Pesquisar
Close this search box.

As ideias fora do lugar

https://www.jcam.com.br/Breno Rodrigo.jpg

Nos últimos dez anos houve uma verdadeira hecatombe no mercado editorial com a publicação crescente de livros de autores liberais e conservadores no Brasil. Editoras como Record, É Realizações e Vide Editorial apresentaram ao grande público pensadores outrora desconhecidos dos leitores comuns. Com traduções e edições muito bem elaboradas, Eric Voegelin, Theodore Dalrymple, Thomas Sowell, Michael Oakeshott, Christopher Dawson, Roger Scruton, Friedrich von Hayek, Ludwig von Mises, José Oswaldo Meira Penna, José Guilherme Merquior e Mário Ferreira dos Santos etc., passaram a constar frequentemente nas listas de best-sellers, dos sucessos editorais para além das publicações universitárias já conhecidas.

Tal crescimento admirável se deve fundamentalmente à demanda dos leitores e à iniciativa das editoras de investirem pesado num nicho de mercado até então marginalizado quer pela pouca procura, quer por ignorância, ou, pior ainda, por algum tipo de ostracismo ideológico imposto pelo establishment acadêmico.

Para além do debate em torno do liberalismo, conservadorismo, catolicismo, protestantismo, tradicionalismo, comunidade, modernidade e relações internacionais, esta literatura sistematiza uma profunda crítica aos princípios revolucionários abraçados pelas ideologias que sondam os espectros da esquerda política.

Quando analiso bem o conteúdo crítico da tradição liberal e conservadora, percebo a insistência de refutar a teoria dominante, a cultura marxista e seus derivados.

Invariavelmente, esta tradição tece uma crítica substantivas ao marxismo e herdeiros. E as críticas passam pelas mais diferentes instâncias: crítica às teorias econômicas de Karl Marx, e a inviabilidade econômica de um modelo planificado ou auto-gestionado; críticas às expressões igualitaristas que pretendem nivelar toda a comunidade humana a uma condição de igualdade plena e absoluta, ou seja, em uma ordem coletivizada pelo partido revolucionário ou pelo Estado, o novo espírito absoluto; por fim, a crítica à ciência do marxismo, isto é, à sua base filosófica – o materialismo histórico – e o emprego de seu método dialético na investigação/transformação do status quo, da ordem burguesa.

Ao concentrarem esforços para o bom combate contra as ideias de Marx, se esquecem que o movimento revolucionário tem vários tentáculos e fronts de luta que não seguem necessariamente a lógica do antigo marxismo, da luta revolucionária do proletariado e do socialismo de caserna experimentado ao longo do curto século 20.

Desde a década de 1970, uma Nova Esquerda tem tomado forma e conteúdo no cenário político internacional e nacional.

Em linhas gerais, a Nova Esquerda apresenta uma agenda diferente da tradição marxista clássica, pois foca a sua estratégia na defesa de causas de minorias sociais – negros, índios, imigrantes, mulheres, homossexuais, travestis etc. -, e não mais no proletariado, a classe social universal da revolução, os coveiros do capitalismo.

Assim, a Nova Esquerda está muito preocupada com os modos de vida alternativos ao capitalismo, mas que não é o socialismo planificado do passado, daí a preocupação com a sustentabilidade ambiental, a economia de recursos renováveis, economia solidárias entre outras invencionices.
Finalmente, as ideias da Nova Esquerda incentivam as estratégias inovadoras com atores políticos não-tradicionais, pois usam as redes sociais, movimentos sociais, movimentos de ocupação, ONGs, etc., como meios de participação política ativa, e não mais os partidos políticos ou os sindicatos, como na antiga tradição revolucionária.

A crítica agora precisa está voltada a esta nova esquerda; uma esquerda pós-moderna e de classe média alta, escolarizada, descolada, formada por jovens brancos e mimados, e que não entendem – e não querem entender – nada sobre Marx. Nesse sentido, trata-se de uma esquerda pós-marxista, visto que os seus novos gurus são Michel Foucault, Jacques Derrida, Noam Chomsky entre outros pensadores não-marxistas.

Eis o futuro da esquerda e que deve fazer parte do escopo de preocupações daqueles que querem estar antenados com as novas tendências políticas do marcado.

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar