplin. Ainda continuou com o Cine Oscarito, exibindo apenas filmes pornográficos e, para não ‘sujar’ o nome do grande comediante brasileiro, mudou o nome da sala para Premiére. Em 2012, esta sala fechou em definitivo.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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