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Artigo – A leitura como instrumento de libertação

Ler e escrever são aspectos fundamentais para que as pessoas compreendam as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais ocorridas no mundo globalizado. Portanto, o ato de ler é extremamente importante para a formação do cidadão prevista na LDBEN. Tal assertiva esta de acordo com o art, 32, inciso l, do referido instrumento jurídico, que diz “[…] o objetivo da formação básica do cidadão é o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo […]”.

Para os autores deste artigo, a leitura não é apenas um ato de devorar, acriticamente, as palavras.”[…] nem um simples ato de decodificação de signos, nem um processo mecanicista, […] sem ligação alguma com a realidade”, no pensar de Luckesi, mais sim, um ato político de discernimento das práticas humanas.

Para tanto, o gosto pela leitura deve ser cultivado desde a tenra idade do indivíduo. Compreendemos que a educação familiar, sequenciada pela educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental são a base do indivíduo à construção de sua cidadania.

Parafraseando Freire, o mundo não é algo acabado, o mundo está em constante devir. O indivíduo que não exerce a leitura do mundo dificilmente compreenderá a leitura das palavras pela própria sincronia existente entre estas práticas humanas.

A leitura suscita a necessidade de familiarizar-se com o mundo, enriquecer as próprias ideias e ter experiências intelectuais. O ato de ler envolve uma direção da consciência para a expressão da escrita gerando pensamento e significado.

O ato de se atribuir um significado ao discurso escrito passa a ser, então, uma via de acesso à participação do indivíduo nas sociedades letradas. Daí a importância de uma instituição formal que objetiva facilitar a aprendizagem não só do falar e ouvir, mas principalmente do escrever e ler. Para Vasconcellos, “uma escola democrática é capaz de colaborar na formação de um sujeito crítico, intelectualmente independente […] voltado para a transformação da sociedade”.

O aluno ao entrar na escola já traz experiências de mundo que o rodeiam independente do domínio da leitura, e o que se observa é que a escola não desenvolve essa experiência de leitura dentro de uma perspectiva mais ampla.
Silva afirma que “[…] o ato de ler e escrever revelam o conhecimento que o sujeito, até o momento, elaborou sobre determinado objeto da realidade. A língua falada e escrita pode ser entendida como um instrumento a ser utilizado para manifestar a compreensão da realidade social, política, econômica e cultural”.

As atividades de ler e escrever fazem parte do desenvolvimento geral da linguagem e não podem ser encaradas como processos isolados, pois ambas constituem manifestações da linguagem codificada pelo aluno.
O processo de decodificação do texto impresso, desenvolvido com um determinado objetivo, revela a superficialidade com que a leitura é tratada por alguns professores alfabetizadores que mesmo após as leituras, os estudos e os debates, mostram-se refratários a concepção inovadora de leitura tomada como processo de atribuição de significado.

Segundo Paulo Freire, “ler o mundo não significa postergar os clássicos ou a literatura clássica ou moderna. Fazem parte do mundo do acervo cultural”. Por isso, devem ajudar-nos a crescer. A leitura nos ajuda a entender melhor o mundo e nos transforma com maior segurança em sujeito da história. O ato de criticar torna-se mais profundo e abrangente, persegue o ideológico, os não ditos, o silêncio. A negação desse sujeito histórico, em contrapartida, produz em larga escala o sujeito a-crítico e irresponsável.

A leitura crítica sempre leva a produção ou construção de um outro texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera expressão: o desvelamento do ser do leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um simples processo de apropriação de significado; a leitura crítica deve ser caracterizada como um projeto, pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser no mundo, dirigido ao outro.

Ler não é resumir e decifrar caracteres, distinguir símbolos e sinais, unir letras e emitir sons correspondentes. Ler é muito mais um trabalho de hermenêutica, ou seja, de interpretação da mensagem, atribuir a ela uma vivência pessoal e interiorizá-la.
A leitura faz parte da rotina
diária do aluno e ele não espera receber instruções de outra pessoa para iniciá-la. No entanto, na escola, alguns alunos ficam bloqueados, engessados para a leitura, principalmente, quando são apresentados textos pouco significativos para eles. A sala de aula deve dar continuidade a leitura prazerosa, aquela que estimula o aluno, que aguça sua curiosidade e ilumina sua criatividade. Dessa maneira, o aluno torna-se leitor atento e observador desde que o material a ser lido seja interessante e desafie sua inteligência.

Como dizem Sampaio e Leite “[…] o processo de alfabetização não objetiva apenas formar leitores, mas também produtores de textos, sujeitos que sejam autores da palavra e se tornem também co-autores do processo de transformação social”. Em outros termos: a leitura deve fazer com que o aluno seja capaz não somente de decifrar códigos, mas também ser leitor crítico, que interprete e construa significados naquilo que lê e naquilo que escreve, assumindo uma postura crítica frente à realidade em que se insere.

Em síntese, quem não lê é desinformado; quem não lê é subserviente; quem não lê é massa de manobra nas mãos dos políticos corruptos que se aproveitam do nível baixíssimo de escolaridade da população para se perpetuar no poder, objetivando se locupletar com o dinheiro público.

RUBENS CASTRO é professor adjunto da Ufam e
FRANCISCO CHAGAS PARENTE JUNIOR é mestre em Educação e técnico da Ufam/Faced

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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